“As pessoas da Turquia querem a paz”, dizia um dos cartazes exibidos na Praça da República durante uma manifestação realizada neste domingo (11/10) em Ankara contra o governo do presidente Recep Tayyp Erdogan. O protesto, que reuniu milhares de pessoas, foi realizado um dia após a marcha pela paz ter terminado com pelo menos 95 mortos. Pró-curdos, no entanto, falam em 128 mortos.
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Agência Efe
Pessoas prestam última homenagem a Sarigul Tuylu, morto no atentado de ontem
Os manifestantes deste domingo homenagearam as vítimas e denunciaram a suposta responsabilidade de Erdogan no ataque. Entre as palavras de ordem do protesto ouviam-se: “governo renuncie” e “Erdogan assassino”.
Para os presentes, o presidente turco teria vínculos com jihadistas do Estado Islâmico e não teria tomado as ações necessárias para garantir a segurança da manifestação deste sábado. Eles acusam Erdogan ainda de estimular a violência para ganhar mais votos nas eleições que serão realizadas em 1º de novembro.
“Nossos corações sangram, mas não atuaremos com espírito de vingança, nem de ódio”, afirmou Selahattin Demirtas, líder do partido de esquerda HDR (Partido Democrático dos Povos).
Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado duplo, considerado o pior da história do país.
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Manifestantes protestaram contra governo enquanto seguravam cartazes com fotos das vítimas
Ontem, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu disse haver “forte indício de que a dupla explosão foi realizada por suicidas.
Para Davutoglu, o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos) também está entre os suspeitos de ter perpetrado o ato, bem como a DHKP-C (Frente Revolucionária de Libertação do Povo), de extrema-esquerda.
Está prevista para esta segunda e terça-feira uma greve-geral convocada por sindicatos de esquerda e pela organização profissional dos médicos e dos engenheiros em protesto contra o que consideram ser responsabilidade do governo.
Atentado
Convocada por sindicatos, partidos de esquerda e representantes das minorias étnicas turcas, o ato deste sábado (10/10) tinha como objetivo pedir o fim das hostilidades contra os curdos – já que enfrentamentos com o grupo foram retomados há três meses.
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Captura de tela mostra momento exato da primeira explosão
Em entrevista coletiva concedida ontem, Demirtas questionou se “é possível que um Estado, cuja organização de inteligência é tão poderosa não tenha qualquer informação sobre este incidente?” E criticou: “estamos diante de um Estado que se tornou uma máfia, assassino e matador em série e que quer manter a sociedade cativa. (…) Não permitiremos que estes incidentes entrem para a história como um simples ato de crueldade. Vamos garantir que essas atitudes não vão durar para sempre”.
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Em 20 de julho, 33 jovens militantes da causa curda morreram em Suruç, próximo à fronteira síria. O atentado foi atribuído, à época ao Estado Islâmico. A escalada de violência encerrou as conversas de paz para encerrar o conflito que dura mais de 20 anos.
Eleições
A Turquia celebrará eleições no próximo dia 1º de novembro em um cenário de crescimento do HDP e enfraquecimento do governista AKP (Partido pela Justiça e Desenvolvimento) desde as eleições de junho.
Mas, diante do atual cenário e do massacre o HDP anunciou que toda a programação eleitoral do agrupamento está cancelada, “uma vez que eles não podem continuar com a mesma quando dezenas de pessoas estão sendo mortas”, como esclareceu Demirtas. “A liberdade e a paz são muito mais importantes do que as eleições”, concluiu.
Por outro lado, a cúpula do PKK anunciou que estabelecerá uma trégua unilateral até a realização do pleito. Apesar de o anúncio ter ocorrido horas depois do atentado, a decisão tem sido debatida há dias pelo grupo, como confirmaram à Agência Efe fontes próximas aos ativistas curdos.