Agência Efe
Centenas de estudantes franceses ergueram barricadas em frente a escolas e marcharam por Paris nesta quinta-feira (17/10) para protestar contra a deportação de famílias de imigrantes sem documentos. A indignação irrompeu esta semana depois que a expulsão de uma menina de 15 anos, nascida em Kosovo e com origem cigana, veio a público.
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Leonarda Dibrani estava terminando uma viagem escolar quando foi detida pela polícia na frente de seus colegas de classe. Depois, ela foi deportada de volta para Kosovo pelas autoridades francesas porque a solicitação de asilo da sua família havia sido negada repetidamente.
[Cartaz em protesto pede a demissão do ministro do Interior, Manuel Valls]
O incidente ocorreu no início do mês, mas foi divulgado ontem por uma ONG que faz campanha contra a expulsão de crianças e adolescentes em idade escolar. Esse tipo de deportação ocorre frequentemente na França, mas grupos de estrangeiros dizem que a polícia foi longe demais ao humilhar publicamente a jovem.
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Os estudantes se mobilizaram por meio das redes sociais e centenas se concentraram na Universidade de Paris, de onde saiu uma marcha rumo à Praça da Nação. Eles exigiam a demissão do ministro do Interior, Manuel Valls. Alguns manifestantes enfrentaram policiais com bombas de gás lacrimogêneo, mas a maioria seguiu pacificamente.
“A palavra de ordem é nos mobilizarmos pelo regresso de todos os estudantes expulsos”, disse ao jornal Le Monde o porta-voz do sindicato de estudantes secundários, próximo do Partido Socialista, Steven Nassiri. “É inadmissível que, tendo um governo de esquerda, sejam precisos papéis para se ir à escola. A educação é um direito de todos”, acrescentou.
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Outro jovem imigrante, Khatchik Kachatryan, um armênio de 19 anos, também foi deportado recentemente, incentivando a mobilização dos alunos. “Todo mundo deveria ter uma chance. Todo mundo deveria ter emprego, trabalhar e ter uma família. Quando as crianças tentam conseguir isso, a França recusa e esse não é o meu país”, afirmou à Associated Press o estudante Romain Desprez.
Em entrevista à agência AFP, Leonarda Dibrani afirmou que está com a família na cidade de Mitrovica, onde receberam asilo temporário das autoridades locais. “Estou assustada, não falo albanês. Minha vida é na França. Não quero ir à escola aqui porque não falo nenhuma das línguas locais. Eu tinha liberdade lá. Não quero ficar aqui”.
Repercussão
Valls, o ministro do Interior, defendeu a legalidade da deportação da família Dibrani, mas ordenou às autoridades que revejam o modo de lidar com o caso. Parlamentares da oposição de extrema-direita apoiaram Valls e avisaram que a decisão de reverter a expulsão enviaria uma mensagem de que os imigrantes sem documentos são bem-vindos na França. “A lei deve ser aplicada e, neste caso, uma ordem de deportação já havia sido defendida duas vezes pelo sistema judicial”, afirmou Christian Jacob, da UMP (União por um Movimento Popular).
Já o primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, prometeu que Leonarda e seus familiares serão levados de volta para a França se se descobrir que os direitos da garota foram violados. “O Ministério do Interior iniciou hoje uma investigação administrativa para avaliar as condições da expulsão e determinar se todas as regras foram respeitadas”, afirmou. O ministro da Educação, Vincent Peillon, afirmou que “a escola deve ser um santuário, temos que manter nossos princípios baseados em direitos e na humanidade”.
Divulgação/Al Jazeera
Leonarda Dibrani na casa onde está em Motrovica, no Kosovo. Ela quer voltar à França para ir à escola
O pai de Leonarda, Reshat, foi expulso da França um dia antes da filha e afirmou que sua família estava sendo vitimizada por causa de sua etnia. “Há refugiados maus na França que conseguem documentos facilmente – nós não fizemos nada ruim. Eles fizeram isso conosco porque somos ciganos. Seríamos tratados de outro jeito se nossa pele tivesse uma cor diferente”, disse.
A controvérsia ocorre depois da polêmica gerada em torno de uma declaração de Valls no mês passado, quando ele declarou que a maioria dos 20 mil ciganos da França não tinha intenção de se integrar e deveria ser mandada de volta para seu país de origem. Pesquisas de opinião mostraram que três em quatro franceses apoiavam essa medida.
O presidente François Hollande não fez declarações públicas sobre o ocorrido e nem sobre os protestos de estudantes até agora, instigando acusações da oposição de que o governo está em caos.