Atualizada às 10:01
Jorge Glas, vice-presidente do Equador, afirmou na noite desta quinta-feira (03/08) que seguirá “defendendo os equatorianos” e lamentou a decisão do presidente do país, Lenín Moreno, de retirar suas funções em meio a uma crise dentro da coalizão Aliança País, com a qual a chapa dos dois políticos venceu as eleições de abril.
“Com ou sem funções específicas, seguirei trabalhando com a mesma força, paixão e compromisso por meu povo”, disse Glas em comunicado publicado em seus perfis nas redes sociais.
O vice-presidente criticou Moreno por “se deixar pressionar por opositores que, orquestradamente, lhe exigiram retaliações contra mim”. “Que lástima que o presidente Moreno só aceite críticas e opiniões de opositores e não escute quem lutamos ao seu lado para colocá-lo onde está agora”, acrescentou.
Glas reiterou que não pretende renunciar. “Se a oposição quer que o vice-presidente renuncie, que ganhe as eleições. Este vice-presidente não renuncia”, afirmou.
Por meio de um decreto, Moreno retirou nesta quinta-feira (03/08) as funções designadas ao vice-presidente, como a liderança do Conselho Nacional de Produção do Equador, com a justificativa de que Glas “não entendeu” o compromisso da Revolução Cidadã que “implica servir a pátria em unidade de esforços”.
A medida, porém, não equivale a uma destituição, já que Glas só pode ser destituído por meio de um julgamento da Assembleia Nacional, o parlamento equatoriano.
Seguiré siendo el Vicepresidente para defender que se cumpla el programa de gobierno de la Revolución Ciudadana.¡Hasta la victoria siempre! pic.twitter.com/bhGVEt3xPx
— Jorge Glas (@JorgeGlas) 3 de agosto de 2017
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A iniciativa de Moreno evidencia a ruptura entre o atual presidente, de um lado, e seu vice e o ex-mandatário, Rafael Correa, de outro. Moreno foi membro do governo de Correa e seu vice-presidente entre 2007 e 2013, e foi apresentado pelo hoje ex-presidente como candidato à sua sucessão.
Glas e Correa vinham criticando publicamente supostas alianças entre Moreno e opositores ao projeto da Revolução Cidadã, iniciada pelo ex-presidente em 2007. Correa classificou as ações do atual presidente como “entreguismo” e o vice acusou Moreno na quarta-feira (02/08) de “estar assentando as bases de um Estado de corrupção ao pactuar com personagens nefastos da história nacional”.
Agência Efe
Jorge Glas, vice-presidente do Equador, durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (03/08)
Em resposta, Moreno publicou na quarta um vídeo nas redes da Aliança País convocando os apoiadores à unidade e afirmando que seguirá buscando o diálogo com todos os setores e “a recuperação de um amplo apoio social à Revolução”. Na quinta, o presidente retirou por decreto as funções de Glas.
“O ‘diálogo’ neste período aconteceu com todos, menos com nós que somos parte da Revolução Cidadã e acreditamos nesse projeto político”, disse o vice-presidente após o decreto de Moreno. “O diálogo verdadeiro não é claudicação nem entrega dos princípios”, acrescentou.
Além de suas funções, Glas disse que lhe foi retirado o direito de utilizar o transporte aéreo presidencial e que pessoas ligadas a ele foram demitidas ou perderam o acesso à Vice-Presidência. Ele disse que percorrerá o país em seu automóvel pessoal e que seguirá “denunciando as injustiças e defendendo princípios”.
Já o presidente Lenín Moreno respondeu de maneira concisa às críticas de Glas e de outros correligionários. “A política é a arte de servir aos outros. Vamos tornar a política decente no Equador!”, escreveu ontem à noite em seu perfil no Twitter.
La política es el arte de servir a los demás. ¡Vamos a adecentar la política en el Ecuador!
— Lenín Moreno (@Lenin) 3 de agosto de 2017
Rafael Correa critica 'traição'
O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, já manifestava suas críticas a Moreno há algumas semanas e escreveu na quarta-feira (02/08) em seu Twitter que “o roteiro é o mesmo que no Brasil”, prevendo o rompimento entre o presidente e o vice, que ele acredita se desenvolverá em uma perseguição judicial a inimigos políticos de Moreno e seus novos aliados.
Após a medida de Moreno, Correa criticou “o cinismo, a traição e a mediocridade” do atual presidente, sem mencioná-lo. “Se permitimos a volta da corrupção institucionalizada e do velho país, teremos perdido nossa essência, nossa razão de ser. Teremos perdido tudo”, escreveu em seu Twitter. “E falam em 'tornar a política decente'. Como? Com os pactos negociando até a justiça? Ânimo! O cinismo, a traição e a mediocridade serão efêmeros. Não os temamos. Venceremos!”, concluiu.
Queridos compañeros de Alianza País:https://t.co/0UgELse7bi
— Rafael Correa (@MashiRafael) 3 de agosto de 2017