Atualizada às 12h48
O Partido Socialista (PS), de centro-esquerda no espectro político de Portugal, saiu vitorioso das eleições legislativas portuguesas realizadas neste domingo (30/01) conquistando maioria no Parlamento e reelegendo o primeiro-ministro António Costa.
Com mais de 99% das urnas apuradas, a sigla conquistou quase 42% dos votos, obtendo 117 das 230 cadeiras da Assembleia. Na última legislação, o partido tinha 108 assentos na Casa.
Com o bom desempenho, o partido não precisará mais fazer coalizão para governar, colocando definitivamente um fim à “geringonça”, nome dado à união entre o PS, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, que começou em 2015 e havia terminado no ano passado após um racha na votação para o Orçamento de 2022.
“Uma maioria absoluta não é o poder absoluto, mas um acréscimo. É uma vitória para a humildade, a confiança e a estabilidade”, disse o atual premiê António Costa aos correligionários após os resultados.
Segundo o primeiro-ministro, “essa maioria só foi possível porque se juntaram ao PS milhares de cidadãos de vários pensamentos políticos que entenderam que era o nosso partido quem poderia garantir as melhores condições de estabilidade”.
Costa declarou que o resultado conquistado pelo PS é um “voto de confiança” dos portugueses, mas também uma “enorme responsabilidade”, prometendo promover o diálogo e os consensos na Assembleia da República. É esperado que o premiê se reúna com os partidos, à exceção da legenda direitista Chega.
“Promoverei reuniões com todas as forças políticas, com a exceção daquela que disse que não faz sentido consumir tempo de diálogo”, afirmou Costa.
Os partidos de esquerda que compunham a “geringonça” perderam assentos após as últimas eleições. Concorrendo pela Coligação Democrática Unitária (CDU), o PCP cai de 12 para 6 parlamentares eleitos. Já o Bloco de Esquerda passa de 19 para 5 assentos ocupados na Assembleia da República.
Na segunda posição, ficou a sigla de direita Partido Social-Democrata (PSD), com 71 assentos. A legenda era apontada como uma das favoritas e as últimas pesquisas eleitorais chegavam a mostrar um empate técnico com o PS – o que ficou bastante longe da realidade, já que o PSD teve apenas 27,8%.
Para o presidente da sigla, Rui Rio, a eleição do PSD ficou “substancialmente” abaixo do esperado. Após os resultados deste domingo, Rio deixou em aberto a permanência na liderança do partido.
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Partido do atual primeiro-ministro, Antonio Costa, obteve 117 das 230 cadeiras do Legislativo
“Se se confirmar que o PS tem uma maioria absoluta, que tem portanto um horizonte de governação de quatro anos, eu sinceramente não estou vendo como posso ser útil neste enquadramento. O partido decidirá”, afirmou.
A extrema direita, entretanto, ganhou força após o pleito deste domingo. O partido ultradireitista Chega obteve 7,15% dos votos e saiu de apenas um parlamentar para 12 cadeiras no Parlamento.
A abstenção dos eleitores também não foi recorde conforme o previsto, com 42% dos portugueses ausentes nas urnas. No último pleito, em 2019, o número havia sido de 51,43%; em 2015, de 44,14%. O índice desse ano ficou no mesmo patamar das disputas de 2011 (41,97%).
Esquerda critica PS e fala em ‘crise artificial’
Após os resultados, a deputada Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, reconheceu o desempenho da legenda como uma “derrota” e garantiu que o partido saberá “conviver” com a votação alcançada.
Segundo Martins, a implosão da “geringonça” no ano passado e a convocação de eleições antecipadas não passou de uma estratégia do PS para tentar alcançar maioria absoluta e dispensar apoio dos partidos de esquerda.
“A estratégia do PS de criar uma crise artificial foi bem sucedida. Nós não rejeitamos o Orçamento por nenhuma tática eleitoral, pelo contrário, sabíamos que corríamos riscos eleitorais e tínhamos convicção profunda de que o Orçamento agravava a situação dos trabalhadores”, disse.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, por sua vez, seguiu a crítica do BE, declarando que o PS “ambicionou uma maioria absoluta” no Parlamento. “O quadro político e a relação de forças são marcados por um resultado eleitoral, que a partir de uma extrema promoção da bipolarização, beneficiou o PS”.
Para Sousa, a legenda de Costa tem as opções de fazer acordos com o PSD, ou “convergir à esquerda, com a CDU, para [dar] resposta aos problemas do país”.
“A CDU reafirma a sua determinação de prosseguir e intensificar a intervenção em defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo, das soluções para os problemas nacionais, da luta por uma alternativa política”, disse o secretário-geral.
(*) Com Ansa.