O opositor Leopoldo López, dirigente do partido Vontade Popular e acusado pelo presidente Nicolás Maduro de ser autor intelectual da violência nos protestos vividos no país nos últimos dias, teve uma nova medida privativa de liberdade ditada na madrugada desta quinta-feira (20/02) e continuará na prisão, após ter se entregado na última terça.
A decisão do tribunal, que se deslocou até a prisão militar de Ramo Verde, onde se encontra López, veio depois de horas de espera pela audiência, que se realizou durante a noite. “Boa noite Venezuela. Lilian lhes escreve, Leopoldo me pediu que lhes mandasse umas mensagens. Por favor RT [retuitar]”, escrevia Lilian Tintori, esposa de López, na conta de Twitter do marido.
Meia hora depois, Tintori comunicava por esta via a decisão do tribunal e mandava a última de uma sequência de mensagens por López: “Terminada a audiência. Ratificada medida privativa de liberdade. A mudança está em cada um de nós. Não se rendam. Eu não o farei”, escreveu.
Agência Efe
Nas proximidades da prisão onde está López, manifestantes demonstraram apoio ao opositor
Por meio da rede e de sua esposa, o dirigente ainda questionou “ameaças” contra membros de seu partido e afirmou que a “ditadura” do governo está “ilegalizando” a sigla. Segundo a oposição, uma ordem de captura foi emitida contra Carlos Vecchio, coordenador político do Vontade Popular.
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Com a medida privativa de liberdade, há um prazo máximo de 45 dias em que o Ministério Público pode acusar, sobressair ou arquivar o caso, segundo informou um dos advogados do dirigente. Antes da confirmação de que López continuaria preso, manifestantes se reuniam em diferentes pontos de Caracas para protestar contra o governo, formando barricadas com fogo e fechando ruas.
Na praça Altamira, localizada em uma zona nobre de Caracas, uma multidão se reuniu e foi dispersada pela polícia com gás lacrimogêneo e balas de borracha. “Em apenas um minuto, contei 50 bombas de gás”, disse a Opera Mundi Alicia Hernández, jornalista espanhola que estava no local.
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Hernández se refugiou em um dos edifícios da região e afirmou que centenas de estudantes fizeram o mesmo após moradores terem aberto portões para que pudessem se refugiar dos gases. Segundo ela, efetivos policiais confiscaram dezenas de motos que se encontravam estacionadas no local do protesto.
As motos são o grande temor das concentrações opositoras, já que muitos associam este meio de transporte com coletivos armados que apoiam o governo. Hernández disse, no entanto, não ter visto nenhum grupo do apartamento no qual acabou passando horas, enquanto esperava a saída dos policiais.
O prefeito de Chacao, Ramón Muchacho, escreveu em seu Twitter cerca das dez da noite do horário local: “GNB [Guarda Nacional Bolivariana] e PNB [Polícia Nacional Bolivariana] entram em edifícios de Altamira e detêm a manifestantes”, expressou. Assim como Alicia, outros jornalistas foram resgatados dos edifícios pela polícia municipal posteriormente à retirada faz forças governamentais.
Diversas denúncias circularam nas redes sociais de que coletivos armados estavam circulando pela cidade e promovendo intimidações. Vídeos de repressão policial, denúncias de disparos a edifícios e uso de armas de fogo contra manifestantes, além de encurralados por gás, feridos ou detidos também foram especulados nesta noite nas redes sociais venezuelanas. Também há informações de protestos e denúncias em diversos estados do país.
Em um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na noite de ontem, Maduro disse que não aceita nenhum tipo de grupo armado. “Quem use armas em nome do movimento bolivariano vai ser preso, as armas da república estão com as Forças Armadas, eu assumo minha responsabilidade, onde haja indicações claras e as investigações conduzirem, que o poder judicial julgue e que condene”, afirmou.
“As ordens são muito claras de preservar a paz, o respeito, de construir convivência, amansar os loucos fascistas, amansá-los com a lei, com a autoridade”, expressou o chefe de Estado. “Os bolivarianos, patriotas, gente decente democrata deste país temos que manter a luta para derrotar essas bandas fascistas”, disse ele, durante um conselho de ministros no palácio presidencial.
Durante o discurso, Maduro informou que grupos estavam atacando uma torre da Cantv (serviço de telecomunicações do país) no estado venezuelano de Lara. Diversos edifícios estatais foram atacados na última semana. Segundo o governo, meios de transporte público como ônibus e estações de metrô também sofreram ataques, deixando feridos.
O presidente venezuelano sustenta que há um plano para levar o país ao “caos social, político e militar” para gerar uma “crescente espiral de ódio e confrontação de povo contra povo e logo justificar o injustificável, o chamado a uma intervenção militar nos assuntos internos da Venezuela”.