A madrugada desta quarta-feira (01/05) foi marcada pela repressão policial contra os estudantes da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, que protestam contra o genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza e o financiamento dos Estados Unidos no conflito, resultando em mais de 100 alunos presos.
“Para ser claro: a Universidade de Columbia chamou a polícia contra seus próprios alunos pela segunda vez em duas semanas, no 56° aniversário do episódio em que chamaram a polícia para o campus a fim de prender mais de 700 protestantes contra a Guerra do Vietnã e a gentrificação do Harlem, em 30 de abril de 1968”, informou o coletivo responsável pelo acampamento de resistência na universidade, o Estudantes de Columbia pela Justiça na Palestina.
TO BE CLEAR, COLUMBIA UNIVERSITY HAS CALLED THE COPS ONTO ITS OWN STUDENTS FOR THE SECOND TIME IN TWO WEEKS, ON THE 56TH ANNIVERSARY OF WHEN THEY LAST CALLED THE POLICE ONTO CAMPUS TO ARREST OVER 700 PROTESTING THE VIETNAM WAR & HARLEM GENTRIFICATION ON APRIL 30TH, 1968
— Columbia Students for Justice in Palestine (@ColumbiaSJP) May 1, 2024
Segundo o jornal The New York Times, pelo menos 108 estudantes foram presos após a reitoria da Columbia, liderada pela presidente Minouche Shafik, convocar o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, por sua sigla em inglês), alegando que “não tinha outra escolha”, referindo-se à ocupação de um dos edifícios do campus, o Hamilton Hall, nesta terça-feira (30/04).
Com ferramentas para arrombar as portas do prédio – que havia sido renomeado pelos manifestantes por “Hid’s Hall”, em homenagem à Hind Rajab, uma menina de seis anos que esteve desaparecida por duas semanas, até ser encontrada morta em Gaza, vítima dos bombardeios israelenses –, a NYPD invadiu o local com armas empunhadas contra os alunos, levando dezenas deles à força.
Além das detenções, no campus, a polícia utilizou gás lacrimogêneo, tasers, agrediu alguns alunos no chão e empurrou outros que faziam uma corrente humana nas escadas do Hid’s Hall em resistência à invasão dos oficiais, de forma que um deles caiu degraus abaixo e precisou de atendimento médico, negado pelos oficiais.
A polícia também deixou mesas e cadeiras amontoadas em frente à escada do prédio. Ao longo da noite, a Columbia emitiu alertas de emergência notificando que mesmo observadores na região “poderiam resultar em ação disciplinar”.
Just watch the first two minutes. You hear tasers going off; students are screaming throughout. They are thrown to the ground, assaulted.
We see the police throw students down the stairs as the cops also push away press.
This video is just 5 minutes of what happened tonight. https://t.co/9xv4r2GZ9u pic.twitter.com/EPoctapG0E
— Sana Saeed (@SanaSaeed) May 1, 2024
Além da repressão aos alunos, repórteres norte-americanos também denunciaram que a NYPD bloqueou diversas ruas e quarteirões nos arredores da Columbia, impedindo que representantes da imprensa acessassem o local para a cobertura jornalística da repressão, inclusive da rádio dos alunos de jornalismo da universidade, a WKCR.
A WCKR conseguiu cobrir grande parte dos eventos da madrugada, mas devido ao elevado número de acessos, passou a enfrentar problemas de conexão e transmissão.
Nas redes sociais, os alunos de Columbia relataram a opressão promovida pela NYPD. Por volta das 8h locais (9h no horário de Brasília), a estudante Maryam escreveu: “acabei de sair da prisão novamente após ser presa há 12 horas. Desta vez por protestar do lado de fora dos portões do meu próprio campus. Fui jogada no chão e presa por 6 a 7 policiais depois de ter meu telefone arrancado da minha mão porque o policial ficou bravo devido minha transmissão ao vivo”.
just got out of jail again after being arrested 12 hours ago, this time for protesting outside the gates of my own campus. i was thrown onto the ground and pinned down by 6-7 cops after having my phone knocked out of my hand because the cop got mad i was livestreaming it.
— maryam مريم🇵🇸🍁 (@bluepashminas) May 1, 2024
A aluna também relatou que a polícia de Nova Iorque removeu à força hijabs de diversas estudantes muçulmanas detidas nos protestos. “Gritamos ‘deixe-a usar o hijab’ repetidamente de dentro de nossas celas e um oficial disse a uma das alunas para calar a boca quando ela pediu a devolução de seu hijab. Columbia soltou esses porcos contra nós”, finalizou.
Já a estudante Maryam Alwan afirmou que “a polícia estava literalmente jogando mesas e empurrando os alunos escada abaixo até que um desmaiasse. Convidar a NYPD para o campus da Universidade de Columbia destruiu mais propriedades e colocou em perigo mais pessoas do que a ocupação original do Hind’s Hall”.
Police were quite literally throwing tables and pushing students down the stairs until one passed out. Inviting the NYPD onto campus at @Columbia University has both destroyed more property and endangered more people than the original occupation of the building.
— maryam alwan🇵🇸 (@maryamalwan) May 1, 2024
‘Segurança e ordem’
Em um comunicado emitido por volta das 21h da terça-feira, a Universidade de Columbia anunciou que a NYPD chegou ao Campus de Morningside a pedido da faculdade, a fim de “restaurar a segurança e a ordem”.
A reitoria ainda acusou os estudantes de “optarem por agravar a situação” com a ocupação do Hind’s Hall, ainda chamado pela faculdade de Hamilton Hall. Segundo o comunicado, o prédio foi “vandalizado e bloqueado”, por isso “não restou alternativa” a não ser convocar a polícia de Nova Iorque.
“Acreditamos que o grupo que invadiu e ocupou o edifício é liderado por indivíduos que não estão ligados à universidade”, informou ainda, afirmando que a decisão de convocar a NYPD “foi tomada em resposta às ações dos manifestantes e não à causa que defendem”.