Para a surpresa dos pedestres que circulam pela Cidade do México aos finais de semana, um grupo de ativistas começou a tingir de vermelho a água de famosas fontes, como a da estátua de “Diana la Cazadora” (Diana, a Caçadora) no Paseo de la Reforma, uma das avenidas mais importantes da capital. O movimento social “Paremos las balas, pintemos las fuentes” (paremos as balas, pintemos as fontes), nasceu para sensibilizar e envolver os cidadãos mexicanos contra a onda da violência que abalou o país nos últimos anos.
Yazmín Ortega Cortés/Opera Mundi
Monumento “Diana la Cazadora” é tingido de “sangue” por manifestantes
Seguindo a campanha mexicana NO+Sangre, o movimento ganha cada vez mais visibilidade, promovendo o repúdio cidadão à guerra declarada pelo governo de Felipe Calderón contra o narcotráfico, que, segundo os porta-vozes do grupo, “foi perdida e só trouxe mais mortes e mais violência ao país”.
Até agora foram pintadas mais de 30 fontes, as primeiras na cidade de Cuernavaca, no estado de Morelos, a uma hora do Distrito Federal. Depois, o movimento, formado por artistas, intelectuais, estudantes e sobretudo jovens, ocupou a capital e planeja pintar as fontes do norte do país.
“De 2006 até hoje, durante a presidência de Felipe Calderón, foram mortas mais de 40 mil pessoas no México”, explicou Jaime Avilés, colunista do jornal La Jornada e ativista do movimento. “E a maioria dos mortos era jovem. Diante da violência vivida diariamente em todo o país, nos pareceu importante encontrar uma maneira criativa de influenciar a opinião pública. A ideia vem do conceito de 'intervenção urbana': altera-se a realidade por meio de um elemento plástico e cria-se uma desordem que faz as pessoas refletirem. E os resultados começam a aparecer.”
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Yazmín Ortega Cortés/Opera Mundi
Jornais e emissoras de televisão se perguntam quem são os grupos misteriosos que, em verdadeiras blitzes, enchem de “sangue” as fontes da cidade. Segundo os panfletos que circulam em cada ação, “A iniciativa ‘Paremos as balas, Pintemos as fontes’ propõe uma atividade pacífica que, de forma visual, expressa o ânimo nacional e concentra a atenção na grave situação de violência vivida por nosso país. A atividade consiste em pintar de vermelho várias fontes da Cidade do México, dos estados e de outros países, com tinta vegetal biodegradável, que não danifica de modo algum a estrutura das fontes, nem a própria água. Será uma ação pública, pacífica e aberta, que apela à criatividade para exercer o direito de livre manifestação das ideias.”
A iniciativa já superou as fronteiras nacionais. Alguns simpatizantes do movimento na Argentina pintaram a fonte da Praça de Maio, em Buenos Aires. “Há uma narcofossa sob a fonte da Diana Cazadora na avenida Reforma”, afirmou Rafael Maldonado, um dos participantes da iniciativa. “E a água que brota do fundo da terra se tinge de sangue, e por isso se vê assim.”
Após um mês e meio de ações na capital, o movimento participará da Caravana Cidadã pela Paz com Justiça e Dignidade, rumo à tristemente famosa Ciudad Juárez, no estado de Chihuahua. A última fonte da Cidade do México, a Cibeles, na colônia Roma, é o ponto de partida para a pintura das fontes do norte do país, atingido mais do que as outras regiões pela violência do narcotráfico e das forças policiais, em uma guerra que parece não ter fim.
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“No início, havíamos pensado em fazer um protesto silencioso”, conclui Jaime Avilés, irônico, “dedicando um minuto de silêncio a cada vítima desta guerra absurda. Mas logo pensamos no tempo e concluímos que deveríamos ficar mudos durante mais de um mês seguido. Então optamos por essa forma de protesto.”
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