Os bombeiros brasileiros e as equipes de resgate da Colômbia trabalham sem cansar tentando tirar até o último sobrevivente dos escombros do Hotel Montana, um dos poucos edifícios onde se concentra a maioria da atenção internacional. No prédio estavam hospedados muitos estrangeiros. Mas são as equipes destes países que são vistas como mais generosas, as mais humanas.
“Os brasileiros, os colombianos e os equatorianos são os que sempre estão trabalhando. São incansáveis, fazem turnos para dormir”, conta a policial chilena Mirella ao Opera Mundi. “Não é assim com as outras nacionalidades. A maioria, como os chineses e vários outros, procuram seus próprios mortos, levam e vão embora”.
Além disto, os grupos de ajuda na maioria estão concentrados nos lugares onde se sabe que havia ocidentais. “A questão”, argumenta o engenheiro colombiano Oscar Guevara, que ajuda as equipes de resgate, “é que todos temos que estar aqui, até sem fazer nada. Não podemos sair para ajudar as pessoas a tirar seus parentes de casa. Dizem que é perigoso, que há muito risco, então simplesmente em muitos casos a maioria dos haitianos está deixada à própria sorte”.
Mirella cuida da identificação dos mortos no hotel. O Chile está procurando uma pessoa aqui, e muita provavelmente quando encontrarem-na, viva ou morta, o contingente será retirado. No porão do Hotel Montana, que era um dos mais exclusivos de Porto Príncipe, está o necrotério improvisado, onde estão mantidos seis corpos no segundo estágio de decomposição. E é graças às técnicas de autópsia que se pode prever o que vai acontecer no local nos próximos días, para entender quão devastadora é a situação no Haiti.
“Em alguns dias, vão passar para o terceiro estágio de decomposição, vão nascer larvas e vermes nos cadáveres” explica Mirella calmamente. “E é aí que vão se disseminar as doenças. O mais provável é que se espalhem a malária, o cólera, a tubercolose, em uma população desnutrida, pobre, fragilizada e ferida. Com as dezenas de milhares de mortos que ainda estão em todos os prédios derrubados na cidade inteira, vai se transformar em um enorme cultivo de doenças. Vai ser uma catástrofe ainda maior. E a população está completamente descuidada. É questão de tempo. Além disso, com o calor, o processo vai ser mais rápido. E temos que torcer para que não comece a chover, porque a água vai ajudar a desenvolver os vermes”.
O pior está por vir
Depois do terremoto e do horror dos primeiros días, a população está esperando sem saber a parte pior da tragédia e não parece que as organizações internacionais, apesar do trabalho duro de alguns grupos, estejam prontas para enfrentar o novo cenário. Os centros de assistência médica já estão lotados e sem recursos, a distribuição de mantimentos trabalha lentamente e as pessoas são obrigadas a beber água das ruas, misturada com dejetos e excremento.
Nos poucos casos de distribuição gratuita de água na rua, por parte por exemplo de dependentes da companhia de água da vizinha República Dominicana, formam-se filas de pessoas que pedem – com garrafas, baldes, sacolas – um pouco de água limpa para evitar enfermidades.
David Fernández/EFE
Meninos tomamos banho na rua, ao lado do lixo, no bairro Petion-Ville, em Porto Príncipe
NULL
NULL
NULL