O ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, agiu para evitar o fim da repressão durante a ditadura civil-militar na Argentina (1976-1983), segundo arquivos secretos desclassificados norte-americanos divulgados na última segunda-feira (08/08).
Os documentos, que cobrem os anos de 1977 e 1982, apontam para uma relação próxima entre Kissinger e o governo militar argentino. De acordo com os arquivos, o ex-secretário de Estado norte-americano encorajou o combate ao “terrorismo” no país sul-americano.
Agência Efe
John Kerry entregou documentos sobre ditadura militar da Argentina a Mauricio Macri
Wikicommons
Segundo documentos desclassificados, Henry Kissingir teve relação próxima com regime do ditador argentino Jorge Videla
As ações de Kissinger contrastavam com a postura adotada por Carter e seu assessor para assuntos de segurança nacional, Zbigniew Brzezinski. Ao contrário de seus antecessores, acusados de colaborar com os regimes autoritários sul-americanos, Carter era contrário à repressão a militantes e era favorável à abertura democrática nos países onde havia regimes autoritários. Uma das medidas de seu governo foi a retenção de empréstimos e vendas de equipamentos militares aos argentinos.
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Os 1.081 documentos desclassificados foram entregues ao presidente argentino, Mauricio Macri, pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, na última semana, e em seguida liberados para a imprensa e organizações de direitos humanos.
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Ex-ditador argentino Jorge Videla (à esquerda) comandou país entre 1976 e 1981
A promessa de entregar documentos que pudessem ajudar a esclarecer crimes cometidos na ditadura argentina foi feita pelo presidente Barack Obama em março deste ano durante visita a Buenos Aires.
“Estamos supresos com a velocidade com que os EUA entregaram essa documentação”, disse o secretário de Direitos Humanos e Pluralismo Cultural da Argentina, Claudio Avruj. “Pensamos que demoraria mais”, acrescentou.
Aliança do Cone Sul
Os documentos também indicam que os países do Cone Sul teriam tentado unir suas ditaduras para enfrentar a nova política de direitos humanos implementada por Carter na época.
“Durante um curto período, no início de 1977, os países do Cone Sul – Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai – tentaram estabelecer um bloco para confrontar nossa politica de direitos humanos”, diz um memorando de 1978 escrito por Robert Pastor, que integrava o Conselho de Segurança Nacional norte-americano, segundo informou a Agência Brasil.
“Como esses governos desconfiavam uns dos outros, mais do que eles desprezavam o presidente Carter, o movimento não decolou”, completa.
Pastor descreveu Argentina, Brasil e Chile como “países grandes, com governos extremamente autoritários e ultraconservadores”, cuja visão limitada os levou a confrontos regionais “mesquinhos”. Um exemplo, para ele, foi a disputa entre Argentina e Chile pelo Canal de Beagle e brigas entre argentinos e brasileiros por causa da construção de hidrelétricas na fronteira com o Paraguai.