A 15ª cúpula do Brics começou oficialmente nesta quarta-feira (23/08) com uma sessão de discursos dos líderes dos países integrantes do bloco: Luiz In´ácio Lula da Silva (Brasil)
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Ramaphosa: em defesa de uma nova ordem mundial
Como anfitrião da 15ª reunião do bloco de países emergentes em Joanesburgo, na África do Sul, Ramaphosa foi o primeiro a discursar, declarando que o Brics representa “a inclusão e uma ordem mundial mais justa e equitativa, além do desenvolvimento sustentável”.
“Sabemos que a pobreza, a desigualdade e o subdesenvolvimento são os maiores desafios da humanidade. Portanto, estamos determinados para que a parceria do Brics seja aproveitada para impulsionar uma recuperação econômica global inclusiva”, afirmou.
Reconhecendo o papel de impulsionador econômico que o Brics tem no mundo, Ramaphosa determinou que “o avanço da agenda africana é uma prioridade estratégica para a África do Sul durante a sua presidência do bloco”.
“Queremos que os bens, produtos e serviços de África concorram em pé de igualdade na economia global”, instou o presidente.
Mencionando a crise climática, o sul-africano apelou aos países industrializados “para que honrem os seus compromissos de apoio às ações climáticas dos países com economia em desenvolvimento”.
Na linha de eu discurso no fórum empresarial à margem da Cúpula, realizado na última terça-feira (22/08), Ramaphosa confessou sua preocupação com os sistemas financeiras e de pagamentos globais ao serem utilizados como “instrumentos de contestação geopolítica”.
No fórum de empresários, o presidente sul-africano pediu uma reforma das instituições financeiras globais “para que possam ser mais ágeis e responsivas aos desafios enfrentados pelas economias em desenvolvimento”.
Lula: moeda em comum
Logo após o presidente sul-africano fazer seu discurso, Lula passou a falar em defesa de uma moeda comum no Brics para transações comerciais entre os membros do grupo, a fim de reduzir vulnerabilidades.
“Por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) [conhecido como banco do Brics], podemos oferecer alternativas próprias de financiamento, adequadas às necessidades do Sul Global”, disse.
Ao remeter o papel da instituição financeira, chamada de banco do Brics, Lula disse ter certeza que o NDB estará à “altura desses desafios”, exaltando a liderança da ex-presidente Dilma Rousseff no comando do Novo Banco de Desenvolvimento.
Como Ramaphosa, Lula afirmou ser necessário “um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda a implementar mudanças estruturais”.
No mesmo tom de sua crítica ao “neocolonialismo verde” que mencionou no fórum empresarial, Lula ressaltou que os países ricos são os principais responsáveis pela crise climática e cobrou maior financiamento para as nações em desenvolvimento.
“É muito difícil combater a mudança do clima enquanto tantos países em desenvolvimento ainda lidam com a fome, a pobreza e outras violências. Os grandes responsáveis pelas emissões de carbono que causaram a crise climática foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e alimentaram um extrativismo colonial predatório”, afirmou o mandatário.
O discurso do brasileiro também mencionou o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, afirmando que o Brasil “não contempla fórmulas unilaterais para a paz”, e que Brasília está “pronta” para se unir “a um esforço que possa contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”.
“Todos sofrem as consequências da guerra, que evidencia as limitações do Conselho de Segurança. Muitos outros conflitos e crises não recebem a atenção devida, mesmo causando vasto sofrimento para suas populações”, reforçou Lula, criticando a negligência que atinge países como o Haiti, Iêmen, Síria, Líbia, Sudão e Palestina.
Putin: contra a hegemonia do Ocidente
De forma remota, o presidente da Rússia participou da Cúpula dos Brics apontando os motivos que levaram à guerra da Ucrânia, em especial a hegemonia do Ocidente no mundo, identificada por ele como uma “guerra de extermínio”.
Flickr/Palácio do Planalto
Cúpula do Brics começou oficialmente nesta quarta-feira (23/08) com sessão de discursos dos líderes dos países integrantes
“Quero destacar que foi o desejo de alguns países de manter a sua hegemonia no mundo que levou a uma grave crise na Ucrânia. Primeiro, com a ajuda dos países ocidentais, um golpe de estado inconstitucional foi realizado neste país e, em seguida, uma guerra foi desencadeada contra as pessoas que não concordavam com esse golpe de estado, uma guerra brutal de extermínio, durante oito anos”, disse Putin referindo-se ao golpe de Estado em Kiev em 2014 que resultou em um conflito civil após intensas manifestações pró-integração à União Europeia.
Segundo o presidente russo, as ações do exército russo na Ucrânia tem como objetivo interromper “a guerra que foi desencadeada pelo Ocidente e seus satélites na Ucrânia”, apoiando a população da região de Donbass.
Segundo Putin, o Brics se opõe à política do neocolonialismo e da hegemonia ocidental, e apoia a formação de um mundo multipolar.
“Somos contra qualquer tipo de hegemonia, o excepcionalismo propagandeado por alguns países e a nova política baseada nesse postulado – a política de continuação do colonialismo, o neocolonialismo. Somos todos unânimes a favor da formação de uma ordem mundial multipolar que seja verdadeiramente justa e baseada no direito internacional, respeitando ao mesmo tempo os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, incluindo o direito soberano e o respeito pelo direito de cada povo à sua própria modelo de desenvolvimento', destacou.
Vladimir Putin lembrou também que a Rússia assumirá a presidência rotativa do Brics em 2024 e sediará a cúpula do grupo no ano que vem.
Modi: voz do Sul Global e expansão do bloco
Em sequência, Narendra Modi, da Índia, reconheceu o papel do Novo Banco de Desenvolvimento no desenvolvimento dos países do Sul Global e afirmou que têm “recebido uma importância especial no Brics, sob a presidência da África do Sul”.
Nesta linha, com a Índia tendo sido sede da reunião do G20 neste ano, Modi afirmou que esta também é sua “prioridade máxima”, e propôs conceder à União Africana a adesão permanente ao grupo das 20 maiores economias do mundo.
Referindo-se a uma das principais pautas da Cúpula do Brics em Joanesbugo, o premiê indiano deu “apoio total à expansão do número de membros do grupo”.
Modi também sugeriu uma cooperação com o Brasil, Rússia, China e África do Sul no âmbito do “domínio do espaço”.
“Já estamos trabalhando na constelação de satélites Brics. Indo um passo adiante, podemos considerar a criação de um Consórcio de Exploração Espacial do bloco. Neste âmbito, podemos trabalhar para o bem global em áreas como a investigação espacial e a monitorização meteorológica”, declarou Modi.
As sugestões do primeiro-ministro indiano foram feitas poucos momentos antes de participar, por meio de uma videoconferência, do pouso da sonda indiana Chandrayaan-3 no polo sul da Lua, consumando um feito histórico ao ser o primeiro país a pousar uma sonda nessa região do satélite.
Xi Jinping: governança global justa e razoável
Por fim, antes de finalizar a sessão de líderes na Cúpula, o presidente da China, Xi Jinping, defendeu a “rápida expansão” do Brics em seu discurso.
Além de demonstrar seu apoio para que o grupo receba novos membros, o mandatário pediu mais esforços para promover “uma governança global mais justa e razoável”.
O líder chinês também defendeu que a busca pelo desenvolvimento é “um direito inalienável de todos os países, e não um privilégio de alguns”.
Xi ainda observou que “as normas internacionais devem ser escritas e mantidas por todos os países com base nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, em vez de serem ditadas por aqueles com os músculos mais fortes e a voz mais alta”.
“Como país em desenvolvimento e membro do sul global, a China sempre compartilhou o mesmo destino com outros países em desenvolvimento, defendendo firmemente os interesses comuns e pressionando para aumentar suas representações e vozes” disse ele, de acordo com o portal RT en español.
(*) Com Ansa, Brasil de Fato e Sputniknews