Ao divulgar o laudo oficial sobre a investigação do caso Iguala, a PGR mexicana (Procuradoria-Geral da República) sustenta que provas científicas e periciais permitem afirmar “com plenitude” que os 43 estudantes desaparecidos no México desde o dia 26 de setembro foram assassinados e incinerados por membros do crime organizado.
Os familiares das vítimas já declararam rechaçar a versão oficial da promotoria mexicana e adiantaram nesta quarta-feira (28/01) que pretendem levar o caso a tribunais internacionais para que as autoridades continuem investigando o crime. Entre as cortes citadas pelos familiares para iniciar o litígio estão a CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos) da OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Comitê de Desaparecimentos Forçados da ONU (Organização das Nações Unidas), que tem agendada para a próxima segunda-feira (02/02) a divulgação de um relatório sobre a atuação do Estado mexicano no esclarecimento do caso.
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Agência Efe
Pais dos 43 estudantes desaparecidos na região Iguala há quatro meses contestam versão oficial da PGR mexicana
Em conferência de imprensa realizada na noite de terça (27/01) para divulgar a “verdade histórica” do caso, o chefe da PGR, Jesús Murillo Karam, afirmou que os corpos dos 43 normalistas foram incinerados em um depósito de lixo do município de Cocula por integrantes do cartel Guerreros Unidos. Para Murillo, os 487 exames periciais, contrastados com depoimentos dos 99 detidos, permitiram comprovar de forma “contundente” a versão apresentada.
De imediato, os familiares dos desaparecidos contestaram a narrativa apresentada, afirmando que “não há evidências científicas”. Também em coletiva de imprensa, o representante legal do grupo de parentes, Vidulfo Rosales, sublinhou que há “pressa e intenção política” do governo federal para dar o caso por encerrado.
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Segundo Rosales, há pelo menos dez pontos sobre os pormenores do caso que ainda não foram esclarecidos satisfatoriamente pela investigação — entre os quais o fato de que não há provas científicas comprovando cabalmente que os estudantes foram de fato assassinados.
Em nome dos familiares, Rosales disse ainda que não foram investigadas as denúncias da utilização de métodos de tortura em alguns dos detidos pela polícia mexicana. Tampouco há um processo penal por desaparecimento forçado transitando na Justiça mexicana.
A narrativa, segundo Rosales, ainda contém algumas versões contraditórias sobre o desenrolar do crime. Além disso, também não há certeza legal sobre o lugar exato onde foi morto Alexander Mora Venancio, o único dos 43 jovens cujos restos mortais foram identificados pela análise do material genético.
Versão oficial da PGR
O procurador-geral Jesús Murillo detalhou que os estudantes “foram mortos nas circunstâncias descritas” pelos detidos, já que as provas periciais confirmam que foram queimados em uma fogueira que alcançou os 1.600 graus centígrados, graças à combustão de aros de rodas, lenha e à orografia do terreno, de 40 metros de profundidade.
Agência Efe
Procurador-geral Jesús Murillo apresenta laudo oficial em que afirma que os 43 alunos foram assassinados e incinerados pelo crime organizado
O fogo de mais de 12 horas fez com que a maioria dos milhares de restos mortais que foram achados em bolsas de lixo junto ao rio e no local da fogueira ficasse tão destroçada que não foi possível extrair os dados genéticos para sua identificação. Destes restos mortais, 17 foram enviados a um laboratório da Áustria “porque eram os que maior possibilidade tinham de ser identificados”.
Os legistas conseguiram identificar apenas um dos estudantes, Alexander Mora, por meio de métodos rotineiros, motivo pelo qual os outros 16 restos mortais vão ser submetidos a uma técnica mais moderna, mas cujos resultados demorarão “um bom tempo”.
Antes de serem incinerados, os estudantes que chegaram vivos ao depósito de lixo foram assassinados — entre 15 e 18 morreram asfixiados —, já que os dirigentes do cartel Guerreros Unidos acreditavam que entre eles eram infiltrados do grupo rival de Los Rojos, o que não foi esclarecido pela PGR. No depósito de lixo, os policiais encontraram cápsulas de projétil de bala.
O procurador-geral explicou que o caso não está encerrado porque ainda há seis ordens de apreensão pendentes, entre elas a do secretário de Segurança Pública de Iguala, Felipe Flores, considerada uma das peças “fundamentais” do massacre.
No total, há 99 detidos por este caso, entre eles o ex-prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua esposa, María de Los Angeles Moreno, considerados autores intelectuais dos fatos que desencadearam a tragédia e operadores de Guerreros Unidos.
Segundo as testemunhas, Abarca ordenou na noite de 26 de setembro do ano passado que os estudantes da Normal Rural de Ayotzinapa fossem atacados para evitar que arruinassem um ato conduzido por sua esposa.
No tiroteio morreram seis pessoas, entre elas três estudantes, e outros 43 alunos foram detidos e entregues a membros do cartel Guerreros Unidos.
* Com informações da Agência Efe