O marechal Khalifa Haftar, que lidera o Exército Nacional Líbio, deixou Moscou, na Rússia, nesta terça-feira (14/01) sem assinar um cessar-fogo definitivo com o governo de união nacional chefiado pelo primeiro-ministro Fayez al-Sarraj.
O pacto havia sido firmado pelo premiê nesta segunda-feira (13/01), mas Haftar pedira uma prorrogação até esta terça (14/01) para refletir. O marechal decidiu ir embora para “se aprofundar” melhor nos termos do acordo e “propor alterações”.
Ao deixar Moscou, Haftar não estabeleceu um prazo para retomar as negociações. A decisão do marechal arrisca esvaziar a conferência internacional prevista para o dia 19 de janeiro, em Berlim, para discutir uma solução definitiva para o conflito.
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“Se Haftar continuar assim, a conferência de Berlim não terá sentido”, criticou o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu.
Uma fonte do Exército Nacional Líbio, conjunto de milícias comandado pelo marechal, disse à agência ANSA que o Parlamento de Tobruk não quis fazer concessões a Trípoli.
A proposta de cessar-fogo definitivo foi feita por Rússia e Turquia e prevê uma interrupção no envio de tropas de Ancara à Líbia – o governo turco apoia Sarraj.
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Ao deixar Moscou, Haftar não estabeleceu um prazo para retomar as negociações
O acordo ainda estabelece que milícias armadas deponham as armas e que os poderes políticos sejam distribuídos entre o governo de união nacional, baseado em Trípoli, o parlamento paralelo estabelecido em Tobruk, no leste do país, e as forças de Haftar.
O Exército Nacional Líbio ficaria responsável por combater o terrorismo, em coordenação com o gabinete de Sarraj, e por garantir a segurança de poços de petróleo e gás. Apesar de Haftar ainda não ter assinado a trégua definitiva, um cessar-fogo provisório continua em vigor.
Guerra civil
A Líbia se fragmentou politicamente após a queda de Muammar Kadafi, em 2011, e desde então é palco de conflitos entre milícias. De um lado, está o governo de união nacional guiado por Sarraj e apoiado pelos grupos armados de Trípoli e Misurata, pela ONU, pela Itália e pela Turquia; do outro, o Parlamento de Tobruk, fiel a Haftar, que tem apoio do Egito e dos Emirados Árabes.
O marechal e o Parlamento de Tobruk não reconhecem a legitimidade do governo Sarraj – instituído por uma conferência de paz no Marrocos, em 2015 – e controlam a maior parte do país, principalmente o leste e o desértico sul.
Ex-aliado de Kadafi, Haftar ajudou o coronel a derrubar o rei Idris, em 1969, mas rompeu com o ditador em 1987, após ter sido capturado no Chade. De lá, guiou, com o apoio da CIA, um fracassado golpe contra Kadafi. Por duas décadas, viveu como exilado nos Estados Unidos e ganhou cidadania norte-americana.
Haftar se inspira no presidente do Egito, que deu um golpe militar em 2013 para derrubar o islamista Mohamed Morsi e o governo da Irmandade Muçulmana, colocada na ilegalidade.
*Com ANSA