Após se reunir com seis vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero, o papa Francisco pediu perdão pelos pecados e pela omissão da Igreja nesta segunda-feira (07/07). A declaração foi feita durante uma missa realizada em sua residência, a casa Santa Marta, em que o pontífice disse que o Vaticano deveria “chorar” pelos crimes e “reparar as injustiças”.
Efe
“São mais do que atos reprováveis, são atops que deixam cicatrizes para toda a vida”, definiu o pontífice argentino
“Há algum tempo eu sinto em meu coração profunda dor e sofrimento”, disse o líder argentino. “Diante de Deus e de seu povo eu expresso a minha tristeza pelos pecados e crimes graves de abuso sexual que padres cometeram contra vocês. Eu humildemente peço perdão”, acrescentou.
Vindas de Irlanda, Grã-Bretanha e Alemanha, as vítimas são três mulheres e três homens cujas identidades não foram reveladas. Após a missa, cada um teve a oportunidade de se reunir individualmente por cerca de meia hora com o pontífice – atitude inédita da Igreja.
Para o papa argentino, os líderes do clero não responderam adequadamente às denúncias de abuso apresentadas por familiares e por aqueles que foram vítimas do abuso. “São mais do que atos reprováveis, deixam cicatrizes para toda a vida”, definiu.
Após o encontro, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, declarou à imprensa que o Vaticano optou por convidar um número reduzido de vítimas para que Francisco pudesse conversar pessoalmente com cada uma delas. Lombardi acrescentou que a instituição não exclui outros encontros semelhantes futuramente e ainda disse que a pedofilia “infelizmente é um problema que aconteceu em muitos lugares”.
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Em abril, o papa Francisco já havia pedido perdão pelos casos de pedofilia e abusos sexuais cometidos por “muitos” sacerdotes da Igreja Católica. “Quero assumir pessoalmente e pedir perdão pelo mal que sacerdotes fizeram”, declarou o pontífice, na ocasião. “Temos que ser muito fortes. Com as crianças não se brinca”, acrescentou.
Entenda o caso
Em fevereiro, o Comitê da ONU sobre os Direitos das Crianças exigiu que o Vaticano expulsasse “imediatamente” todos os sacerdotes suspeitos de terem abusado sexualmente de menores, além de ter criticado a instituição por nunca reconhecer a “amplitude dos crimes” e de ter concedido impunidade aos envolvidos.
Efe (abril/2014)
Segundo o Comitê, houve “dezenas de milhares de casos” de abusos sexuais contra crianças por parte de membros das igrejas católicas e a Santa Sé muitas vezes rejeitou cooperar com as autoridades judiciais e comissões de investigação.
[Papa em evento no qual pediu perdão por casos antigos de pedofilia, em abril]
Em relatório, os analistas também criticam a falta de atitude do Vaticano, que não tomou “as medidas necessárias” para proteger os menores, permitindo que a prática se estendesse ao longo dos anos.
Em vez disso, a Igreja optou pela transferência “de uma paróquia a outra, ou para outros países, de abusadores de crianças bem conhecidos, em uma tentativa de encobrir seus crimes”, segundo revelam documentos de diversas comissões nacionais de investigação.
“A mobilidade dos responsáveis, que permitiu a muitos sacerdotes se manter em contato com crianças e continuar abusando deles, segue colocando crianças em alto risco de abuso sexual em muitos países”, denunciou o artigo.
Em janeiro, representantes do clero estiveram frente a membros das Nações Unidas e admitiram que houve registros de abusos em “todas as profissões, inclusive entre membros do clero”. Na ocasião, o papa Francisco afirmou que a Igreja Católica precisava assumir sua “vergonha” diante dos casos.