O chefe do Tribunal Supremo do Paquistão, Iftikhar Chaudhry, disse nesta quarta-feira (16/01) que o caso contra o primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, será julgado de qualquer forma. Ashraf recebeu na terça-feira (15/01) uma ordem de prisão por escândalos de corrupção.
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Segundo o jornal local Dawn, Chaudhry acrescentou que, como todos os casos analisados pelo Tribunal, o polêmico caso de contratos de energia ilegais será julgado com base na Constituição e no ordenamento legal. Ashraf é apontado como responsável por aceitar propinas em uma iniciativa para atenuar a escassez energética com usinas alugadas enquanto era ministro de Água e Energia, entre 2008 e 2011.
O máximo representante do Poder Judiciário no Paquistão afirmou que embora há vozes que pedem que o processo seja postergado, o caso seguirá seu curso, aconteça o que acontecer, porque os juízes devem administrar a justiça sem contar com o que ocorre fora do tribunal.
Tensão política
A decisão de ontem caiu como uma bomba nos meios de imprensa e na classe política do país, já que coincidiu com os protestos encaminhados pelo líder religioso populista Muhammad Tahirul Qadri perante dezenas de milhares pessoas na capital Islamabad.
Agência Efe
Milhares de seguidores de Tahirul Qadri em Islamabad dizem que não sairão até o atual governo cair
Os acampamentos e protestos continuam pelo terceiro dia consecutivo, com o ultimato do clérigo de que “o governo tem até hoje à noite para se decidir” e um discurso de três horas com referências religiosas, ataques a políticos governistas e da oposição, e exigências à dissolução do legislativo e à formação de um governo de transição.
Qadri – que voltou mês passado ao Paquistão, após sete anos no Canadá – é vinculado aos magistrados e militares. Como disse ontem, na sua opinião, “existem somente duas instituições no Paquistão que estão funcionando e cumprindo suas funções. Uma é o judiciário e outra são as Forças Armadas, e nada mais”.
O mandato governamental, atualmente do Partido Popular do Paquistão, expira em março, e se prevê que as próximas eleições gerais aconteçam em maio.
E é justamente da combinação entre o mandado de prisão de Ashraf, os protestos de Qadri e as próximas eleições que surgem as maiores discussões. Enquanto a decisão da corte é vista como intervenção divina para seguidores de Qadri, outros temem uma tentativa de golpe militar – em um país cujo partido atual tenta ser o primeiro governo civil a terminar um mandato completo.
Um artigo do Pakistan Observer disse que as atividades políticas “em rápida mudança” fomentaram “incerteza e dúvidas” sobre o futuro do governo atual e as eleições. “Cidadãos normais são forçados a especular que essa série de eventos, fortes e um em cima do outro, não podem ser uma coincidência, e essa suspeita é centrada em uma enraizada conspiração para abortar as eleições”, disse o Daily Times.
Agência Efe
Qadri voltou ao Paquistão há um mês e é alvo de suspeitas de golpe devido às suas ligações com o Exército e Judiciário
Quanto a Qadri estar dentro de um plano de postergar as eleições e prolongar a duração de um governo transitório, o líder disse que não tem interesse em chefiar uma administração interina, porque já é “o zelador da nação e de 180 milhões de pessoas”.
“O que não está óbvio são as possíveis mãos escondidas orquestrando esses movimentos e tocando a situação como teclas de piano. A melodia discordante pode e será exposta com o tempo. Enquanto isso, o conselho a todos os cidadãos: apertem os cintos”, diz o Daily Times.
Caxemira
O acordo de diminuir os conflitos militares na Caxemira foi realizado nesta quarta-feira em uma conversa de 10 minutos entre o diretor de operações militares paquistanês e seu homologo indiano. Inclusive, especialistas preveem um próximo descenso do nível de tensão, principalmente pela crise política que o Paquistão vive.
Agência Efe
A Linha de Controle, que separa as regiões indianas e paquistanesas na Caxemira, foi palco de violências recentes
Uma nova espiral de violência na Caxemira, região de conflito entre os dois países há mais de 60 anos, havia começado há dez dias e até agora tinha resultado em três mortes paquistanesas e duas indianas. A última delas aconteceu na noite de ontem, quando uniformizados da Índia teriam disparado “sem provocação prévia” em um soldado paquistanês perto da Linha de Controle, que separa os dois países desde 2003 .
A Linha se estabeleceu após a assinatura do cessar-fogo vigente na região, que sofreu contínuas violações pelas duas partes – mais de 70 só em 2012 – mas nunca com um resultado mortal tão elevado como o dos últimos enfrentamentos. Nem Nova Déli nem Islamabad assumiram responsabilidade na iniciativa dos ataques recentes.