O governo dos Estados Unidos abandonou a “guerra ao terror” como estratégia de segurança nacional e adotou uma ênfase na diplomacia como nova política oficial, em documento apresentado nesta quinta-feira (27/5).
Segundo a nova estratégia, o conflito armado passa à condição de “último recurso” no enfrentamento de ameaças à segurança norte-americana, e privilegia a diplomacia e a influência política, econômica, ideológica e cultural – o que analistas de relações internacionais denominam “soft power”.
A “guerra ao terror”, inaugurada nos anos de George W. Bush (2001-2009), legitimava a “guerra preventiva” unilateral como medida de “defesa” tanto do território e da população quanto dos interesses norte-americanos. A ênfase também era dada ao poder militar e ao emprego da força contra os adversários.
Para o governo do presidente Barack Obama, essa política era “estreita demais” e se provou ineficiente, como demonstrariam as guerras no Iraque e no Afeganistão, que se arrastam até hoje sem vitórias absolutas. De acordo com o jornal The New York Times, o novo plano parte da premissa de que “preservar a liderança americana no mundo depende de aprender a aceitar e gerir a ascensão do muitos concorrentes”.
“Nosso foco é uma estratégia que amplie nossas fontes de influência no mundo e nos permita usá-las para fazer frente aos desafios do século XXI”, afirmou o vice-conselheiro de Segurança Nacional, Ben Rhodes, principal autor do texto, o primeiro do tipo publicado pelo governo Obama.
Emergentes
Ao longo de 52 páginas, o documento dá várias alfinetadas em Bush e deixa claras as mudanças em relação aos métodos do antecessor. Sem usar a palavra “islâmico”, a estratégia fala que os esforços “para combater o extremismo violento são apenas um elemento do nosso ambiente estratégico e não pode, definir o engajamento dos EUA com o mundo”. Enquanto a doutrina vigente até hoje assume explicitamente o compromisso em impedir qualquer superpotência que rivalize com os norte-americanos, nova política fala em conviver com novas forças em ascensão.
“Estamos profundamente empenhados em ampliar o círculo de atores responsáveis”, disse Rhodes, incluindo países emergentes no cenário da política internacional, como o Brasil.
A afirmação vem a pública na semana seguinte às investidas da Casa Branca contra a ação diplomática de Brasil e Turquia que conseguiu convencer o Irã a fechar um acordo para submeter o enriquecimento de urânio à fiscalização internacional – algo que as potências ocidentais tentavam desde 2007.
Embora o foco seja posto sobre a guerra no Afeganistão e no aumento de ataques dirigidos contra a CIA e a OTAN no Paquistão, a nova estratégia rejeita o combate ao terrorismo como “princípio organizador” da política de segurança nacional.
Idealismo
Para o NYT, a nova estratégia “tenta equilibrar o idealismo da campanha de Obama com as realidades de seu confronto com um mundo turbulento e ameaçador nos últimos 16 meses”, em referência ao tempo decorrido desde a posse do presidente. Assim, o texto argumenta que os EUA “endurecidos pela guerra” e “disciplinados por uma desoladora crise econômica não podem sustentar luta prolongada no Iraque e no Afeganistão, cumprindo outros compromissos em casa e no exterior”.
“O fardo de um novo século não pode recair sobre os ombros norte-americanos sozinhos”, escreveu Obama na introdução do documento. “Na verdade, os nossos adversários gostariam de ver a América perder nossa força por estender demais nosso poder”.
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