Mais de 20 milhões de venezuelanos são esperados em todos os 23 Estados e 335 municípios da Venezuela no próximo domingo (21/11) para participar das eleições regionais que definirão os próximos governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores do país. Enquanto as forças governistas buscam manter os governos que já possuem e ampliar o número de candidatos eleitos, a reta final de campanha vem marcada por divisões no setor da oposição de direita e atritos da diplomacia chavista com a União Europeia, que enviou uma missão de observadores para o pleito.
A presença de observadores europeus, além de ser fruto de acordos da mesa de diálogo entre governo e oposição iniciada no México em setembro, marca o retorno de uma missão da UE ao país latino-americano após 15 anos. Entretanto, declarações recentes do chefe da diplomacia do bloco europeu, Josep Borrell, geraram críticas de autoridades venezuelanas.
O primeiro atrito entre Bruxelas e Caracas ocorreu ainda em outubro, quando Borrell disse que enviaria uma missão de observadores para “acompanhar” a oposição e que a presença das autoridades europeias seria “uma garantia maior para eles”. Além disso, o chefe da diplomacia da UE havia afirmado que o informe final que será redigido pelos observadores do bloco irá “legitimar ou deslegitimar” o governo do presidente Nicolás Maduro.
Caracas reagiu às declarações as classificando como uma “violação flagrante” das normas impostas aos observadores pela Justiça Eleitoral do país. À época, o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, chegou a dizer que “se eles vêm para violar as normas, violar o convênio que eles assinaram, melhor que não venham”.
Já no dia 4 de novembro, os posicionamentos de Borrell voltaram a criar tensões com a Venezuela quando o europeu se reuniu com migrantes venezuelanos no Brasil e elogiou o programa “Braços Abertos” do governo brasileiro, que recebe cidadãos do país vizinho que atravessam a fronteira.
O chanceler venezuelano Félix Plascencia condenou o que chamou de “obsessão” do chefe da diplomacia da UE contra a Venezuela e disse que Borrell “deveria dedicar sua pretensão em dar lições de democracia, liberdade e prosperidade a atender às necessidades dos cidadãos europeus”.
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Sede do poder eleitoral venezuelano em Caracas: população vai às urnas neste domingo
Oposição chega dividida
Sem participar de uma eleição há seis anos, o setor de direita ligado a Juan Guaidó vai participar do pleito regional com a legenda MUD, a Mesa de Unidade Democrática, coalizão criada em 2008 que ganhou destaque em sete anos depois, quando conquistou maioria no Parlamento nas eleições legislativas.
A MUD é encabeçada pelos quatro maiores partidos opositores do país que impulsionaram a autoproclamação de Guaidó em 2017 e estiveram ligados a diversos escândalos de corrupção e tentativas de golpe frustradas. Além de manter os quatro Estados que já governam – Anzoátegui, Mérida, Nueva Esparta e Táchira – esse setor da oposição busca ganhar espaço em regiões estratégicas como Miranda, um dos Estados mais importantes do país por ser um dos mais populosos e fazer divisa com o Distrito Capital de Caracas.
Por outro lado, ainda no campo opositor, a coalizão Aliança Democrática busca se apresentar como uma alternativa dentro do campo da direita, já que não está ligada ao setor que apoia Juan Guaidó. Formado, entre outras legendas, por grupos dissidentes dos tradicionais partidos Ação Democrática (AD) e Copei, a coligação já havia participado das eleições legislativas de 2020, que foram boicotadas pela MUD, e conquistado 20 assentos do Parlamento.
Outra grande coalizão também se apresenta para as eleições regionais como alternativa ao chavismo. A Alternativa Popular Revolucionária (APR), que reúne o Partido Comunista da Venezuela e setores dissidentes do chavismo, chega ao pleito tentando se inserir no debate político venezuelano à esquerda dos movimentos ligados ao governo de Maduro. Ao lado do PCV, setores dissidentes do Partido Pátria para Todos (PPT) e Movimento Tupamaros fazem parte da aliança. Durante a campanha, a APR chegou a acusar o governo e a Justiça Eleitoral do país de “perseguição política”, após alguns candidatos da legenda serem impedidos de concorrer pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Maduro diz que eleição é fundamental
Em uma mensagem divulgada nesta quarta-feira (17/11) às delegações que acompanham as eleições regionais no país, o presidente Nicolás Maduro lembrou que o chavismo venceu 26 dos últimos 28 processos eleitorais e afirmou que a votação de domingo será “fundamental”.
“A Venezuela é uma democracia testada e provocada, que enfrenta conspirações permanentes. Devemos exercer essa democracia sempre, as duas únicas eleições que perdemos custaram muito ao povo e ao país”, disse o mandatário.
Maduro ainda criticou o que chamou de uma “aliança” dos setores da oposição com o “imperialismo norte-americano” e afirmou que o país avança “para uma democracia real, comunal, participativa e de protagonismo”.