Uma pesquisa da Siena College, universidade localizada em Nova York, teve como objetivo examinar qual é o perfil do eleitor republicano atualmente, após oito anos de “fidelidade” ao ex-presidente Donald Trump. As informações foram analisadas em reportagem do jornal norte-americano The New York Times publicada nesta quinta-feira (17/08).
Segundo o periódico, os dados da pesquisa apontam que, se o partido não é mais uma imagem do ex-presidente Ronald Reagan, também não é “necessariamente um monolito populista conservador” do “Make America Great Again”, slogan da campanha trumpista de 2016.
Os números mostram que 37% dos republicanos apoiam o ex-presidente norte-americano. Essa porcentagem é formada por eleitores que a pesquisa separou como “direita” e “populistas de colarinho azul”. Os dados destacam que essas duas alas nem sempre concordam entre si, especialmente no que tange a questões religiosas, como casamento entre pessoas do mesmo sexo e sobre a interrupção da gravidez.
Ainda de acordo com os dados, se uma maioria está com Trump em diversas questões, outra parte, cerca de 40% da “tendência republicana” é favorável ao apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, a uma reforma global da imigração e à legalização do aborto. Mas eles são os maiores apoiadores de Trump. “Eles compartilham sua visão profundamente pessimista, até mesmo cataclísmica, da direção do país, incluindo o medo do declínio da parcela branca da população”, diz o jornal.
Com isso, o New York Times questiona que, se o Partido Republicano não é totalmente monolítico, o que ele é? Então, a pesquisa se propôs a compreender os grupos votantes dos republicanos e aqueles com tendências à sigla, junto com seus valores. O jornal destaca que as definições foram separadas conforme as opiniões dos eleitores para determinado assunto e não o que eles pensam e sentem sobre o ex-presidente Trump.
Nesse sentido, o estudo do Times/Siena separou os cidadãos norte-americanos com tendências republicanas em seis grupos, definidos de acordo com a opinião de seus leitores: conservadores tradicionais (26%); ala à direita (26%); conservadores libertários (14%); 'establishment' moderado (14%); populistas de colarinho azul (12%); e recém-chegados (8%).
Conservadores tradicionais (26% dos republicanos)
Representando uma das maiores parcelas dos eleitores republicanos, com 26%, os conservadores tradicionais são exemplificados pelo New York Times por pessoas como o ex-governador do Texas, Rick Perry (2000-2015), e pelos senadores Tim Scott e Marco Rubio.
Nesta categoria, 55% dos republicanos apoiam Trump, contra 20% para o governador da Flórida e pré-candidato à Presidência dos Estados Unidos, Ron DeSantis. “De todos os grupos, este é o que mais se assemelha ao Partido Republicano pré-Trump”, classifica a pesquisa.
Outras características dos conservadores tradicionais são: anti-establishment, política externa isolacionista, economia populista, conservadorismo racial e social, forte oposição ao aborto, a favor dos cortes de impostos para empresas no lugar das tarifas propostas por Trump, da reforma da imigração e da ajuda à Ucrânia.
Ala à direita (26% dos republicanos)
A outra grande parcela de republicanos, também com 26%, é a ala de pessoas que se identificam com a direita política. O NYT destaca como exemplo o senador Ted Cruz, a organização de membros republicanos da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Freedom Caucus, e o ex-presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Newt Gingrich.
Neste grupo, Trump tem 71% de apoio em comparação aos 10% de DeSantis. Além de sua lealdade ao ex-presidente, acreditam que ele não cometeu crimes federais graves, pelos quais foi acusado pela quarta vez nesta semana. Seu perfil demográfico é representado por pessoas mais velhas e a classe trabalhadora convencida de que “a nação está à beira de uma catástrofe”.
Outras características que marcam o grupo são: anti-establishment, política externa isolacionista, economia populista, conservadorismo racial e social, além de grupos de fãs dos canais Fox News e Newsmax.
O NYT classifica esse grupo como “empenhado, o que faz dele um dos principais responsáveis pelas primárias republicanas”, mesmo sendo apenas 1/4 dos eleitores do partido registrados para votar.
Conservadores libertários (14% dos republicanos)
Com 14% de eleitores republicanos, está o grupo dos conservadores libertários, sendo representados pelo senador Rand Paul e pelos ex-membros da Câmara dos Representantes do país, Jason Chaffetz e Dave Brat.
Flickr/Chairman of the Joint Chiefs of Staff
NYT afirma que "embora maioria dos republicanos esteja do lado de Trump em quase todas as questões, essa maioria é frequentemente reduzida"
Neste setor, Trump tem 43% de apoio, e DeSantis 12%. Apesar deste dado, a pesquisa afirma que este é o grupo de republicanos com menor apoio ao ex-mandatário, uma vez que 9% desses eleitores afirmou que votaria em um terceiro candidato em uma disputa entre Trump e o atual presidente, o democrata Joe Biden.
Também apresentam traços como política externa isolacionista, economia populista, conservadorismo racial e social, mas se localiza “no meio” em quase todas as questões.
No entanto, a pesquisa destacou que a característica principal dos republicanos desta categoria é que, quando questionada a liberdade e outros valores, “escolheram sempre a liberdade”, principalmente “a liberdade individual em detrimento dos valores tradicionais”.
'Establishment' moderado (14% dos republicanos)
Na categoria dos republicanos 'establishment' moderado, que representa 14% desses eleitores, o NYT aponta exemplos como da escritora Susan Collins, o ex-governador de Massachusetts, Charlie Baker (2015-2023), e o governador de Nova Hampshire, Chris Sununu, como perfis que se enquadram neste grupo.
Aqui, 28% dos eleitores apoiam Trump, em especial em detrimento de Biden, e 12% estão com o governador da Flórida DeSantis. No entanto, apesar deste dado, esse grupo é o que mais concentra eleitores anti-Trump na base republicana, sendo caracterizada por seu posicionamento “moderado”, de acordo com o jornal.
Cidadãos norte-americanos com alto nível educacional e de classe alta, que abraçam as opiniões dos ex-presidentes Reagan e Bush sobre imigração, comércio e política externa também estão nesta categoria.
Populistas de colarinho azul (12% dos republicanos)
Com 12% dos eleitores republicanos, a pesquisa do Times/Siena classifica os “populistas de colarinho azul”, exemplificando com o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani (1994-2001), o ex-governador do Maine, Paul LePage (2011-2019), o ex-membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Lou Barletta, e o cantor Michael Grimm.
Nesta categoria, Trump tem 71% de apoio, e DeSantis, 12%, representando “uma parte importante da base de Trump”.
Além das clássicas características republicanas, como anti-establishment, política externa isolacionista, economia populista e conservadorismo racial e social, comumente não tem formação acadêmica e se localizam ao norte dos Estados Unidos.
Apesar disso, o NYT afirma que “são surpreendentemente moderados em muitas das questões que definem a direita religiosa”, chegando a apoiar a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Diante disso, suas posições conservadoras se manifestam em temas de comércio e economia, mas não em raça. “35% dos membros deste grupo estavam dispostos a dizer explicitamente que o declínio da percentagem de brancos na população da população era mau para os Estados Unidos, em comparação com 13% do resto do partido”, ressalta o jornal.
Recém-chegados (8% dos republicanos)
Os recém-chegados são 8% dos republicanos, como exemplo do empresário Vivek Ramaswamy. Neste grupo, 56% apoia Trump, e 11% apoia DeSantis.
Também apresentando as características clássicas da política externa isolacionista, economia populista, conservadorismo racial e social, também se enquadram jovens, de 18 a 29 anos especificamente.
Nesta categoria, 59% dos eleitores são brancos, sendo 18% de origem latina. A maioria apoia a reforma da imigração e dizem que a sociedade deve aceitar a identidade das pessoas transgênero. “Pode ser difícil perceber porque é que estes eleitores são de tendência republicana. Mas apoiam o Trump contra o presidente Biden e estão profundamente descontentes com o estado do país”, afirma a pesquisa.
Neste grupo, 90% dos republicanos dizem que a economia dos Estados Unidos vai mal e ainda “partilham que querem um candidato que combata as empresas que promovem a ideologia de esquerda”.