Após conhecer o resultado das eleições venezuelanas, divulgado na madrugada desta segunda-feira (07/12), o secretário executivo da MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Torrealba, afirmou que “hoje começou uma mudança na Venezuela. Porque eu mudei, vocês mudaram, a Venezuela mudou”. E pediu tranquilidade ao dizer que a unidade saberá “administrar esse triunfo”.
Torrealba ressaltou que “nunca mais um venezuelano será discriminado por pensar diferente” e, numa clara sinalização para os políticos opositores que estão detidos por tentativas de desestabilização no país e incitação a manifestações violentas, disse que “há esperança real para os que foram perseguidos, presos. Nos comprometemos a devolver a liberdade aos que foram presos, exilados”. Ao que foi acompanhado, em coro, pelos apoiadores com gritos de “liberdade, liberdade”.
Agência Efe
Integrantes da MUD comemoraram resultado na madrugada desta segunda
E, falando diretamente para as Forças Armadas do país, a quem elogiou pelo trabalho realizado nas eleições, disse que a instituição não deve ficar refém de um partido político. Apesar do caráter legislativo da votação, Torrealba deu um tom de poder executivo à sua fala ao ressaltar que o único adjetivo que o Exército deverá ter é glorioso, sugerindo a retirada do termo bolivariano, incluído após a aprovação da Constituição chavista.
Eleições históricas
Ao divulgar o resultado, a presidente do CNE, Tibisay Lucena, classificou como “extraordinária” a participação de 74,25% dos mais de 19 milhões de eleitores aptos a votar no país, onde o voto não é obrigatório.
Esta eleição não se tratou de uma simples disputa pelos 167 assentos — dois a mais do que os que existem na câmara atual. Realizada em meio a uma pesada crise econômica e a quase três anos da morte de Hugo Chávez, as eleições legislativas ganharam um “sabor” de presidenciais, frente à importância que adquiriram tanto para o chavismo ,quanto para a oposição.
Agência Efe
Durante discurso, Maduro ressaltou que é preciso reinventar a revolução bolivariana
Na Venezuela, a queda dos preços do petróleo, que despencaram de 100 para 30 dólares, impactou profundamente as receitas do país. A inflação disparou nos últimos anos e escassez de produtos básicos nas prateleiras dos supermercados é grande, devido à falta de dólares para importações — o país petroleiro importa 70% dos produtos que consome — e à ação do contrabando de itens, os chamados “bachaqueros”.
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Dentre os deputados reeleitos do PSUV estão o atual presidente da AN e vice-presidente do PSUV, Diosdado Cabello, pelo estado de Monagas, além de Darío Vivas e Tania Díaz. A primeira-dama venezuelana e ex-presidente da Assembleia Nacional, Cilia Flores, também foi eleita deputada pelo estado de Cojedes.
Controvérsias
Pouco das 18h em Caracas (19h30 de Brasília), Lucena fez um pronunciamento em rede nacional para anunciar a revogação da credencial dos ex-presidentes convidados pela MUD para acompanhar as eleições no país.
A situação ocorreu após o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga ter classificado como “lamentável” o fato de que o Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, tenha manifestado, em carta enviada ao presidente Nicolás Maduro, “toda a vantagem para o governismo e é triste ver que isso segue ocorrendo no dia da eleição. Nós que seguimos a realidade venezuelana vemos que mudou. Na democracia não pode ser de qualquer jeito, há regras” e concluiu: “uma dessas regras é fechar as filas às 18h se não tiver eleitores na fila”.
Além do episódio, a prorrogação do fechamento dos centros de votação devido a falhas apresentadas em algumas máquinas eleitorais, também gerou críticas no país.
Sistema “misto”
Mais de 19 milhões de eleitores estavam aptos a votar nas eleições legislativas venezuelanas. Foram escolhidos 167 deputados por meio do sistema eleitoral “misto”, com votos nominais e em lista fechada por partidos. No primeiro foram escolhidas 113 cadeiras nas 87 circunscrições eleitorais e no segundo, 87 deputados que são repartidos em cotas que variam entre um e três deputados dependendo do estado e que são divididos de maneira proporcional entre as listas.
Nesta modalidade de votação, cada eleitor pode emitir até quatro votos, dependendo de sua circunscrição. Ou seja, pode votar em até dois candidatos nominais e um voto terá que ser dado necessariamente nos deputados da lista de sua preferência. Nas regiões onde são eleitas lideranças indígenas, os eleitores elegem um candidato a mais.
Com isso, na Venezuela, a maioria dos votos por determinada coalizão não significa um maior número de cadeiras no Congresso. O mandato dos novos deputados começa no dia 5 de janeiro do ano que vem. Para as eleições foram habilitados 14,5 mil centros de votação e 40,6 mil mesas eleitorais em todo o território.