Com a reeleição da presidente Cristina Kirchner dada como praticamente certa pelos resultados das eleições primárias realizadas em agosto e pelas últimas pesquisas de opinião, que atribuem à candidata peronista mais de 40 pontos percentuais de vantagem para o adversário mais próximo, o clima na Argentina é de baixa expectativa sobre a votação que será realizada neste domingo (23/10).
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Segundo as últimas sondagens divulgadas pelo instituto de pesquisa Management & Fit, Cristina tem 53,2% das intenções de voto, com ampla frente sobre o segundo candidato, o socialista Hermes Binner. Atual governador de Santa Fé, Binner desbancou o segundo colocado nas eleições primárias, o radical Ricardo Alfonsín, que havia obtido 12,20% dos votos, contra os 50,24% de Cristina Kirchner.
Efe
Com 40 pontos de vantagem, Cristina Kirchner caminha para a reeleição no 1º turno; economia e questão social são preponderantes
A possibilidade de que a presidente argentina, pertencente à coalizão FPV (Frente para a Vitória), obtenha um resultado esmagador frente à oposição se deve a uma conjunção de fatores, segundo analistas entrevistados pelo Opera Mundi. Para Mariel Fornoni, diretora do Management & Fit, a possibilidade de que Cristina Kirchner seja reeleita já no primeiro turno é, em grande parte, resultado da percepção social de uma economia estável.
“Com a ameaça de uma nova crise em nível mundial, as pessoas acham que o governo está mais preparado para enfrentar esta situação”, explica ela, para quem o “descrédito e a desarticulação da oposição também jogam a favor da presidente”. Um dos principais exemplos é a candidata Elisa Carrió, que perdeu por cerca de 20 pontos porcentuais o segundo turno das eleições que elegeram Cristina Kirchner há quatro anos.
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Nos últimos estudos divulgados pelo instituto, Carrió disputa o penúltimo lugar entre os sete candidatos a presidente e conta com cerca de 1% das intenções de voto, após obter 3,3% nas eleições primárias. “Ela perdeu 80% dos seus votos desde 2007 e é um paradigma do que acontece nas eleições. Ela tinha uma imagem estável, mas nos últimos anos assumiu uma posição de confronto e a falta de moderação fez com que hoje ela tenha uma das imagens mais negativas entre os candidatos”, explica Fornoni.
Eduardo Duhalde, ex-presidente peronista, do setor de direita do Partido Justicialista, foi outro que surpreendeu por sua falta de popularidade nas primárias e nas pesquisas de intenção de voto. “Duhalde não foi bem porque de alguma maneira está associado ao passado, a uma situação que já foi, como se tivesse perdido sua oportunidade”, explica Fornoni, sobre o candidato que obteve 12,12% de votos nas primárias de agosto e agora ronda os 7% de intenções de voto.
Outra perda de popularidade emblemática foi a de Ricardo Alfonsín, da União Cívica Radical, importante partido de oposição ao peronismo, que tenta reconquistar representatividade nacional desde a crise de 2001, que levou à renúncia do então presidente Fernando De
Nas eleições primárias de agosto, no entanto, Alfonsín obteve 12,20% dos votos e, segundo as últimas pesquisa, foi ultrapassado pelo socialista Hermes Binner em intenções de voto. Segundo analistas políticos, o candidato não conseguiu mostrar ao eleitorado que além de carregar o nome paterno, conta com capacidade administrativa pela falta de consenso dentro do seu próprio partido.
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Para o coordenador do Laboratório de Políticas Públicas de Buenos Aires,Gabriel Puricelli, o “papelão” do radicalismo é resultado das deficiências estruturais do partido: “Pré-candidatos, que nunca chegaram a ser candidatos, fizeram muitos danos à imagem de Alfonsín, pois em vez de se unir, brigaram”, afirma, em referência a Ernesto Sanz, presidente da UCR, e Julio Cobos, vice-presidente do governo.
Segundo Puricelli, o mau desempenho também se deve, em parte, à decisão equivocada por estabelecer uma aliança política com Francisco De Narváez, um empresário colombiano nacionalizado no país, acionista de uma rede de televisão e de um grupo de jornais na Argentina. Atualmente deputado da província de Buenos Aires, De Narváez transmite pouca confiança ao eleitorado.
“Ele não tem uma vaga ideologia de direita com ênfase autoritária, e o radicalismo, que tem tradição e história, deveria ter procurado outra força política como aliada, não um candidato com muito dinheiro”, argumenta Puricelli. Para o analista político Marcelo Leiras, a união confundiu uma parte dos votantes, tanto do radicalismo como de centro-direita, que não se identificam com a aliança.
Efe
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Segundo ele, no entanto, as taxas crescentes da economia nacional também explicam a baixa porcentagem de votos em Alfonsín e nos demais candidatos da oposição. “É difícil fazer política frente a um governo cuja economia cresce em taxas superiores a 5% e que vem crescendo uma média de 5% há muitos anos”, explica ele, enfatizando a fragmentação ideológica da oposição.
Inclusão social
Outro dos fatores que têm impacto eleitoral são as medidas da administração de Cristina Kirchner destinadas à inclusão social. Para Leiras, esta aposta foi uma das mais bem-sucedidas do governo, através do estímulo ao emprego e da Designação Universal por Filho [Asignación Universal por Hijo, em espanhol], programa semelhante ao Bolsa Família, que atende mais 3,5 milhões de menores de famílias de baixa renda.
O analista também menciona a incorporação de 2,7 milhões de aposentados no sistema de aposentadorias durante o mandato de Néstor Kirchner. “Muitas famílias que ingressaram no sistema vêm de três gerações de desempregados. Por outro lado, os aposentados são muito ativos politicamente e votam em grande número”, explica. Para ele, “o reforço da autoridade do Estado frente aos setores sociais e a aposta na expansão do emprego” são características distintivas da atual gestão.
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De fato, os principais colégios eleitorais do kirchnerismo são as classes de menor poder aquisitivo, enquanto as classes médias das cidades de Córdoba, Rosário e Buenos Aires são historicamente anti-peronistas. “Em 2007, o Frente para Vitória foi castigado com poucos votos dos eleitores nestes grandes centros urbanos. Hoje, o voto no governo é mais transversal, mas ainda apresenta maioria proporcional nas classes sócio-econômicas médias e média-baixa e nos setores jovens”, explica Fornoni.
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