A Colômbia aprovou, em
2005, a Lei de Justiça e Paz, medida que teve como objetivo acabar
com a atuação dos paramilitares devido às inúmeras acusações de
assassinato, corrupção e tráfico de drogas. Uma série de
documentos publicados pelo Wikileaks, porém, revela os bastidores do
processo de julgamentos dos paramilitares e indica as brechas que
permitiram a reorganização e a continuidade destes grupos.
O
diretor da Comissão Colombiana de Juristas (CCJ), Gustavo Gallon,
afirmou que o processo de julgamento dos paramilitares não iria
resolver o problema provocado pela AUC (Autodefesas Unidas da
Colômbia), grupo que reunia os paramilitares. A acusação aparece
em despacho de abril de 2006, escrito pelo embaixador William Wood.
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“Gallon disse que a
política de segurança vai beneficiar somente criminosos e apenas
determinados indivíduos, o processo de desmobilização [dos
paramilitares] é fraco, 99 % deles não serão punido por seus
crimes”, consta na mensagem.
Para Gallon, que fez tais
afirmações em um encontro com o senador Jack Reed, a desmobilização
dos paramilitares não era algo para ser “levado a sério”. Ele
disse que, entre 2002 – ano que em começou o acordo de cessar fogo
com o governo – até 2005, os paramilitares “violaram diversos
pontos do acordo, incluindo o assassinato de mais de 2.500 pessoas”.
As críticas da CCJ são
dirigidas ao governo do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010),
no qual o atual presidente, Juan Manuel Santos, era ministro da
Defesa. Gallon afirma que um decreto assinado por Uribe impede que
sejam abertos novos processos judiciais contra os paramilitares
desmobilizados. Além disso, aponta que o governo pretende processar
“apenas 1% dos 29 mil que se desmobilizaram”.
Wood conclui o despacho
dizendo não “concordar muito” com a opinião de Gallon e avalia
que a Lei de Paz e Justiça foi aperfeiçoada.
Colômbia preferiu
negociar com paramilitares
Um outro despacho com
data de junho de 2006 apresenta o relatório de uma conversa entre
Sergio Caramagna, da OEA (Organizações dos Estados Americanos), com
o embaixador William Wood. Segundo o documento, Caramagna disse à
embaixada que nada “havia unido tanto” os líderes da AUC como o
julgamento da Lei de Paz e Justiça.
O representante da OEA
expõe uma divergência entre Luis Carlos Restrepo, uma das
principais forças do partido governista, que foi indicado por Uribe
para manter o diálogo com a AUC, e o ministro da Justiça, Sabas
Pretelt. O ministro criticou Restrepo por ter oferecido aos
paramilitares “promessas que o governo não poderia
cumprir”.
Outro trecho descreve a pressão exercida pelos
paramilitares. Caramagna narra uma conversa com Vicente Castaño, uma
das lideranças da AUC. Ele explica que, de acordo com Castaño, caso
“o processo falhasse” os grupos poderiam se reorganizar,
inclusive praticando sequestros para pressionar o governo. Porém,
Castaño avisa que a reação “poderia ser evitada” se os
paramilitares fossem reconhecidos politicamente pelo Estado.
Ressurgimento de grupos
armados
Em mais uma mensagem,
de junho de 2006, o embaixador Milton Drucker faz um relatório sobre
a entrega de armas dos paramilitares e constata que há uma
preocupação com um possível desvio dessas armas. De acordo o
despacho, enquanto em processos de desarmamentos a média mundial é
de 2:1 (dois combatentes para cada arma devolvida), alguns grupos
como o “Bloco Central Bolívar” chegavam a apresentar uma taxa de
três ou até quatro combatentes por arma devolvidas.
O embaixador reproduz o
aviso de que os paramilitares poderiam se reorganizar, caso o governo
não estabelecesse políticas de prevenção. “Analistas afirmam
que as estruturas econômicas e políticas dos paramilitares
permanecem ativas e, se governo colombiano não fornecer a segurança
necessária nas principais regiões [de atuação dos grupos
armados], eles podem se reorganizar”, diz Drucker.
A continuidade da ação
dos paramilitares é tema de um despacho de fevereiro de 2007,
escrito pelo embaixador John Creamer. Na mensagem, o diplomata
descreve a existência de novos grupos armados que surgiram “na
sombra dos paramilitares”. Ele, baseado em informações da OEA e
do governo colombiano, explica que existem cerca de 21 grupos, com
cerca de três mil membros, sendo que os paramilitares representavam
quase 20% desse total.
O embaixador informa
também que a liderança desses novos grupos era exercida por
ex-membros dos paramilitares, os quais tinham uma posição
intermediária na hierarquia dos antigos grupos.
Diferente da AUC, de
acordo com informações relatadas pela embaixada, essas novas
organizações são bem equipadas, mas “dispersas” e não
apresentam “qualquer política de organização ideológica
comum”.
De acordo com o
despacho, Creamer conversou com o general Jesuz Gomez Lopez,
responsável por combater as novas organizações. Segundo o militar,
esses grupos não se tornariam uma “ameaça nacional”, mas eram
difíceis de serem combatidos porque os seis “ex-amigos militares”
lhe passavam informações e, por terem muito dinheiro, conseguiam
corromper várias instituições do governo.
Porém, Creamer diz
que, para os colombianos, não havia muito diferença entre os “novos
grupos” e a AUC. A semelhança está no fato de que ambos se
dedicam ao combate ao tráfico, além de agirem nas mesmas regiões.
Um deles usa o mesmo símbolo da Águias Negras, antigo grupo
paramilitar, “para instigar o medo na população”.
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