O atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, disse nesta terça-feira (14/06) ver “com bons olhos” a convocação do referendo revogatório contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, a declaração se deu durante reunião com Henrique Capriles, um dos líderes da oposição ao governo Maduro, em Brasília.
“Espero que acabe a indiferença do Brasil, de coração”, disse Capriles, que veio ao Brasil em busca de apoio político do governo do vice-presidente no exercício da Presidência, Michel Temer. Antes de se encontrar com Serra, Capriles, que é governador do Estado de Miranda, no norte da Venezuela, se reuniu com senadores aliados de Temer, no gabinete do senador Aécio Neves (PSDB-MG).
EFE
Capriles se reuniu com o chanceler brasileiro e também com senadores aliados a Michel Temer
“Temos uma política clara de não intervenção em assuntos internos de outros países, mas não podemos ficar indiferentes a qualquer tipo de atropelo da democracia, de desrespeito aos direitos humanos e à situação bruta de carências que hoje envolvem a população venezuelana”, declarou Serra após o encontro com Capriles.
Na semana passada, o Itamaraty emitiu uma nota oficial na qual disse que o governo brasileiro está “disposto a doar medicamentos básicos” à Venezuela por intermédio de “organizações internacionais humanitárias”. Na reunião com o opositor venezuelano, Serra reiterou a proposta e voltou a chamar a Venezuela de “país amigo”.
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Capriles chegou ao Brasil após realizar viagens ao Paraguai e à Argentina, onde se encontrou com os presidentes Horacio Cartes e Mauricio Macri. Após deixar Brasília, o líder opositor se dirigiu ao Panamá. Apesar de defender que “nenhum país se meta” na situação política da Venezuela, Capriles busca reunir apoio internacional à oposição e à realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro, dispositivo previsto na Constituição.
Caso o pleito ocorra a partir de janeiro de 2017 e indique que a maioria dos eleitores deseja a saída de Maduro, quem assume é o vice-presidente, Aristóbulo Istúriz, do mesmo partido de Maduro. Se o referendo for realizado neste ano e o resultado for favorável à saída do presidente, está prevista a convocação de novas eleições. Com isso, os opositores a Maduro têm interesse em acelerar o processo. Capriles foi candidato presidencial em 2012, quando foi derrotado por Hugo Chávez, e em 2013, quando foi derrotado por Maduro.
Reposta de Maduro
O presidente venezuelano criticou nesta terça-feira as viagens de Capriles pela América Latina e disse que “nenhum governo do mundo irá se impor” na Venezuela, a menos que haja um acordo feito na OEA (Organização dos Estados Americanos), onde atualmente se discute a situação política do país.
“Para mim, ninguém deve ir falar sobre o referendo revogatório em países que não preveem esta medida. É um assunto dos venezuelanos”, disse Maduro em um pronunciamento transmitido em seu programa de rádio e televisão. Maduro afirmou que o mundo nunca o verá dando instruções a qualquer presidente, pois isso seria “quebrar as regras do jogo básico da diplomacia, do Direito internacional, da convivência e do projeto de integração” na região.