Com tranquilidade, poucas filas e muita expectativa, os moradores da capital federal e da Grande Buenos Aires foram às urnas neste domingo (22/11) para eleger – pela primeira vez em segundo turno – o próximo presidente do país.
Em todo o país, 32 milhões de pessoas vão decidir se o próximo a ocupar o posto de máximo mandatário do país será o atual governador da província de Buenos Aires, o governista Daniel Scioli (FpV), ou o atual prefeito da capital, Mauricio Macri (Cambiemos).
Opera Mundi voltou aos centros de votação que visitou no primeiro turno, em Almagro, no centro geográfico da cidade de Buenos Aires, e no município de La Matanza, onde o candidato pelo kirchnerismo encerrou sua campanha.
Aline Gatto Boueri/Opera Mundi
Centro de votação em Almagro: votação transcorreu de forma tranquila
La Matanza
Em Ramos Mejía, a estudante Estefania Larrosse, que vota pela primeira vez este ano, considera que o maior problema com o qual deverá lidar o próximo presidente é a insegurança. Ela também critica o clima de confrontação entre eleitores de diferentes espaços políticos. “Acho um absurdo”, opina.
Carolina Gomez, estudante de Recursos Humanos na Universidade de La Matanza – uma das que foram criadas nos últimos 12 anos pelos governos kirchneristas -, espera que Scioli seja eleito. Ela rejeita a ideia de mudança e afirma que o que o país precisa é de “aprofundamento” das políticas defendidas pelo atual governo. “A militância jovem, os direitos adquiridos pelos trabalhadores – como empregadas domésticas, que agora têm carteira assinada – são o maior legado desse governo”. Ela também elogia a política de subsídios sociais, “para que as pessoas tenham os mesmos direitos que eu, como trabalhadora com carteira assinada, tenho”.
Vanessa Martina Silva/Opera Mundi
Estefania Larrosse: para ela, maior desafio para o próximo presidente é a segurança pública
Em Castillo, o comerciante Gustavo Ariel Pavón avalia o segundo turno de forma positiva. “Faz bem para a democracia do país”. Ele acredita que, independente, de quem seja o vencedor, haverá mudança. “Quando Néstor Kirchner assumiu, em 2003, o país estava em uma crise profunda e os subsídios sociais eram importantes. Mas acho que se perpetuaram e isso não é bom para o país”. Ele está confiante em que, com o fim do governo de Cristina Kirchner, o novo presidente traga novas ideias “para o bem do povo”.
Daniel Henrique, entregador, se queixa do clima “Boca x River” no debate político e afirma que vota em Mauricio Macri porque “o peronismo sempre foi igual e eu quero mudança”. Ele critica a política de subsídios, apesar de reconhecer que algumas famílias realmente necessitam. “Há quem precise, mas também estão os preguiçosos, que vivem dos planos sociais e que não querem trabalhar”.
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Alcides Luque, funcionário público do governo municipal de Isidro Casanova, espera que o próximo presidente seja “do povo, peronista” e que cumpra suas promessas. Ele se define como “fã da Cristina Kirchner” e espera que o próximo presidente “não pague a dívida com os 'fundos abutre', que negocie [com os credores] a partir de um lugar forte e que aprofunde as políticas de direitos humanos”.
Vanessa Martina Silva/Opera Mundi
Mario Soria deseja que política antiaumento de produtos da cesta básica continue
Já o desempregado Mario Hernán Soria lamenta que os candidatos não tenham respondido as perguntas um do outro no debate que antecedeu o segundo turno. No entanto, ele acredita que o encontro pode ter influenciado votos neste domingo. Soria deseja que se mantenha a política de Preços Cuidados, que protege de aumentos alguns itens da cesta básica, mas pede mudança “no tema do trabalho, porque há muita gente desempregada”. Ele avalia o governo de Cristina Kirchner de forma positiva e “espera que o próximo presidente também faça coisas boas”.
Cidade de Buenos Aires
Analía, administradora de 41 anos que não quis dar seu sobrenome, vê o segundo turno inédito como uma boa oportunidade para que os eleitores escolham o próximo presidente. No entanto, ela afirma que não gostou do debate. “Houve muita troca de acusações e falta de respeito entre os candidatos. Eu esperava escutar mais propostas, não o que cada um pensa sobre o outro.” Ela espera que haja continuidade nas políticas de incentivo da indústria nacional e de criação de novas universidades. “Que todos tenham a oportunidade de estudar”.
O aposentado Horacio Buela, de 76 anos, também reclama da falta de debate de ideias nas semanas que antecederam o segundo turno presidencial. “Foi uma campanha suja. O debate foi incrível no sentido de que foi inédito e é bom para o futuro exercitar esse tipo de coisa, mas houve poucas propostas e os candidatos não responderam as perguntas”, avalia. Ele deseja que o próximo presidente “dialogue mais com a oposição” e que “haja maior independência entre os poderes do Estado, principalmente do Judiciário”. Buela considera preocupante a insegurança, a educação e a economia, que ele prevê que enfrentará “momentos difíceis”.
Aline Gatto Boueri/Opera Mundi
Juan Brunero se diz desacreditado com a política
O também administrador Juan Brunero, de 37 anos, não viu o debate. Ele está desacreditado com a política e se sente “obrigado a tomar uma decisão, mas não sei se a mudança que vem é para bem ou para o mal”. Ele elogia as políticas de cuidado da indústria nacional, mas critica o excesso de protecionismo do atual governo. “Com as travas à importação houve falta de produtos que não se fazem aqui e houve exagero.”