A Justiça argentina definiu quais decisões serão adotadas para descobrir se os filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble, principal acionista do grupo Clarín, são, na verdade, bebês roubados na última ditadura militar da Argentina (1976-1983).
Na quarta-feira (29/9), a juíza responsável pelo caso, Sandra Arroyo Salgado, determinou que o Banco Nacional de Dados Genéticos faça uma análise de amostras de sangue e de saliva que Felipe e Marcela Herrera de Noble entregaram em dezembro de 2009. O objetivo é verificar se ali há material genético suficiente para fazer o exame de DNA. Se não houver, a juíza pode determinar que os dois entreguem nova amostra.
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Há nove anos, associações de direitos humanos do país, como as Avós da Praça de Maio, tentam obrigar Marcela e Felipe Herrera de Noble a fazer o exame de DNA para descobrir se foram adotados ilegalmente na ditadura. Os herdeiros do Clarín se recusam a realizar o exame, mas foram obrigados pela Justiça. Os dois já entregaram amostras duas vezes: uma em dezembro de 2009, que não foi analisada, e a outra, em maio de 2010. Essa última foi submetida ao exame, mas como havia sido adulterada, não pode ser usada.
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Segundo a agência de notícias argentina Télam, depois de o Banco Nacional de Dados Genéticos determinar se as amostras extraídas em dezembro são válidas, a juíza deve ordenar a comparação com o DNA das famílias de presos políticos desaparecidos na ditadura. O material genético de algumas vítimas está no banco de dados da Argentina por meio de amostras concedidas por membros da família.
Sandra Arroyo Salgado ordenou também investigar como as amostras de Felipe e Marcela, extraídas em maio, foram adulteradas. Na ocasião, os dois entregaram peças de roupas. Um mês depois, o laboratório informou que havia ali material genético de várias pessoas. Desde então, as Avós da Praça de Maio e os Noble aguardam a decisão de Sandra para saber o que será feito para descobrir a verdadeira identidade dos dois.
Durante a ditadura, muitos filhos de prisioneiros políticos foram sequestrados e entregues clandestinamente a militares ou a simpatizantes do regime. Estima-se que 500 crianças tenham sido separadas dos pais na Argentina na época.
A suspeita de que os dois foram adotados ilegalmente existe porque documentos que Ernestina apresentou na adoção eram falsos. Em 13 de maio de 1976, ela se
apresentou diante da Justiça em San Isidro, com um bebê a quem chamou de
Marcela. Disse que a havia encontrado onze dias antes em uma caixa
abandonada na porta de sua casa. Ela ofereceu como testemunhas uma
vizinha e o caseiro da vizinha, cujos depoimentos foram desmentidos em
2001.
No caso do Felipe, ela declarou que foi entregue, em 7 de julho de
1976, pela suposta mãe, Carmen Luisa Delta, que não podia ficar com o
bebê. No mesmo dia, sem dispor de provas determinando as circunstâncias
do nascimento, uma juíza concedeu a segunda guarda à Ernestina. A
Justiça descobriu, anos depois, que Delta nunca existiu.
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