O BE (Bloco de Esquerda), partido da base governista em Portugal, denunciou nesta sexta-feira (23/06) que o governo de António Costa lançou no dia 9 de junho um programa de incentivo à plantação de eucaliptos na região devastada pelo incêndio florestal que começou no último sábado (17/06) e deixou 64 mortos até agora no centro do país.
O programa em parceria com a União Europeia prevê o investimento de 9 milhões de euros (cerca de 33,5 milhões de reais) em repasses a proprietários de terras que queiram renovar suas plantações da árvore e estabelece os municípios de Pedrógão Grande – onde surgiu o incêndio no sábado – e arredores como área prioritária. Altamente inflamável, o eucalipto é considerado um dos principais fatores que levaram à rápida disseminação do fogo e contribuíram para a tragédia dos últimos dias.
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O deputado Pedro Soares, do BE, pediu hoje que o programa seja cancelado. “É incompreensível que, quando se criou um consenso no país sobre a necessidade de ordenamento da floresta, sobre a necessidade de controle da plantação de eucalipto, que o governo insista no financiamento exclusivo desta espécie”, afirmou a jornalistas.
“Do nosso ponto de vista é contraditório que haja projetos a serem analisados na Comissão de Agricultura, no processo do pacote florestal, que pretenda o controle dos eucaliptos e, ao mesmo tempo, o Plano de Desenvolvimento Rural 2020 financia em exclusivo, no valor de 9 milhões de euros, a plantação de eucaliptos em áreas de grande risco de incêndio florestal”, disse Soares.
Agência Efe
Bombeiro combate fogo em Pampilhosa da Serra, no centro de Portugal; incêndio que começou no sábado (17/06) deixou 64 mortos até agora
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“Não somos contra apoios à florestação, eles não podem é ser canalizados em exclusivo para o eucalipto”, notou o parlamentar, acrescentando que os programas ambientais do governo “têm de privilegiar, isso sim, as espécies autóctones, com resistência ao fogo, e não ao eucalipto que constitui uma bomba explosiva muito difícil de controlar em caso de incêndio.”
O eucalipto é a árvore mais presente em território português e serve principalmente à indústria de papel, um dos principais setores industriais do país. Com 26% de toda sua área florestal e 8,8% do território total do país cobertos por eucaliptais, Portugal fica apenas atrás de Índia, Brasil, China e Austrália em termos de área total de eucaliptos plantados – e estes quatro países têm entre 32 e 104 vezes a área total do território português.
A região de Pedrógão Grande, onde o incêndio começou e por onde se espalhou, tinha plantações da árvore que foram consumidas rapidamente pelo fogo. Na quarta-feira (21/06), o deputado Pedro Soares já havia afirmado que o BE considera o projeto de Reforma Florestal do governo “insuficiente”. “O projeto do governo não tem forma de controle sobre a plantação do eucalipto e do pinheiro ou sobre as manchas florestais contínuas”, disse o parlamentar. O BE quer a criação de “corredores verdes” constituídos por pinheiros e eucaliptos, mas onde haja a presença obrigatória de espécies como carvalhos e sobreiros, árvores de combustão lenta.