Ao menos oito pessoas morreram e 30 ficaram feridas neste domingo (30/03), durante confrontos entre partidários nas eleições municipais realizadas na Turquia. O pleito se tornou um termômetro para a crise no Estado do atual primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan.
Segundo a imprensa local, há uma elevada participação popular, com expectativas de que mais de 50 milhões de eleitores devam ir às urnas. Em meio a acusações de corrupção e crescente autoritarismo da figura política de Erdogan, o partido governista há 12 anos no poder, AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), teme um abalo.
Efe
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, votou neste domingo nas eleições municipais do país
Na província de Sanliurfa, sudeste do país, seis pessoas morreram em uma briga entre partidários de candidatos do AKP e de um partido de oposiçãopró-curda. Na mesma região, em Hatay, houve outras duas mortes em uma briga entre defensores de candidatos à prefeitura. Já em Istambul, duas ativistas da rede feminista Femen invadiram um colégio eleitoral onde Erdogan normalmente vota e deixaram os seios à mostra.
O principal partido de oposição, o CHP (Partido Republicano do Povo), retrata Erdogan como um “ditador” corrupto pronto para pendurar-se no poder por qualquer meio. Durante as últimas semanas de campanha, Erdogan atravessou o país de 77 milhões de habitantes para mobilizar seus eleitores conservadores, para quem ele perdeu temporariamente a sua voz.
“Eles são todos traidores”, disse Erdogan a respeito de seus oponentes em um comício em Istambul, capital comercial e mais populosa da Turquia, no sábado (29/03). “Vá às urnas no domingo e ensine a todos eles uma lição… Vamos dar-lhes uma bofetada otomana”, afirmou o premiê, segundo Al Jazeera.
Efe
Feministas do movimento Femen invadiram colégio eleitoral onde Erdogan vota e mostraram os seios em protesto às suas atitudes autoritárias
Erdogan formou o AKP em 2001, atraindo os nacionalistas e reformistas econômicos de centro-direita, assim como religiosos conservadores que formam sua base. No ano seguinte, o partido chegou ao poder nas eleições parlamentares de 2002.
O escândalo de corrupção envolvendo Erdogan e seu círculo político e pessoal próximo é constantemente negado pelo primeiro-ministro. O clima de incerteza tomou também o mercado de ações sobre a moeda do país – a lira turca – que perdeu 4% do seu valor em 2014. Muitos investidores estrangeiros e nacionais estão esperando as eleições e suas consequências antes de tomar decisões.
NULL
NULL
Limites à liberdade de expressão
Na quinta-feira (27/03), o governo turco tomou a “decisão administrativa” de bloquear o acesso ao YouTube, site de compartilhamento de vídeos na web, um dia após um tribunal local ter restabelecido o uso do Twitter no território nacional.
Latuff/ Opera Mundi
O anúncio da restrição foi feito após um novo vazamento comprometendo a situação de Erdogan, no qual assessores do político supostamente estariam discutindo a guerra civil na Síria — e uma potencial invasão do país — em um vídeo no YouTube.
Na semana passada, o primeiro-ministro já havia bloqueado o acesso ao Twitter, culpando o microblog por inflamar o debate nacional antigoverno. Na ocasião, o próprio presidente da Turquia, Abdullah Gul, criticou duramente a medida de Erdogan – o que por si já apresenta uma fragmentação na administração do governo.
As redes sociais têm sido um dos principais instrumentos de denúncia de corrupção, presentes no círculo íntimo de Erdogan. Seu banimento faz parte de uma série de tentativas do primeiro-ministro para controlar a internet, que já proibiu centenas de sites no território turco e no início do mês, ameaçou também retirar o Facebook e Youtube do ar.
No fim de janeiro, foram reveladas escutas de Erdogan em que o chefe de estado aconselha o filho, Bilal, de desfazer de uma enorme quantia de dinheiro guardado em casa – colocando em xeque um vasto escândalo de corrupção que tem permeado o seu governo.