Embora o governo da Coreia do Norte tenha recentemente declarado a suspensão no envio de balões com lixo em direção ao Sul, ativistas sul-coreanos decidiram provocar o país vizinho logo nas primeiras horas desta quinta-feira (06/06). O Movimento por uma Coreia do Norte Livre (FFNK, por sua sigla em inglês) confirmou o lançamento de uma nova remessa de 10 balões carregando recados diretos e, outros, simbólicos.
Segundo o grupo, foram 200 mil panfletos criticando a política do líder norte-coreano Kim Jong Un, 2 mil notas no valor de um dólar e, por fim, 5 mil pen drives contendo músicas do gênero K-pop e episódios de K-dramas (novelas sul-coreanas).
A ação provocativa, no entanto, teve aval de Seul. Na terça-feira (04/06), o gabinete do presidente Yoon Suk Yeol suspendeu um acordo assinado com Pyongyang em 2018, que consistia na cessação de atividades hostis entre as duas Coreias, incluindo exercícios militares e voos de reconhecimento ao longo da fronteira intercoreana.
Sem fornecer detalhes, o mandatário apenas reiterou que “reviveria todas as atividades militares” até que “a confiança mútua fosse restaurada”. De acordo com funcionários de seu gabinete, uma das opções levadas em consideração por Yoon era a de ligar alto-falantes ao longo da zona fronteiriça em forma de “deboche”, repetindo uma medida tomada décadas atrás.
Embora o presidente sul-coreano tenha classificado o recente envio de cerca de 720 balões norte-coreanos como um ato “infantil”, durante uma cerimônia fúnebre no Cemitério Nacional de Seul desta quinta-feira, o chefe do Executivo garantiu uma resposta “esmagadora” às provocações do país vizinho, destacando proteção à “liberdade e a segurança de nosso povo com base na aliança mais forte entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos”.
Por outro lado, em relação à Coreia do Norte, o acordo de 2018 já estava ultrapassado. Conforme relata a agência de notícias local KCNA, o gabinete de Kim revela identificar diariamente ações de espionagem e monitoramento aéreo por suas duas principais nações rivais mencionadas no recente discurso de Yoon. Nesse sentido, o tratado intercoreano já havia sido descartado por Kim no ano passado, classificado como um “mero pedaço de papel”.
Guerra Fria e a briga de balões
A ação proferida pelos ativistas sul-coreanos do FFNK, nesta quinta-feira, e a escalada de tensão numa “briga de balões” não é uma novidade.
Após o armistício assinado em 1953, no contexto da Guerra Fria, ambas as Coreias travavam um conflito psicológico: cada país tentava influenciar a população do outro por meio de transmissões de rádio carregadas de propaganda.
Quando o gabinete do presidente sul-coreano Yoon cogitou acionar alto-falantes com K-pop ao longo da fronteira que divide os países, tratava-se simbolicamente de uma ação que ocorria no passado. Ao longo dos dias, soldados rivais eram provocados uns aos outros com músicas de propaganda política. Enquanto o Norte falava na existência de um “paraíso do povo”, o Sul falava em “liberdade e democracia”.
Na sequência, as duas nações passaram a lançar balões carregados de panfletos no espaço aéreo. Nesses materiais, um governo difamava o outro e eram proibidos de leitura para o povo.
Provocação da Coreia do Sul
Na primeira cúpula intercoreana realizada em 2000, a Coreia do Norte e a do Sul entraram em consenso sobre o encerramento de esforços patrocinados por ambas as gestões para influenciar os cidadãos de cada país. A medida não funcionou na prática, uma vez que tanto ativistas norte-coreanos quanto os sul-coreanos (em sua maioria conservadora e cristã) continuaram a guerra de informação.
Grupos como o atual FFNK desrespeitaram o acordo e passaram a enviar balões carregados de bíblias, grãos de arroz, pen drives com músicas de K-pop e panfletos insultando Kim, levando Pyongyang a prometer uma retaliação no mesmo nível.
Nesse sentido, Seul teve que promulgar uma legislação proibindo sua nação de envio de materiais propagandistas, sob a argumentação de que tais ações alimentavam as tensões com o Norte. No entanto, agora, com a suspensão total de Yoon sobre o acordo de 2018, os ativistas sul-coreanos voltaram a lançar balões.
“Tentamos algo que eles sempre fizeram, mas não consigo entender por que eles estão fazendo barulho como se tivessem sido atingidos por uma chuva de balas”, disse Kim Yo Jong, irmã e porta-voz do líder Kim Jong Un, na semana passada.