Formado por líderes dos 19 países mais poderosos do mundo e da União Europeia, o G20 se reuniu neste sábado (15/11), na cidade de Brisbane, Austrália. Embora a proposta do encontro fosse o debate de questões econômicas – já que as nações do bloco representam 85% do PIB mundial – mudanças climáticas e a crise na Ucrânia predominaram o primeiro dia da cúpula.
Entre os líderes que participam da cúpula estão a presidente brasileira Dilma Rousseff, o dos Estados Unidos, Barack Obama; a chanceler alemã, Angela Merkel; o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron; o presidente da China, Xi Jinping; e o chefe do Kremlin, Vladimir Putin. Líderes da Coreia do Sul, Argentina, Austrália, China, Índia, Indonésia, México, Arábia Saudita, África do Sul, Canadá, Turquia, Japão e Itália também marcaram presença.
Efe
Países do G20 também são responsáveis por 80% do comércio global e concentram dois terços da população do planeta
Apesar de não ter sido incluído na agenda da cúpula, o tema da mudança climática foi um dos grandes destaques do dia, após Obama anunciar uma contribuição de US$ 3 bilhões ao Fundo Verde da ONU para auxiliar nações em desenvolvimento. Segundo o presidente norte-americano, trata-se de uma ajuda “às comunidades vulneráveis com um sistema de prevenção, com defesas mais fortes contra o surgimento das tempestades e uma infraestrutura mais resistente ao clima”.
O anúncio vem em meio a um acordo histórico fechado nesta semana entre EUA e China, no qual a Casa Branca se comprometeu a reduzir suas emissões em 28% em 2025, enquanto a China garantiu reduzir emissões a partir de 2030.
Além de Obama, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu aos líderes do G20 para que tomem ações firmes e concretas para enfrentar a mudança climática e contribuam como prioridade com o Fundo Verde para o Clima. “O mundo olha para o G20 também para que lidere o financiamento do clima. Peço aos líderes para que façam uma aposta ambiciosa para a capitalização do Fundo Verde”, declarou Ban.
Um dos maiores poluidores per capita do planeta, a Austrália eliminou recentemente o imposto sobre as emissões poluentes e não se pronunciou ainda sobre seu objetivo a respeito do uso de energias limpas. O descaso com questões climáticas havia impulsionado a presidência australiana a excluir a temática da agenda principal da cúpula, medida que não deu certo.
Crise na Ucrânia
Uma das apostas da imprensa internacional nos últimos dias para o G20 era a ênfase no debate acerca da crise na Ucrânia. Durante a reunião, os líderes mundiais ameaçaram a Rússia com novas sanções por suas atitudes no leste ucraniano, onde conflitos já resultaram na morte de mais de 4 mil pessoas.
Efe
Putin chega sozinho na cúpula e é alvo de críticas de diversos líderes ocidentais que defendem Kiev no conflito
Na cúpula, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, expressou “máxima preocupação” pelas investidas militares russas na região. “Vamos seguir utilizando todas as ferramentas diplomáticas, incluindo as sanções, à nossa disposição”, alertou Van Rompuy.
As críticas a Moscou foram prosseguidas pelo Reino Unido e EUA. “Nos opomos à agressão da Rússia contra a Ucrânia, que é uma ameaça para o mundo como vimos na espantosa derrubada do (voo) MH17, uma tragédia que acabou com muitas vidas inocentes, entre elas, australianas”, acusou Obama. Já David Cameron, qualificou a ação russa no leste como “inaceitável”.
Em tom apaziguador, Ban Ki-moon pediu aos EUA, União Europeia e Rússia que aproveitem a cúpula para conversar e prevenir uma nova escalada do conflito. “O que deveriam fazer é se sentarem juntos para abordar este problema de forma harmônica e pacífica por meio do diálogo”, sugeriu Ban.
Putin chegou ontem à noite a Brisbane para participar da cúpula, em meio a denúncias de que tanto Kiev quanto os separatistas pró-Moscou romperam a trégua assinada durante o Acordo de Minsk, em setembro. Além disso, a Rússia posicionou pelo menos quatro navios de guerra próximos à costa de Brisbane.
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América Latina
O desaparecimento trágico de 43 estudantes mexicanos também foi tema de debate na Austrália. Durante a reunião, diversas organizações se concentraram paralelamente na praça principal de Brisbane para participar da “Marcha dos povos”.
Lá, uma pequena delegação que carregava bandeiras com o número 43 protestou contra a presença do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, enquanto segue a incerteza sobre o destino dos estudantes de Ayotzinapa, raptados há sete semanas.
“O que Peña Nieto faz aqui?, deveria estar no México resolvendo a violência. Não deveria estar viajando pela China ou a Austrália, mas em casa na busca de uma resolução” criticou à Efe Sean Cleary, membro da ONG Edmund Rice Centre.
Giulia Iacolutti
Anúncio de que estudantes mexicanos estariam mortos não fez cessar os protestos no país
Outro assunto latino-americano em pauta na Austrália foi a questão da dívida soberana da Argentina em relação aos “fundos abutres”. Como Cristina Kirchner não pode participar da cúpula por problemas de saúde, ela enviou para representá-la os ministros de Economia e Relações Exteriores, Axel Kicillof e Héctor Timerman. Ambos expressaram satisfação pelo reconhecimento do G20 a seu problema da dívida.
Para Kicillof, se não for implementado “um instrumento internacional real que permita aos países com problemas com a dívida ter um marco jurídico para resolver essas questões”, eles ficarão “à mercê dos fundos especulativos, dos fundos abutres”.
“Todos os países reconhecem que há um problema de reestruturação da dívida soberana. Haverá diversas visões sobre como enfrentá-la, mas não há nenhum país que diga que este não é um tema do G20″, comentou, por sua vez, o chanceler argentino.
Luta contra ebola e evasão fiscal: temas atuais
Outros assuntos atuais que chamaram atenção foram a luta contra o ebola na África Ocidental e a polêmica da evasão fiscal em Luxemburgo. Para Ban Ki-moon, os líderes do G20 devem intensificar seus esforços e recursos financeiros na luta contra o vírus, alertando sobre as consequências desse surto para a economia e a segurança internacionais.
“O ebola começou como um problema de saúde, por isso a comunidade internacional foi um tanto lenta em sua resposta. Agora, a crise é também econômica e de segurança, e afeta todos os espectros de nossa vida”, afirmou Ban.
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Funcionários de saúde alertam descaso e importância de debater ebola para líderes mundiai
O líder da ONU também pediu maior apoio aos profissionais de saúde na África que, destacou, “não deveriam ser discriminados e colocados em quarentena quando retornam” de suas missões sem apresentar os sintomas da doença. O surto, que atinge principalmente Libéria, Serra Leoa e Guiné, já causou mais de 5 mil mortes.
Além do ebola, também foi debatido o escândalo dos “Luxleaks”, documentos vazados há duas semanas que atestam operações milionárias de evasão fiscal por mais de 300 empresas em Luxemburgo. Como era esperado, o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, comentou a polêmica.
“A evasão de impostos é uma assunto muito importante para todos nós. A evasão, às vezes, passa pela interação de regras fiscais muito divergentes. Isso pode criar uma situação de baixa taxação, o que deve ser evitado”, declarou Juncker em coletiva. “Sou a favor da concorrência fiscal, mas também de uma competitividade fiscal justa”, acrescentou.
Os acordos secretos entre as autoridades de Luxemburgo e as multinacionais aconteceram entre 2002 e 2010, época em que Juncker foi primeiro-ministro do pequeno paraíso fiscal. No entanto, Juncker aproveitou a oportunidade da coletiva para negar seu envolvimento direto nas negociações entre Luxemburgo e as empresas que permitiram que elas reduzissem drasticamente seus impostos.
Antes da cúpula, os ministros da Economia dos países do G20 se encontraram mais cedo para discutir formas de promover o crescimento da economia mundial e gerar postos de trabalho, já que os países-membros do bloco, além de representarem 85% do PIB mundial, também são responsáveis por 80% do comércio global e concentram dois terços da população do planeta.
Efe