Um acidente com duas plataformas de petróleo de uma empresa tailandesa provocou um desastre ambiental no Mar do Timor e ameaça causar fome na ilha do Timor, dividida entre a Indonésia e o Timor Leste, cuja população vive da pesca.
Hoje (1º), após dois meses e meio de derramamento contínuo de óleo no oceano, começou um incêndio em cada uma das plataformas, que pertencem à subsidiária australiana da petrolífera tailandesa PTTEP. As causas ainda são desconhecidas.
Não havia ninguém a bordo de ambas as plataformas quando o fogo começou, pois todos os funcionários já haviam sido retirados semanas antes, segundo a agência de notícias australiana AAP.
As plataformas Montara e West Atlas, estacionadas a 250km do litoral da Austrália Ocidental, começaram a vazar no dia 21 de agosto, quando o duto que conduzia o óleo retirado de um poço se rompeu.
De acordo com o jornal The West Australian, uma equipe de especialistas foi deslocada da capital da província, Perth, até o local para controlar o incêndio.
O ministro australiano de Recursos Naturais, Martin Ferguson, anunciou que a agência nacional responsável pela segurança de exploração petrolífera submarina também foi acionada.
Na manhã de domingo (hora local), a PTTEP divulgara que tinha conseguido conter o vazamento, ao bombear areia para dentro do poço aberto.
O trabalho, no entanto, teve de ser interrompido por causa do incêndio.
Cerca de 500 mil litros por dia vinham sendo derramados pelas duas plataformas no Mar do Timor nas últimas dez semanas, criando uma faixa de óleo de 15 quilômetros de extensão e 30 metros de largura na superfície do mar.
Segundo o governo australiano, em apenas cinco dias foram contabilizados milhares de animais mortos, incluindo 462 baleias e golfinhos, 2.801 pássaros e 25 tartarugas.
Pesca ameaçada
As autoridades da cidade de Kaupang, na parte indonésia da ilha do Timor, já alertaram que o desastre ambiental pode gerar também uma catástrofe humanitária, provocando fome na população local se a pesca tiver de ser interrompida por muito tempo.
Segundo o jornal indonésio The Jakarta Post, pescadores em Kupang afirmam que a mancha de óleo está agora a apenas 30 quilômetros da costa.
“Tantos tipos diferentes de peixes já morreram, como pargos e atuns. Havia até golfinhos. O cheiro é insuportável”, contou o pescador Gab Oma ao jornal. “Eu costumo pescar pelo menos 100 pargos em uma noite, mas ontem só consegui pegar quatro.”
Para o ativista Ferdi Tanoni, citado pela agência de notícias indonésia Antara, o acidente pode trazer graves consequências de longo prazo para a economia e a vida na região.
“Estamos muito preocupados com este incidente, que lembra o desastre do petroleiro Exxon-Valdez no Alasca, em março de 1989. Já se passaram 20 anos e o impacto ainda está presente lá. Não é impossível que um dia as pessoas da ilha do Timor, tanto no Timor Leste quanto na parte ocidental [pertencente à Indonésia], nunca mais possam pescar nem consumir produtos do mar”, disse.
A preocupação é a mesma no Timor-Leste, para onde as correntes levam a mancha de óleo.
O petróleo é responsável por 73% do PIB e 95% da receita do Timor-Leste, uma ex-colônia portuguesa que passou 25 anos sob ocupação indonésia e conquistou a independência somente em 2002, após um plebiscito respaldado pela ONU. A maior parte das atividades de extração é conduzida por empresas privadas australianas e ocidentais.
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