Seu apelido diz tudo. El Bronco é um homem criado com a dureza de uma vida pobre no seio de uma família camponesa de dez filhos. Sua história se fez com golpes profundos. Sua filha de dois anos foi sequestrada em 2009 e seu filho morreu nas mãos do crime em 2010, apenas dez dias antes de tomar posse como prefeito de García, município do estado mexicano de Nuevo Léon. Neste mesmo ano, sofreu um atentado cometido por um comando da perigosa organização criminosa Los Zetas e, um mês depois, foi interceptado por um grupo de mais de 40 criminosos que viajavam em 15 camionetes, protagonizando um embate que deixou um de seus seguranças morto e mais de 2 mil cartuchos de balas espalhados pelo local. Tudo isto como vingança por sua atuação combativa contra o crime organizado enquanto foi prefeito.
“Eu jantei o crime organizado”, diz com voz firme a Opera Mundi, relembrando sua gestão à frente do município de García.
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Jaime Rodríguez Calderón, conhecido como El Bronco, concorre sem partido ao governo do estado mexicano de Nuevo León
El Bronco (“O indomável”, em tradução livre) militou durante 33 anos no PRI (Partido Revolucionário Institucional), o mesmo que o levou à Prefeitura de García. Cansado das “atitudes monárquicas” da legenda, resolveu deixar a agremiação— os políticos ‘priistas’, na opinião de El Bronco, “sentem-se os donos do governo”.
Por isso, Rodríguez Calderón encabeça um movimento de cidadania popular para disputar de forma independente o governo de Nuevo León, no pleito do dia 7 de junho. Pela primeira vez na história recente da política mexicana, eleições estaduais terão um candidato sem partido com chances reais de vitória.
De acordo com a legislação mexicana, para sair candidato independente, é necessário conseguir 103 mil assinaturas — até o início do mês, El Bronco já contava com 215 mil, e tem expectativa de alcançar a marca de 300 mil interessados.
El Bronco enfrentará o próprio PRI na corrida para governar Nuevo León — estado com 5 milhões de habitantes e cuja economia industrializada representa o segundo maior PIB do país. Seu ex-partido terá como postulante Ivonne Álvarez, uma ex-apresentadora de televisão que desfruta de apoio popular.
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Rodríguez Calderón diz querer ser governador para fazer o que os outros não conseguiram: resolver o problema da insegurança e trazer cidadania para o governo. Em um país como o México, no qual o crime organizado penetrou tanto estruturas de governo, quanto policiais, políticos costumam ter medo de comprar brigas contra o crime organizado. El Bronco, porém, em suas caminhadas diárias, permite que apenas um guarda-costas o acompanhe.
Combate ao crime pelo celular
Caso vença o pleito, El Bronco já escolheu quais serão as ferramentas para conquistar os objetivos prometidos: telefone celular e redes sociais. O candidato pretende usá-las como instrumento para fomentar a interação com os cidadãos, incentivando-os a enviar denúncias pela internet.
A favor de El Bronco, está o alto índice de acesso a internet no estado: cerca de 90% da população. “Quando as pessoas têm confiança, elas te dizem onde está o delinquente, quando se conquista a confiança dos cidadãos, não são necessárias câmeras nas ruas, você tem olhos observando as ruas”, afirma.
Seu plano é desarticular a polícia, tal como fez em García, onde dissolveu toda a polícia municipal porque provou que alguns dos agentes estavam vinculados a um dos atentados que sofreu.
Depois da investigação, formou um novo corpo de elite com militares capacitados e comprometidos. Além disso, criou uma guarda municipal que ganhou a confiança da população e ativou a participação dos cidadãos, que por meio do Twitter e do Facebook, denunciavam atos delinquentes.
“Ninguém imaginaria uma cidade sem polícia, mas funciona porque todas as pessoas se tornam policiais. E, a partir disso, você gera uma nova polícia, uma polícia cidadã, vizinha. O crime organizado funciona somente quando a polícia está com ele”, explica Rodríguez Calderón.
Guerra contra os políticos
Outro objetivo primordial de El Bronco é erradicar os políticos de todos os partidos políticos, porque constituem “o câncer maior que o México tem. É o câncer que provoca a delinquência organizada, os males do transporte público e a falta de infraestrutura. São os políticos corruptos, os maus governantes que governaram o país”.
As redes sociais e a denúncia cidadã serão, também nesse caso, suas aliadas. “Não é nada fácil, não é nada simples, mas El Bronco venceu muitas adversidades”, diz, seguro de si, referindo-se a si próprio na terceira pessoa.
Seu terceiro eixo de campanha é a educação. Ele quer levar ensino básico a todas as crianças e jovens como for possível: inclusive, por meio de um sistema de aprendizagem pela internet para os que não possam chegar até a escola devido às grandes distâncias. A educação será sua ferramenta fundamental para acabar com a pobreza.
“A maneira de fazer isso é semear riqueza, não há outra forma. Eu deixei de ser pobre quando a minha mãe me mandou para a escola”, diz El Bronco, que tinha de percorrer 80 quilômetros diários para assistir às aulas quando era jovem.
Seu programa se inspirará em modelos como os da Índia, do Brasil, do Uruguai e do Chile, países que conquistaram importantes avanços em matéria de eliminação da pobreza. “A pobreza não se combate, se extermina. Devemos dar oportunidades aos jovens para que não se envolvam nem com a delinquência nem com a maldade”, afirma, categórico.
Ele considera que hoje, no México, muitos jovens operam dentro de redes criminosas porque a delinquência é o que gera oportunidades de trabalho para a juventude, e não o Estado, como deveria ser. “O delinquente suplantou o governo”, diz.
Além de acabar com a burocracia gerada por um aparato estatal, El Bronco procura liderar um governo austero, para canalizar melhor os recursos. Por exemplo, eliminando os gastos publicitários do governo, como os de assessores.
Para o seu sonho de governar Nuevo León se cumprir, deve aterrissar em uma guerra eleitoral na qual enfrenta a poderosa máquina do PRI, com recursos econômicos que ele não tem. Para levantar a verba necessária, pedirá contribuições aos 120 mil seguidores que possui nas redes sociais. Considera que, se em média cada um der 33,55 dólares, poderá levantar um total de 4 milhões de dólares, o suficiente para ganhar a eleição. Ainda não há pesquisas de opinião sobre as eleições do estado, mas El Bronco estima que começará a corrida com cerca de 15% das intenções de voto — contra 30% do PRI.
Sua campanha também será austera, sem publicidade na televisão, nem propaganda nas ruas, e sem assessores. Mas, o mais importante, e ao que El Bronco vai apelar, é à rejeição dos cidadãos aos políticos e “ao enraivecimento coletivo”, em um momento em que os partidos políticos mexicanos atravessam uma profunda crise de credibilidade, na qual a cidadania não se sente representada por seus governantes e no qual o governo e a classe política perderam drasticamente a credibilidade. O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, conta hoje com um índice de aprovação de 30% e os cidadãos exigem sua renúncia, quando há dois anos ele tinha 60% de respaldo.