O governo da Argentina afirmou nesta quarta-feira (01/03) que pelo menos seis voos militares do Reino Unido foram realizados entre o Brasil e uma base aérea britânica nas ilhas Malvinas (Falklands), território oficialmente britânico reivindicado pela Argentina, em 2016. Segundo a Direção Nacional de Controle de Tráfego Aéreo, os voos da Real Força Aérea do Reino Unido fizeram escala em três aeroportos do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre antes de seguirem à base aérea de Monte Agradable, nas Malvinas, a cerca de 500 quilômetros a leste do litoral sul da Argentina.
O Ministério de Relações Exteriores e Culto informou em um comunicado que “instruiu a embaixada argentina no Brasil a realizar gestões [consultas] perante a chancelaria local a fim de transmitir preocupação por dita situação”. A chancelaria argentina, liderada por Susana Malcorra, também lembrou o “compromisso brasileiro de não receber em seus aeroportos e portos aeronaves ou navios britânicos de guerra estacionados nas ilhas em disputa, de acordo com a posição adoptada pelo Mercosul e Unasul”. Os acordos entre os países integrantes dos dois grupos defendem a desmilitarização e conversão da região do Atlântico sul em uma zona de paz e cooperação.
O Ministério de Relações Exteriores argentino ainda declarou que “a chancelaria brasileira reafirmou o apoio à Argentina na questão das Malvinas e indicou que não tinha conhecimentos desses voos, se comprometendo a desenvolver as consultas pertinentes ao Ministério de Defesa local”. Procurado por Opera Mundi, o Itamaraty declarou que não tem uma posição oficial sobre a questão. A embaixada brasileira em Buenos Aires, por sua vez, afirmou que o caso será investigado, mas que os voos podem ter se tratado de questões humanitárias, emergenciais ou logísticas.
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Bombardeiro nuclear Avro Vulcan, da Força Aérea do Reino Unido, usado pelo país na Guerra das Malvinas em 1982
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Segundo o governo argentino, durante 2015 também houve 12 voos similares detectados pela Força Aérea Argentina passando pelo Brasil. A chancelaria explicou que o embaixador e secretário de Assuntos Relativos às ilhas Malvinas da época, Daniel Filmus, “realizou gestões similares com o embaixador do Brasil na Argentina” e “também foram realizadas gestões por meio da embaixada em Brasília”.
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Alicia Castro, embaixadora argentina no Reino Unido entre 2012 e 2016, afirmou em entrevista ao canal de notícias local C5N que a luta pela soberania das Malvinas “deixou de ser uma causa regional, porque Macri e Temer são agentes de desintegração regional”. A diplomata lamentou a situação, indicando que os voos aumentaram após o acordo assinado em setembro de 2016 entre a chancelaria argentina e o governo do Reino Unido, que estabeleceu a cooperação militar e o interesse britânico na remoção de obstáculos para o crescimento econômico e desenvolvimento sustentável no arquipélago. A reivindicação da soberania argentina sobre as ilhas Malvinas, uma das bandeiras do kirchnerismo, arrefeceu após a chegada de Maurício Macri à presidência do país, em dezembro de 2015.
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Monumento aos mortos na Guerra das Malvinas, no Ushuaia, Argentina: “O povo de Ushuaia a quem com o seu sangue regou as raízes da nossa soberania sobre as Malvinas. Voltaremos!!!”