Roberto Almeida/Opera Mundi
Acampamento do Occupy London tem até investidor do mercado financeiro; “Os CEOs, com seus bônus, roubaram meu dinheiro também”
A Justiça britânica determinou nesta quarta-feira (18/01) a remoção do acampamento do movimento OccupyLSX (Ocupe a Bolsa de Londres), que há três meses está instalado em frente à catedral de São Paulo, no centro da capital britânica,
A decisão judicial alega que o acampamento atrapalha o fluxo de pessoas que circulam na região, e deu sete dias de prazo para que o OccupyLSX recorra à corte, ou será expulso por força policial.
A ação para retirada das barracas foi movida pela City of London Corporation, que administra a região central de Londres. A disputa judicial, que começou em dezembro passado, discutiu a relação entre espaço público e privado na área do protesto. Tecnicamente, a City of London Corporation cedeu à iniciativa privada praticamente todo o centro de Londres – menos a porção que fica em frente à catedral, que pertence à diocese anglicana.
No entanto, a City conseguiu decisão favorável alegando que as barracas geram transtornos para os pedestres e contribuíram para a queda no número de turistas na região. “Protestos legais são normais na vida da City mas barracas, equipamentos e, cada vez mais, muita bagunça e prejuízos, não é para isso que serve uma passagem de pedestres, e o público geralmente sai perdendo – como as provas na corte deixaram claro”, disse ontem Stuart Fraser, representante da City, após o julgamento.
Hoje, o movimento tem quatro áreas ocupadas. Além da praça em frente à catedral de São Paulo, manifestantes têm barracas em Finsbury Square, mais ao norte, um centro comunitário no prédio desocupado do banco suíco UBS, onde está instalado o Bank of Ideas, e uma “Sala de Justiça” no prédio desativado da Corte dos Magistrados de Old Street, leste da capital.
A decisão da justiça para retirada de barracas afeta apenas o acampamento da catedral de São Paulo, o que significa que o movimento está longe do fim.
Defesa 'original'
Pelo lado do Occupy, três réus representaram o movimento. Eles vão recorrer da decisão da Justiça. O britânico George Barda (foto abaixo), 35, formado em políticas públicas pela King's College of London, é um deles.
“Fizemos uma defesa original. Não estamos aqui apenas para dizer que temos direito de nos expressar. Dissemos à corte, com base em provas e argumentado por especialistas, que tivemos um impacto dramático na narrativa política do governo britânico”, afirmou ao Opera Mundi.
Coincidentemente, o premiê britânico David Cameron lançou ontem um programa pelo “capitalismo moral”. Mesmo que a iniciativa de Cameron não tenha entrado na pauta da Justiça, Barda acredita que foi possível demonstrar que o Occupy não causou danos à sociedade, mas sim promoveu avanços.
“Incluímos na nossa defesa o quanto se falou nesse período em desigualdade e justiça fiscal, que são importantíssimos para a sociedade democrática”, disse Barda. “Todo protesto, para ser visível, precisa estar na rua. A City vendeu quase todos os pedaços do centro para a iniciativa privada. Mesmo assim, é preciso respeitar nosso direito de fazer uma reunião e expressar nossas ideias. É uma longa e complexa discussão sobre o equilíbrio de direitos.”
No entanto, segundo Barda, o juiz, preferiu rejeitar a argumentação para manter o ar de “imparcialidade” política. “Foi frustrante, porque não é uma questão de direita ou esquerda, mas uma realidade que pode e foi verificada por acadêmicos”, anotou.
Contra-ataques
Desde o dia 15 de outubro na praça em frente à catedral de São Paulo, o OccupyLSX convive com vitórias e derrotas. O número de barracas hoje é visivelmente menor do que há três meses e casos de uso de drogas no acampamento são confirmados pelos integrantes do movimento. Mas isso não diminuiu o esforço de pessoas que se dedicaram à causa.
Peter Dombi, 47 anos, já foi personagem de diversas matérias sobre o Occupy na imprensa britânica. O motivo é óbvio: ele é investidor do mercado financeiro. Por mais contraditório que pareça, ele se defende. “Os CEOs por aí, com seus bônus, roubaram meu dinheiro também”, disse ao Opera Mundi.
Presente na ocupação desde novembro, ele participa do grupo de estudos de política econômica do Occupy. “Você veja, não atrapalhamos as lojas aqui do entorno, pelo contrário, elas nunca reclamaram da mudança no movimento por causa do Occupy”, afirmou. “É verdade que o número de barracas diminuiu, mas é porque estamos agora em outros quatro locais, sem falar no frio, que espantou as pessoas.”
Sobre o uso de drogas no local, noticiado pelo London Evening Standard em dezembro, Dombi reage: “Estamos na rua e atraímos todo tipo de pessoa. Temos comida gratuita. Somos um microcosmo da sociedade. Uma agulha foi encontrada, é verdade. Mas se ela não estivesse aqui, estaria em qualquer lugar. Aqui, ao contrário da sociedade aí fora, não excluímos ninguém.”
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