O governo de El Salvador pediu, no último domingo (13/03), investigações sobre um vídeo que vincula dirigentes do partido Arena (atual oposição no país) a grupos criminosos (chamados “pandillas”) durante as eleições de 2014. Na gravação, divulgada em 11 de março pelo jornal El Faro, representantes conversam a respeito de negociações que teriam como objetivo facilitar a vitória da Arena sobre o candidato da Frente Farabundi Marti de Libertação Nacional (FMLN), Salvador Sánchez Cerén, que acabou eleito.
No vídeo, feito em fevereiro de 2014, Ernesto Muyshondt, na época vice-presidente da Arena, e o prefeito da cidade de Ilopango, Salvador Ruano, aparecem reunidos com representantes dos grupos MS13 e com facções dos grupos Del Barrio 18, Revolucionarios y Sureños. No encontro, Muyshondt promete acabar com o regime de máxima segurança de Zacatecoluca, onde alguns dos principais líderes dos grupos cumprem pena. Em contrapartida, os guerrilheiros promoveriam “estabilidade” durante cinco anos.
Reprodução Youtube
Vídeo mostra encontro entre representantes da Arena e de grupos criminosos de El Salvador
Os membros da Arena chegaram ainda a propor o nome do ex-guerrilheiro Facundo Guardado como ministro de Segurança e Justiça para um eventual governo de Muyshondt.
A reunião ocorreu em meio à campanha presidencial de 2014, que, ao final, resultou na vitória de Salvador Sánchez Cerén, ex-comandante e líder histórico da FMLN.
Agência Efe
Cúpula do governo anuncia medidas para combater insegurança no país – governo acusa Arena de tentar desestabilizar o país
Tanto Muyshondt, como Ruano, confirmaram a veracidade do vídeo, mas alegaram que objetivo do encontro foi evitar que os grupos prejudicassem a campanha de Quijano à presidência. Além disso, dizem que as reformas carcerárias teriam como finalidade tentar reduzir o número de homicídios.
Essa não é a primeira denúncia sobre a ligação entre a Arena e os grupos guerrilheiros durante as eleições. Um dia depois de perder o primeiro turno por dez pontos, Norman Quijano telefonou para Richard Lüers, conhecido como Paolo Lüers, um ex-guerrilheiro que havia trabalhado na equipe de Raúl Mijango durante o processo de trégua entre os grupos guerrilheiros. Na ligação, Quijano garantiu aos grupos que a eventual vitória da Arena significaria não só interlocução com os grupos, mas também participação na elaboração de políticas de segurança pública. Em troca, as quadrilhas não fariam campanha contrária ao partido.
O acordo contraria o que Quijano havia sustentado durante todo o primeiro turno da campanha, que era a impossibilidade de negociação com as “padillas”.
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Na nota, o governo de El Salvador manifestou preocupação com as denúncias envolvendo a relação entre a Arena e as quadrilhas, classificando o vídeo como “muito grave” o vídeo do El Faro. “É muito grave para o país os vínculos que a investigação jornalística revela entre dirigentes deste partido e grupos criminosos”, diz o comunicado.
O governo pede que a Promotoria Geral da República (Ministério Público) realize uma investigação dos fatos, que poderiam estar por trás de crimes cometidos para prejudicar o atual governo. “Existe uma clara intenção de desestabilizar as instituições do Estado com esses pactos entre Arena e estruturas do crime”, afirma. Além disso, o governo exige que a direção da Arena apresente uma explicação “pública e responsável” a respeito das denúncias.
Veja o vídeo (em espanhol):
Ao jornal El Faro, Muyshondt afirmou que não houve negociações com os grupos guerrilheiros, e que a intenção dos diálogos foi apenas informar a postura do partido a respeito da questão da criminalidade.
Um dos principais desafios de Salvador Sánchez Cerén tem sido o combate à violência em El Salvador. Em 21 meses de governo, no entanto, os índices de violência aumentaram consideravelmente no país centro-americano, com uma média diária de 23 homicídios. O ano de 2015 chegou a ser considerado o mais violento da história de El Salvador depois dos Acordos de Paz, firmados em 1992, que propuseram uma trégua no conflito entre os grupos guerrilheiros.