Ao criticar conclusões do Ministério Público, o ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo falou nesta quinta-feira (04/10) sobre a existência de “interesses ocultos” por trás do massacre que iniciou o julgamento político que lhe tirou do poder.
“Há muito mais o que investigar sobre o acontecido em Curuguaty. Não foi um simples enfrentamento entre camponeses e policiais. Seria tão simples se acreditássemos nisso. Creio que houve uma mão negra, diabólica e violenta que provocou tudo isto”, afirmou Lugo.
“Sem dúvida, houve autores intelectuais e materiais, que desencadearam aquele chamado julgamento político. Por isso, hoje, três meses e meio depois, novamente dizemos que não estamos convencidos com as verdades parciais divulgadas”, expressou Lugo em mensagem divulgada pelo site “Paraguay Resiste”.
O massacre, que deixou seis policiais e 11 trabalhadores rurais mortos, foi o estopim do julgamento político de Lugo no Congresso e provocou seu impeachment no dia 22 de junho. Lugo foi substituído no cargo pelo então vice-presidente do país, Federico Franco, como estabelece a Constituição paraguaia diante desse tipo de situação.
“Dissemos e afirmamos que este governo que se instalou depois do golpe não tem a vontade nem o desejo de descobrir o que passou em Curuguaty”, questionou o ex-governante, que sustenta ter sido vítima de um “golpe de Estado parlamentar”.
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“Vamos continuar investigando e a verdade não nos assusta, nos alegra. E, algum dia, saberemos exatamente o que aconteceu naquele fatídico 15 de junho, o chamado massacre de Curuguaty”, afirmou citando a data do confronto.
Além dos mortos, cem pessoas ficaram feridas durante a ação de despejo da fazenda de Curuguaty, cuja propriedade era disputada pelo recém falecido empresário e político colorado Blas N. Riquelme e o Estado paraguaio.
O Ministério Público, que em seu relatório final sobre os fatos já não questiona que a propriedade era de Riquelme, sustenta que os policiais “caíram em uma emboscada preparada e planejada previamente por ocupantes armados”, e o promotor do caso, Khalil Rachid, descartou as versões que apontavam para a atuação de atiradores treinados.
A Plataforma de Estudos e Pesquisas de Conflitos Camponeses apresentou ontem um relatório paralelo no qual menciona que há provas em áudio do uso de fuzis automáticos e que tais armas foram a causa da morte dos policiais, atingidos com “disparos certeiros na cabeça e no pescoço”, que só poderiam ter sido perpetrados por “atiradores especialistas”.
Os camponeses detidos e processados após o massacre anunciaram que vão apresentar na próxima segunda-feira uma denúncia para exigir que o Ministério Público paraguaio abra novas linhas de investigação e não dê o caso como encerrado.