A imprensa mexicana, ameaça pelas agressões do crime organizado, confessou nesta quinta-feira (23/9) os mecanismos de autocensura que se viram obrigados a aderir para proteger as vidas de seus jornalistas.
Diretores de várias empresas jornalísticas, congregados em um fórum organizado pela SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e pelo CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) na Cidade do México, concordaram que a maioria dos veículos de comunicação ou não informa sobre o tráfico, ou o faz de modo superficial e sem investigar com medo das consequências que seus jornalistas podem vir a sofrer.
O diretor-executivo do CPJ, Joel Simon, disse, ao inaugurar a reunião, que mais de 30 jornalistas morreram no México desde que o presidente, Felipe Calderón, assumiu o cargo em dezembro de 2006.
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Os jornalistas “são alvo de uma estratégia de controle da informação de parte do crime organizado”, disse, e lembrou que “o governo federal tem a responsabilidade de garantir a liberdade de expressão” no país.
Javier Garza, editor do jornal mexicano El Siglo de Torreón, veículo ao qual pertencia o jornalista Eliseo Barrón – assassinado em maio de 2009 – e cujas instalações foram atacadas a tiros em agosto do mesmo ano, reconheceu que o jornal realiza uma cobertura “muito básica, muito apegada à informação oficial no que envolve os fatos criminais”.
Há três anos “não há trabalho de investigação, nem trabalho para tentar definir o mapa e a geografia dos diferentes grupos do crime organizado que disputam a cidade de Torreón”, admitiu.
“No momento em que suspeitamos que possa haver algum tipo de risco para um repórter, simplesmente sacrificamos a notícia e retornamos”, disse o editor, que em certa ocasião se uniu a um jornal norte-americano para divulgar uma informação que o El Siglo de Torreón não podia publicar por segurança.
A diretora geral do jornal Imagen de Zacatecas, Patricia Mercado, disse que o veículo não está “publicando nenhum tema sobre narcotráfico”.
“Não fazemos investigação. Estamos ameaçados e não podemos falar absolutamente nada sobre narcotráfico e, particularmente, exigem que falemos mal do exército, que digamos que estão violando os direitos humanos dos presos”, revelou Patricia, para quem as organizações criminosas estão se transformando em “editores da informação” no México.
Proteção presidencial
O México é considerado, atualmente, por vários organismos de defesa da liberdade de expressão, como o país mais perigoso para exercer o trabalho de jornalismo no mundo.
Na última quarta-feira (22/9), representantes da SIP e do CPJ se reuniram com o presidente do México, Felipe Calderón.O presidente se comprometeu a fazer com que os delitos contra a liberdade de expressão sejam de privilégio federal, a fortalecer a procuradoria especial encarregada dos crimes contra a imprensa e a lançar, em outubro, um mecanismo para proteger os jornalistas, similar ao que existe na Colômbia.
No entanto, os mídia de comunicação consideraram que essas iniciativas fracassarão e expressaram desconfiança na capacidade das autoridades em protegê-los.
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