Após o Ministério Público da Espanha anunciar nesta sexta-feira (26/04) que pedirá à Justiça o arquivamento das denúncias contra Begoña Gómez, esposa do premiê Pedro Sánchez, alguns meios locais passaram a revelar detalhes polêmicos do processo que foi apresentado há dois dias e que levou o mandatário espanhol a decidir pelo afastamento do cargo e a cogitar a possibilidade de renunciar.
A acusação contra Sánchez foi impulsionada pelo movimento Manos Limpias (“mãos limpas”), criado em 1995 e que se apresenta como “uma organização de funcionários públicos apartidários que luta contra a corrupção”, mas que é frequentemente acusada de promover lawfare contra figuras de esquerda. Nesta quinta-feira (25/04), Sánchez recebeu o apoio do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que também afirma ter sido vítima de perseguição judicial em seu país.
No entanto, segundo reportagem do jornal Público.es, algumas das peças apresentadas à Justiça contra Begoña Gómez e contra Pedro Sánchez “recheiam” as supostas denúncias com insinuações sobre a sexualidade de ambos, e também a do pai do premiê.
Por exemplo, a acusação de que Gómez teria supostos vínculos com organizações narcotraficantes é baseada em parecer da militante do Manos Limpias, Pilar Baselga, quem afirma ter provas de que a esposa do premiê seria transexual.
“Ouso dizer que há suspeitas de que a nossa querida segunda-dama, porque a primeira é a rainha (Letizia, esposa do rei Felipe VI), seria originalmente Begoño”, afirma a militante em um dos trechos do parecer, embora repita o nome “Begoño” para referir-se a Begoña Sánchez em capítulos posteriores.
O boato sobre a sexualidade de Gómez não é novo e foi lançado anos atrás pela própria Baselga. Curiosamente, a militante extremista teve que comparecer a um tribunal de Madri a cerca de uma semana, devido a um processo por calúnia e difamação à primeira-dama.
Diante do pedido do juiz para que apresentasse as supostas provas sobre a transexualidade de Gómez, a ativista do Manos Limpias lançou mão do seu direito a permanecer calada. O episódio não impediu que o grupo de extrema direita incluísse seus questionamentos à esposa do premiê espanhol.
As denúncias do Manos Limpias também envolvem o sogro do premiê, Sabiniano Gómez, pai Begoña Gómez, que seria, segundo o documento apresentado à Justiça, dono de uma suposta rede de saunas gay. A acusação alega que o negócio era utilizado por Sabiniano para “promover a prostituição gay, além de espionar e extorquir políticos, empresários e figuras públicas”, e que a atividade seria usada por Sánchez para obter informações e recursos financeiros.
Ademais, o Ministério Público afirma que grande parte das acusações, tanto as relacionadas a possíveis crimes de corrupção quanto as relativas à vida sexual dos envolvidos, estão baseadas não em documentos mas sim em conteúdos publicados em veículos de imprensa vinculados à direita ou a extrema direita – entre eles estão: El Confidencial, Voz Pópuli, The Objective, ES Diario e Libertad Digital.
Apesar de se dizer “apartidário”, o Manos Limpias tem um histórico de posicionamentos de extrema direita e de ataques à esquerda. Por exemplo, um dos primeiros alvos de suas ações, ainda nos Anos 90, foi o ex-juiz de direitos humanos Baltasar Garzón.
Além disso, seu fundador e líder histórico, Miguel Bernad, recebeu em 2011 a medalha de Cavaleiro de Honra da Fundação Francisco Franco, organização de defende o legado do ditador que governou a Espanha entre 1936 e 1975.
A reportagem do Público.es afirma que, embora o Manos Limpias seja um grupo de extrema direita, suas denúncias tem sido apoiadas não só pelo partido extremista Vox como também pelo Partido Popular (PP), outrora considerado como um setor direitista mais moderado, mas que tem se aproximado ideologicamente dos grupos mais radicais.
Com informações de Público.es e El Diário.