Agência Efe
Papa Francisco se mostrou contrário ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo
A escolha do cardeal Jorge Mario Bergoglio como novo papa repercutiu de forma negativa entre organizações de direitos humanos da Argentina. Ativistas pelo direito ao aborto, pela igualdade de gênero e pelos direitos civis para homossexuais lamentaram a eleição do arcebispo de Buenos Aires como líder máximo da Igreja Católica.
A socióloga e atriz Maria Alba Zito, militante pelo aborto legal, gratuito e seguro na organização Mujeres Conurbanas, acredita que a chegada de Francisco ao Vaticano pode representar um retrocesso na Argentina. “A América Latina experimentou avanços importantes como a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina e a descriminalização do aborto no Uruguai, por exemplo. São avanços que podem ser ameaçados pela eleição de um papa latino-americano”, disse ao Opera Mundi.
Na Argentina, um projeto de lei para a despenalização do aborto foi apresentado por ativistas em 2007, mas caducou sem ser votado. A Campanha pelo Direito ao Aborto Legal, Gratuito e Seguro, porém, voltou a apresentá-lo em 2010, desta vez com o apoio de 33 deputados de diferentes blocos políticos.
“Bergoglio não apenas é contrário à legalização do aborto como também se manifestou contra a sentença da Corte Suprema sobre os abortos não puníveis”, aponta Maria Alba. O Código Penal argentino determina que o aborto é legal em casos de estupro ou risco de vida para a mulher. Em março de 2012, a Corte Suprema argentina ditou uma sentença reiterando que, nesses casos, o aborto é legal.
Diversidade sexual
O Coletivo de Homens Antipatriarcais da Argentina publicou em sua página na rede social Facebook um comunicado no qual afirma que as pessoas que lutam “pelo respeito e pela celebração da diversidade sexual” não têm motivos para festejar a eleição do argentino como pontífice.
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“Como há mais de 500 anos, uma vez mais querem nos vender espelhinhos coloridos dizendo que a Igreja Católica se democratiza elegendo um papa latino-americano”, denuncia o comunicado. “O que querem é ocultar um novo plano de legitimação da expansão colonial, fazendo da América Latina um laboratório de experiências para reconstrução de uma instituição em decadência.”
Pedro Paradiso Sottile, secretário para América Latina e Caribe da ILGA (Asociação Internacional de Gays e Lésbicas, na sigla em inglês) e Secretário Jurídico da CHA (Comunidade Homossexual Argentina), lembrou que o papa Francisco “esteve à frente da oposição à lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo em nome da delirante guerra de Deus” e que o fato um argentino estar à frente da Igreja Católica não significa que deva haver mais intervenção religiosa em temas de Estado.
Jorge Bergoglio afirmou em 2010, na ocasião da aprovação do projeto de lei, que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não era “apenas uma luta política, mas a pretensão de destruir o plano de Deus” e que a medida era uma ameaça à “sobrevivência da família: papai, mamãe e filhos”.
“Na Argentina, o Estado é laico e a separação entre Igreja e Estado é um princípio republicano ao qual damos muito valor”, destacou Sottile. “Queremos que o papa e a Igreja Católica não interfiram na conquista de direitos humanos fundamentais. Temos certeza de que se Francisco tem intenção de travar o avanço da América Latina no combate à discriminação, terá o mesmo resultado que teve na Argentina: o fracasso.”
Ditadura
Os ativistas também fizeram questão de frisar que o envolvimento de Francisco com a última ditadura militar argentina (1976-1983) não pode ser esquecido. Maria Alba Zito, que nasceu na Itália durante o exílio de seus pais, afirmou que “sabemos que delatou religiosos da corrente de padres do Terceiro Mundo durante a última ditadura porque há testemunhas que relataram seu envolvimento com o regime. Inclusive aparece em fotos com Jorge Rafael Videla e outros repressores.”
Para Pedro Sottile, não se pode esquecer “o papel que Bergoglio teve durante a última ditadura militar, com o silêncio cúmplice, não apenas seu, mas de muitos sacerdotes das altas hierarquias da Igreja na Argentina.”
No entanto, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, declarou em entrevista à BBC Mundo que não há provas do envolvimento de Francisco com o regime militar que deixou um saldo de 30 mil desaparecidos na Argentina. “Houve sacerdotes que atuaram como cúmplices da ditadura, mas não foi o caso de Bergoglio”, garantiu.