O ano do centenário da Revolução Russa marca também um momento de turbulência política no Brasil, e as lições para superar a crise nacional podem vir do evento que estabeleceu as raízes da União Soviética, acredita Luiz Bernardo Pericás, professor de História na USP (Universidade de São Paulo). Ele foi um dos participantes de uma mesa de debates sobre os 100 anos da Revolução Russa realizada nesta quarta-feira (07/06) no Salão do Livro Político, na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
“A crise pela qual passa o Brasil torna importante recordar as ideias de Lênin e as ações dos bolcheviques”, afirmou o professor, acompanhado na mesa por Osvaldo Coggiola, também historiador e professor da USP, e Martín Hernandez, escritor argentino e dirigente da Liga Internacional dos Trabalhadores.
Ele também destacou que “durante décadas, a esquerda discute caminhos de desenvolvimento” e que é preciso “repensar os caminhos da mudança no Brasil inspirados na Revolução Russa”.
Pericás também falou sobre o governo de Michel Temer que, para ele, “está agonizando junto com uma parte do Congresso” e promovendo o desmonte do Estado: “O governo atualmente no poder claramente não tem um projeto de nação; pelo contrário, está desmontando o Estado e os direitos dos trabalhadores”.
NULL
NULL
Reprodução / YouTube
O historiador Luis Bernardo Pericás: 'crise pela qual passa o Brasil torna importante recordar as ideias de Lênin e as ações dos bolcheviques'
O professor também criticou setores da sociedade do país, afirmando que “o sonho da elite brasileira é retroceder ainda mais do que a República Velha; vão querer voltar até para a escravidão se puderem”. Para o historiador, “a instabilidade no Brasil e a falta de continuidade de políticas econômicas levam à decadência e à subordinação ao mercado estrangeiro”.
Coggiola pontuou que o século 20 foi criado pela Rússia, mas minimizou o papel da Revolução no desenvolvimento cultural soviético – segundo ele, o país já era vanguarda nesse e em outros aspectos. Ele também trouxe para o debate a análise historiográfica da Revolução de 1917 unindo conceitos trotskistas com o conceito de “longa duração” do intelectual francês, Fernand Braudel. Para ele, a Revolução Russa “penetrou profundamente o fenômeno político e cultural de longa duração”.
Já Hernandez deu exemplos das mudanças profundas que a revolução bolchevique causou na Rússia. Segundo ele, na época, “no metrô de Moscou não se podia conversar, pois todos estavam lendo; isso num país que tinha 78% de analfabetos em 1917”.