O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou nesta sexta-feira (17/07), durante a 48ª Cúpula do Mercosul, que a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) realizará em agosto uma reunião para debater o conflito territorial entre o país e a Guiana pela região conhecida como Esequibo.
Ainda não foi definido se a reunião terá caráter presidencial ou ministerial, mas a mesma será realizada em Assunção, capital do Paraguai, e será convocada pelas autoridades da Unasul.
Itamaraty
Foto oficial dos presidentes dos países integrantes do Mercosul
“Agradeço o acordo para convocar uma reunião da Unasul em agosto para debater um tema que, como todos sabem, agora se tornou polêmico”, disse Maduro.
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Para debater o assunto, a mandatária brasileira, Dilma Rousseff, se reuniu nesta sexta com seu homólogo da Guiana, David Granger, em reunião privada, cujo conteúdo não foi divulgado. O país participou pela primeira vez de uma cúpula do bloco regional na qualidade de Estado associado.
Disputa
A disputa entre os países pela região é centenária. Em 1899, um acordo decidiu que uma parte do território pertenceria à Grã-Bretanha, que antes controlava a então Guiana Inglesa. A Venezuela, no entanto, sempre considerou a região “em disputa”. O país caribenho se baseia no Acordo de Genebra, de 1966 — logo após a independência da Guiana —, segundo o qual a região ainda está “por negociar”.
TeleSUR
Imagem mostra região que está sendo reclamada por ambos os países e que foi decretada como sendo venezuelana
A tensão entre as nações escalou após a empresa norte-americana Exxon Mobil ter anunciado, em maio, a descoberta de grandes reservas de petróleo na região. A companhia pretende explorá-las com o apoio do governo da Guiana.
Para o mandatário venezuelano, no entanto, tal intenção constitui uma “agressão” e é “inaceitável”. Ele disse ainda que o conflito com a Guiana é “produto da desapropriação histórica que o império britânico fez à Pátria de Bolívar no século 19”, e destacou que a Venezuela acredita que “o esforço e grandes iniciativas para a paz” surjam do Mercosul. Ele chamou Granger ainda de “grande provocador” e o acusou de ter abandonado “a Guiana, que está passando agora por problemas com tremendas inundações, para vagar pelo mundo fazendo lobby contra a Venezuela”.
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Maduro pediu que o colega guianês se atenha ao que fora determinado no acordo assinado em 1966 pela Venezuela e a então Guiana Britânica, um pacto que estabelece uma série de passos para a resolução do conflito, que até hoje não foram cumpridos: “dentro de Genebra tudo, fora de Genebra nada”, afirmou Maduro em declarações aos jornalistas após o fechamento da cúpula.
Granger, que falou após Maduro na cúpula do Mercosul, criticou o decreto firmado em maio deste ano — após o anúncio da Exxon Mobil — no qual o mandatário declara como venezuelanas todas as águas marítimas diante da costa do Esequibo. “Com este decreto se apropriam da zona econômica exclusiva da Guiana, que sofre provocações [da Venezuela] há muito tempo e não merece isso”, declarou.
Roberto Stuckert Filho/PR
Presidentes de Guiana e Brasil se reuniram privadamente nesta sexta
O mandatário guianês disse ainda que “o conflito de fronteiras pode levar a conflitos que prejudicam a integração” e ressaltou que seu país está comprometido com a não agressão entre Estados. Granger pediu que os demais países do bloco “ajudem esse pequeno Estado a defender sua soberania e a integridade de seu território”.
“Temos comprometimento e respeito mútuo entre territórios. Estamos comprometidos com as relações mútuas de paz, amizade e não interferência mútua”, disse Granger. Na sua opinião, se essa vantagem estratégica for “obstruída”, o país será “completamente” ignorado.
O impasse diplomático entre os países levou ao congelamento das relações entre Maduro e Granger.