Independentemente de posições políticas e ideológicas, o jornalismo deve cobrir a agenda dos direitos humanos na perspectiva das políticas públicas. Ativismo ou questões de ordem subjetiva não podem impedir que comunicadores cumpram o dever social de promover diversidade de vozes e pluralidade na esfera pública. A opinião é de Guilherme Canela, assessor de comunicação da Unesco, que, em entrevista a Opera Mundi, defende que jornalistas precisam cobrir assuntos relacionados aos direitos humanos para além de casos isolados que apenas ajudam proliferar senso comum.
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“Se o profissional da imprensa faz militância ou tem interesse pessoal em temas como feminismo, direito da criança, etc, isso não impede que ele possa fazer bom jornalismo, que é basicamente discutir e apresentar à sociedade assuntos de interesse público, como os direitos humanos, apresentando vários pontos de vista para o problema”, analisa.
A violência contra mulheres, afirma Canela, é um exemplo de como a comunicação social precisa estar atenta às questões dos direitos humanos como parte de uma agenda essencial para sociedade.
“Esse assunto [violência contra mulheres], por exemplo, interessa pelo menos 50% das pessoas, em uma conta matemática rasteira que supõe que todos os homens não se interessam pelo assunto – o que claramente não é o caso. Então, como falar de um bom jornalismo que ignora um assunto relevante para pelo menos 50% da população? Isso independe se esse jornalista é feminista ou não”, afirma.
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Para Guilherme Canela, a sociedade está acostumada a receber de parte da imprensa “uma perspectiva estilizada de direitos humanos”, ou seja, descontextualizada e fora de um entendimento mais amplo do conceito.
Opera Mundi TV
Guilherme Canela acredita que cobertura dos direitos humanos precisa ir além de perspectiva isolada e factual
“Os direitos humanos definem quem somos como sujeitos e nos diferenciam de outros animais. Fazer jornalismo sem falar disso é não fazer bom jornalismo, independe de ser ativista ou não da causa. Por exemplo, você pode não querer ter filho, mas, em um país onde a populção infanto-juvenil é de mais de 50% população, ignorar esse assunto não é fazer bom jornalismo, independente de suas preferências prévias”, analisa.
Outra questão fundamental, diz Canela, é que não basta apenas colocar o tema de direitos humanos na agenda do noticiário. “O importante é como se como o assunto em discussão na sociedade. O jornalismo precisa cobrir essas questões a partir da perspectiva política pública, que significa entrar na legislação, em dados, ir além do caso individualizado, ouvir as várias perspectivas”, diz.
“Há distintas visões que não necessariamente representam uma melhor ou uma pior. Jornalismo tem a função de informar a sociedade para que ela possa tomar as suas próprias decisões sobre as políticas públicas. Mostrar como os diferentes sujeitos políticos estão apresentando caminhos. Nâo é função do jornalismo apresentar uma única perspectiva aos cidadãos. É preciso ajudar a sociedade a ter um amplo leque de possibilidades na construção de políticas públicas para que nós possamos avançar, colaborando com a mudança da realidade e com a transformação social. Isso não tem nada a ver com militância ou minha visão política da realidade. Isso tem a ver com bom jornalismo”, conclui Guilherme Canela.
Entrevista de Carolina de Assis. Texto e Edição: Dodô Calixto