Ao fim do primeiro da eleição legislativa no Egito nesta segunda-feira (28/11) , os cidadãos permaneceram nas ruas, conversando sobre o processo eleitoral. Muitos se concentram na praça Tahrir, epicentro dos protestos que derrubaram o governo. A jornada deveria ter começado às 8 horas locais (4h em Brasília), mas foi atrasada por falta de cédulas e urnas em alguns colégios eleitorais. Alguns juízes supervisores também demoraram para chegar em seus respectivos centros de votação, postergando a abertura de suas respectivas sessões.
Efe
Fila em um colégio de votação no Cairo
A participação da população nesta segunda-feira (28/11) foi maciça, provocando grandes filas nos locais de votação. O trânsito, já turbulento na capital Cairo ficou ainda mais lento. Por fim, a jornada eleitoral acabou sendo prolongada até 21h devido aos atrasos e filas excessivas. Segundo especialistas locais, a participação pode chegar a 80%.
O alto comparecimento não impediu a ocorrência de uma série de irregularidades, algumas testemunhadas pela reportagem de Opera Mundi. Perto dos colégios eleitorais, muitas pessoas distribuíam “santinhos” (material publicitário dos candidatos), enquanto cabos eleitorais organizavam “voluntariamente” o trânsito, ao mesmo tempo que passavam orientações aos eleitores. Ao perceber a aproximação da imprensa, duas jovens que estavam a 50 metros de um colégio eleitoral fazendo boca-de-urna, jogaram no lixo um pacote com panfletos da Irmandade Muçulmana. A forte presença policial não intimidou as violações eleitorais.
O ECHR (Centro Egípcio para Direitos Humanos, na sigla em inglês) afirmou que, apesar da segurança nos locais da votação, “um grande número de filiados do Partido Liberdade e Justiça (braço político da Irmandade Muçulmana) foi visto realizando atividades eleitorais ilegais, incluindo compra direta de voto”. O centro havia recebido 391 queixas até 15h locais (11h em Brasília). A maior parte das queixas é proveniente da capital Cairo, seguida pelas regiões de Assiut, Alexandria, Kafr Sheikh, Fayyoum e Mar Vermelho.
O Partido da Liberdade e da Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, afirmou estar satisfeito com o primeiro dia da corrida eleitoral. “Estas eleições vão determinar a vontade do povo e o caminho que o país tomará depois da transição”.
Sandro Fernandes/Opera Mundi
Manifestantes protestam contra as Forças Armadas na Praça Tahrir
Nas redes sociais, apesar das criticas às irregularidades, nota-se um alto grau orgulho patriótico. Através delas ocorre também uma grande campanha contra as abstenções e o boicote. Durante todo o dia, houve rumores no twitter de que quem não votasse pagaria uma multa de 500 libras egípcias (155 reais), boato que terminou sendo desmentido. Nos colégios eleitorais, apesar da proibição do uso de câmeras, muitos eleitores gravavam, com telefones celulares, a sua primeira vez nas urnas.
Clima de Revolta
Pouco após a reportagem de Opera Mundi, acompanhada por outros jornalistas, passar pelo controle de segurança na entrada da praça Tahrir, um jovem que ouve o a conversa do grupo em inglês aproxima-se de maneira agressiva e grita: “Estas balas são americanas, viu?”, mostrando-me algumas balas que teriam sido utilizadas pelas Forcas Armadas. Um jornalista intervém em árabe, tentando explicar que não há norte-americanos entre eles. Em vão: o jovem segue gritando, cheio de razão e recebendo apoio.
A atitude exemplifica o espírito dos manifestantes que seguem protestando em Tahrir. Todos são contrários às recentes atitudes das Forças Armadas. Após saírem como heróis em fevereiro após a queda do regime de Mubarak, os militares se transformaram no principal alvo das criticas. “Vivemos agora um período de falta de confiança. Acreditávamos que as Forças Armadas nos protegeriam e ajudariam no processo de transição. Mas agora estão atingindo o coração e a nobreza do nosso povo. Isso não tem perdão e estamos cansados”, desabafa um jovem que se identifica como Ahmed.
Já os arredores do Parlamento, localizado a apenas 500m de Tahrir, também presenciam um grande fluxo de pessoas. Entre elas, os debates parecem mais profundos e menos acalorados – menos música e mais discussão. “Tahrir é o ponto de encontro e ponto social da classe mais baixa. Aqui em frente ao Parlamento estão reunidos os mais intelectuais e a classe média”, explica um estudante egípcio que preferiu não se identificar. No Cairo, a mobilização política não escolhe religião ou classe social.
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