A presença da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, no Peru para participar da III Cúpula de Chefes de Estado e Governo da Aspa (América do Sul – Países Árabes), vai além dos assuntos que cerceiam o evento.
Desde que assumiu a Presidência, Dilma evidenciou seu interesse de estabelecer relações bilaterais e econômicas com o Peru.
Comportamento recíproco tem seu colega peruano, Ollanta Humala, que escolheu o país vizinho para sua primeira visita depois da vitória eleitoral em julho passado alegando ser o Brasil um exemplo em programas sociais de transferência de renda.
No entanto, os acordos energéticos são a principal motivação das alianças estratégicas entre os governos brasileiro e peruano. O principal deles ainda tramita no legislativo dos dois países: a construção de cinco hidrelétricas ao centro e ao sul do Peru. As medidas foram firmadas em 2010 pelos presidentes ainda em exercício, Luís Inácio Lula da Silva e Alan García.
O acordo energético bilateral teria uma duração de 50 anos, pretendendo integrar o Sistema Interconectado Nacional do Peru fisicamente com o do Brasil para que o país andino possa exportar energia ao seu vizinho.
A produção das cinco hidrelétricas pretendidas no acordo no começo da operação seria em Pakitzapango (produção de 2.200 MW), Inambari (2.000 MW), Tambo 40 (1.270 MW), Mainique I (607 MW) e Tambo 60 (579 MW).
O Brasil importaria torno de 6.000 MW, sendo que o aumento de energia fornecida pelo Peru seria progressivo. Na primeira fase do projeto, os investimentos chegariam a cerca de 16 bilhões de dólares.
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Para o cientista político Antonio Zambrano, membro do Fórum, o acordo fere a soberania energética do Peru e o coloca submisso aos interesses brasileiros. “Nosso Sistema Elétrico Interconectado Nacional conta com aproximadamente 5.000 MW e nossa demanda nacional se encontra de acordo com as projeções do Comitê de Operação Econômica de Sistema Interconectado Nacional – COES de 4.586 MW utilizado em 2011. Ou seja, teríamos então que produzir aproximadamente mais 150% de energia para atender os compromissos do acordo”.
Diante desse quadro, com uma baixa demanda de energia e uma oferta pouco explorada, o Peru é um país muito procurado para a o empreendimento de projetos energéticos, principalmente hidrelétricos, pois conta com 14% do potencial hídrico do continente. O valor de energia é mais barato em relação a outros países.
Segundo estimativa da empresa de consultoria PSR, o MWh de energia gerado na hidrelétrica de Inambari custaria 52 dólares. Enquanto que, em Cachuela Esperanza, na Bolívia, seria 58 dólares e no Brasil, 77 dólares.
Além do projeto energético, as relações comerciais entre Brasil e Peru obtiveram um crescimento entre 2006-2011. Segundo a Sociedade de Comércio Exterior do Peru, as exportações peruanas com destino ao Brasil cresceram 10% anuais nos últimos anos, alcançando um valor de 1,284 bilhão de dólares no ano passado, enquanto que as importações subiram 9% no mesmo período chegando a um valor de 2,434 bilhões.
Independente da conversa reservada com Humala pretendida por Dilma no evento entre os países sul-americanos e árabes, o embaixador brasileiro em Lima, Carlos Alfredo Lazary Teixeira, adiantou que a presidente irá à região de Arequipa, ao sul do Peru, antes do término desse ano atendendo a um convite de Humala.
Na futura ocasião, os dirigentes de Brasil e Peru discutirão sobre a estrada Interoceânica e o gasoduto da jazida Camisea, obras de infraestrutura e energia que contaram com investimentos brasileiros do setor público e privado nos últimos anos.