Depois de um ano desde que a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) venceu as eleições presidenciais de El Salvador em uma disputa acirrada, até hoje o partido, ex-guerrilha, não conseguiu promover mudancas radicais no país.
Após três derrotas eleitorais, a FMLN elegeu Mauricio Funes para a presidência, pondo fim a 20 anos de uma direita neoliberal no poder. Funes, conhecido jornalista da TV salvadorenha, várias vezes se manifestou alinhado a tendências de esquerda moderada.
Historicamente, a FMLN apoiou os esforços de Cuba liderados pelo ex-presidente Fidel Castro e, recentemente, fez coro às propostas do venezuelano Hugo Chávez, o que rendeu críticas feitas por diversos setores.
Para acompanhar Funes, o partido escolheu como vice-presidente o ex-comandante de uma das forças guerrilheiras e signatário de acordos de paz, Salvador Sánchez Cerén.
A vitória eleitoral de 15 de março de 2009 sobre a direitista Aliança Republicana Nacionalista (Arena), que manteve o poder durante duas décadas, permitiu à esquerda governar a nação centro-americana pela a primeira vez.
No entanto, os sinais de atrito entre Funes e seu partido vêm sendo constantes e vão desde aspectos estéticos até a condução da política externa. Desde a posse, o novo presidente advertiu que se afastaria de posições radicais e seguiria os exemplos de Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama.
“Existem diferenças entre o presidente Mauricio Funes e a FMLN quanto a enfoques sobre como construir o país, assim como em relação à definição e à aplicação de algumas políticas públicas”, disse o ativista Ramón Villata, da ONG Iniciativa Social para Democracia, ao Opera Mundi.
Os atritos entre as duas partes ficaram evidentes em situações como a discussão de políticas educacionais, na eleição e demissão de alguns funcionários do governo, na recusa em aderir à Alba (Alternativa Bolivariana das Américas), impulsionada por Cuba e Venezuela, e até na forte demanda por mais atividades de comunicação do governo.
“Perdoem-me o que digo publicamente, mas precisamos de uma comunicação maior com a direção de nosso partido. É necessário trabalharmos juntos. As pessoas querem nos ver unidos e, juntos, somos o fruto e a perspectiva de El Salvador”, disse o vice-presidente Sánchez na comemoração de um ano da vitória eleitoral.
Mas o próprio presidente não assistiu à comemoração, alegando que a Constituição o proíbe de ir a eventos partidários.
Os conflitos mais recentes entre Funes e o partido que o levou ao poder começaram no congresso, logo depois de os deputados da FMLN apoiarem a eliminação da taxa básica de telefonia e apoiarem a extensão da punição para jovens infratores de sete para 15 anos de prisão.
O governante rejeitou a remoção da taxa básica, chamou a atitude parlamentar de “irresponsável” e enviou aos deputados um documento com observações. Quanto ao aumento da pena para delinquentes, Funes argumentou que ela viola tratados internacionais sobre infância assinados pelo país e vetou a medida.
Apesar das divergências, o governo e a FMLN chegaram a consensos na aprovação de empréstimos internacionais para investir em políticas públicas, na aprovação de uma reforma fiscal, em questões de segurança e na seleção de funcionários públicos.
“A relação já existe, mas precisa ser mais forte. Estou disposto a mantê-la, não tenho nenhum problema quanto a isso”, disse Funes após ser questionado por jornalistas sobre as críticas de seu partido.
Partido que atrapalha
Um levantamento recente feito pelo instituto de pesquisas mexicano Motofsky, indica que Mauricio Funes tem 83,4% de aprovação do povo, contra 13,9% insatisfeitos com a gestão.
O mesmo estudo constatou que 39% dos entrevistados responsabilizam a FMLN por “atrapalhar” a gestão de Funes, uma porcentagem maior do que os 28% que atribuíram isso à oposicionista Arena.
“Essas diferenças não significam necessariamente que haja uma mudança drástica na gestão de políticas públicas por parte do presidente, ou que a FMLN pretenda aumentar sua capacidade de controle. Acredito que, na perspectiva da democracia, existir uma diferença pode ser positivo e isso não deve ser visto como uma ameaça à governabilidade, disse Ramón Villalta.
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