Sob uma chuva torrencial, centenas de milhares de argentinos foram às ruas na noite desta quarta-feira (18/02) para homenagear o promotor Alberto Nisman, morto há um mês em condições ainda não esclarecidas. Junto aos familiares e promotores que convocaram a chamada marcha do silêncio, todos os pré-candidatos opositores à Presidência argentina compareceram ao ato, deixando claro que, apesar de não portar bandeiras ou cosígnias partidárias, a manifestação teve um caráter crítico ao governo da presidente Cristina Kirchner.
Agência Efe
Também conhecida como 18F, manifestação foi apelidada de marcha dos guarda-chuvas
Entre 100 mil e 400 mil pessoas, com seus respectivos guarda-chuvas, participaram do ato. Os manifestantes eram, em sua maioria, adultos, de poder aquisitivo de médio a alto, como apontou o jornal argentino Página/12.
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Dirigentes de partidos políticos mantiveram-se discretos e não discursaram para preservar o silêncio da convocatória do ato, mas, nas redes sociais, abundaram manifestações. Toda a mobilização recebeu uma ampla cobertura do grupo Clarín.
Agência Efe
Mobilização se concentrou em frente ao edifício onde funciona a Amia
“Enchamos todas as praças e ruas do país pedindo verdade e justiça”, afirmou o peronista e ex-aliado de Cristina Kirchner Sérgio Massa, da Frente Renovadora, em seu Facebook.
Na primeira manifestação de rua de que participou, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, também utilizou slogans em redes sociais para se posicionar: “Pela independência da Justiça. Pela verdade. Apenas a verdade nos fará livres”, escreveu.
Também estiveram presentes no ato os radicais Ernesto Sanz e Julio Cobos, assim como o socialista Hermes Binner.
Justiça e corporações
Durante a entrevista coletiva de imprensa concedida diariamente, o chefe de gabinete da Presidência argentina, Jorge Capitanich, reafirmou a independência da Justiça do país, que é “independente do poder político, mas não independente das corporações”, e voltou a defender a tese do governo de não houve favorecimento ao Irã na investigação sobre os responsáveis pelo maior atentado terrorista ocorrido na Argentina, contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).
Veja a íntegra da entrevista (em espanhol)
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“A mobilização deve ser feita para que efetivamente o poder judicial seja autônomo e independente das corporações, para que nenhum promotor seja empregado da corporação, para que nenhum juiz decida a favor de interesses corporativos e seja capaz de investigar a fuga de capitais, os crimes econômicos que prejudicam as entranhas da República”, disse em alusão ao grupo Clarín, que possui mais de US$ 100 milhões não declarados depositados no HSBC, como fora revelado pelo SwissLeaks.
O secretário geral da Presidência, Aníbal Fernández, também ressaltou o caráter opositor da marcha em declaração concedida a alguns veículos de comunicação na manhã desta quinta. “Vejam os cartazes e vão encontrar insultos à Presidência da nação, Cristina Kirchner, como em qualquer marcha opositora”. E ressaltou que a demanda por uma solução para o caso deve ser feita aos juízes e não ao governo.
Fernández também disse que se trata de um ato com “vocação para desestabilizar” o governo e voltou a criticar o vazamento de informações do caso Nisman à imprensa.