O novo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, nomeado pela rainha nesta terça-feira (6/5), chegou ao poder vendendo aos britânicos a imagem de “o homem que conseguiu modernizar o Partido Conservador” e transformá-lo em uma alternativa real de governo.
Com seu “conservadorismo compassivo” – distanciado do neoliberalismo feroz de seus antecessores -, apelou ao eleitor de centro que ainda vê com suspeita o partido. Os tories, como são chamados, ficaram na oposição durante 13 anos e chegaram a ser conhecidos como “Nasty Party” (partido safado), graças à desolação social que o país viveu durante os difíceis anos do thatcherismo (1979-1990). Em seu esforço para transformar a legenda, Cameron retirou os militantes mais reacionários. Ele também parece ter neutralizado as diversas correntes internas que se enfrentam em vários assuntos, como a relação com as minorias e a União Europeia.
No entanto, a falta de definição ideológica de Cameron (que compensa com uma eficaz apresentação de políticas pontuais) faz com que ele frequentemente seja acusado de ser superficial – e, não raro, apontado como uma incógnita. Por causa de suas raízes aristocráticas e educação privilegiada, muitos duvidam da sinceridade de algumas de suas iniciativas para se unir com a população mais pobre, como sua já famosa proposta de ser mais compreensivo com os delinquentes, batizada pela imprensa como hug a hoodie (abrace um arruaceiro).
Em época de crise econômica, é difícil para Cameron defender abertamente o capitalismo selvagem e a falta de regulação financeira, antes adotados pelo partido. Mas o novo primeiro-ministro já disse que não abandonará esse setor-chave da população – empresários, executivos, fazendeiros e gente endinheirada em geral – que tradicionalmente apoiou o Partido Conservador.
Uma promessa reiterada nas eleições foi superar a crise e combater o déficit, e a proposta Tory de anular o aumento previsto pelos trabalhistas da cotação para a previdência social recebeu o aplauso dos principais empresários do país.
Otimismo
Cameron define a si mesmo e a suas ideias a partir de sua experiência como “homem de família”. Em um recente artigo no jornal The Daily Telegraph, defendeu sua criação acomodada e revelou que seus pais tinham inculcado nele o “otimismo” e ensinado que “a vida é mais do que apenas fazer dinheiro”. Cameron não foi criado em um ambiente político, mas foi uma viagem à antiga União Soviética em 1985 que o fez “questionar o mundo” e desenvolver valores que ainda conserva, como o de que “o Estado é seu empregado, nunca seu dono”.
De sua correligionária Margaret Thatcher, admira “a força de suas convicções” para enfrentar, entre outros, os sindicatos que, na sua opinião, impediam o avanço do Reino Unido. No entanto, ao contrário da Dama de Ferro – filha de um comerciante e um dos primeiros líderes Tory sem pedigree – Cameron terá de lutar ainda contra sua imagem de playboy afastado da realidade.
Nascido em Londres em 9 de outubro de 1966 em uma família de investidores financeiros com raízes nobres, David Donald William Cameron foi educado nos melhores estabelecimentos do país, entre eles o Eton College (onde a realeza tradicionalmente estuda), e na Universidade de Oxford, na qual formou-se em Filosofia, Política e Economia.
Venenoso
Em seu período na universidade, conheceu o atual prefeito de Londres, o conservador Boris Johnson, no polêmico e exclusivo Bullingdon Club. Seu primeiro trabalho foi em 1988 no Departamento de Pesquisa do Partido Conservador, onde foi promovido até se transformar em parte da equipe do então primeiro-ministro do Reino Unido, John Major.
Em 1996, casou-se com Samantha, também de família aristocrática, com quem teve três filhos – Ivan (morto no ano passado aos 6 anos), Nancy, de 6 anos, e Arthur, de 4 – e espera o quarto. Entre 1994 e 2001, trabalhou como diretor de comunicações para a rede de televisão Carlton, posto onde fez inimizade com vários jornalistas britânicos. Um deles, Ian King, do tablóide The Sun, descreveu Cameron como “um indivíduo venenoso e escorregadio”.
Após concorrer sem sucesso às eleições de 1997, conseguiu sua primeira cadeira parlamentar em 2001 pela circunscrição de Witney – um reduto conservador. Depois, foi elevado em 2005 ao cargo de shadow minister (porta-voz) de Educação da oposição sob a liderança de Michael Howard.
Depois de ser diretor de coordenação política na campanha eleitoral de maio daquele ano, concorreu à liderança o Partido Conservador e venceu. Sua excelente oratória e boa memória e sua imagem de conservador moderado e sensato foram alguns dos fatores que conseguiram dar aos tories a maior bancada e colocá-los na chefia de governo no Reino Unido.
NULL
NULL
NULL