“Não somos idiotas, não queremos mentiras”. Estas foram as palavras das cerca de mil pessoas que ocuparam a praça em frente ao Parlamento italiano na terça-feira (16). São apenas algumas das 55 mil pessoas que perderam suas casas no terremoto na região de Abruzzo, em 6 de abril, que deixou 300 mortos.
Manifestante protesta em Roma – Fotos: Matteo Ciambelli (16/06/2009)
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, visitou a região 13 vezes e, em plena campanha para as eleições europeias, prometeu 15 mil casas para antes de novembro deste ano. No entanto, depois de dois meses vivendo no acampamento de emergência, as únicas construções que as pessoas veem são das estradas que levarão os presidentes para a próxima reunião do G8 na cidade de Aquila.
“O risco é que Aquila fique vazia e se transforme em uma cidade fantasma”, diz Simona Machionni, uma das organizadoras da manifestação. “Muita gente já se mudou para o litoral. Em setembro, quando acabarem as férias escolares, as famílias matricularão seus filhos lá e não voltarão mais”.
Diante do palácio do governo, os manifestantes montaram tendas de campanha para simbolizar as condições em que estão vivendo.
“A maioria da população é idosa, tem mais de 65 anos”, diz Maria Micheli, da associação de moradores de uma vila perto de Aquila. “O verão está só começando e a temperatura mínima já é 35 graus. O calor é forte e as condições higiênicas são um desastre. Faz dois meses que vivemos no acampamento, embora eles tenham prometido que pelo menos as casas de madeira de emergência seriam instaladas logo, com banheiro próprio. Se agosto chegar e estivermos assim, os idosos não aguentarão. E nem todos podem ir para o litoral”.
Promessa
Dentro do palácio era votado o decreto que define como será realizada a reconstrução das casas, oficinas, escritórios, tudo. São 430 milhões de euros de fundos da União Europeia e 750 milhões da Itália para as casas com estrutura antiterremoto. No entanto, todas as cinco petições dos presidentes da região de Abruzzo foram recusadas pelo governo. “Os fundos existem”, disse o deputado Giovanni Lolli. “Este primeiro investimento dá prioridade aos residentes e necessidades básicas, e está para ser posto em prática”, mas o voto definitivo será adiado para o dia 23 de junho.
Michele Gilberti, economista e que trabalha no grupo de estudos urbanísticos para a reconstrução, diz que o governo nega o financiamento para quem tem uma segunda casa e para recuperar o patrimônio artístico da área, entre outros itens. “Nestas condições, não podemos reconstruir nada. Não se trata apenas de uma questão econômica e imobiliária, e sim da identidade de uma cidade, um povo, e suas raízes”.
“Além disso, o temor é que se faça especulação imobiliária, como acontece com muita frequência”, conclui Gilberti, “que se nomeiem empresas 'amigas' e o dinheiro desapareça”.
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