Para a Coreia do Sul, esta segunda-feira (29/04) é uma espécie de “data-chave” na política nacional já que, pela primeira vez desde o início da atual gestão presidencial, o chefe de Estado sul-coreano, Yoon Suk Yeol, do partido conservador do Poder Popular, se reúne com seu principal adversário nas últimas eleições de 2022, o deputado Lee Jae Myung, atual líder da oposição pelo Partido Democrata.
Em uma conversa que durou 130 minutos, realizada no escritório presidencial no distrito de Yongsan, em Seul, as autoridades discutiram sobre as pendências do governo.
Segundo a imprensa sul-coreana, os dois entraram em consenso sobre a necessidade de aumentar as admissões na área de saúde em universidades de medicina no país – plano que foi anunciado pela gestão em fevereiro e criticado pelo setor, gerando intensas manifestações em Seul por grevistas que chamaram a iniciativa de Yoon de “equivocada e ineficaz”.
“O deputado Lee disse que a reforma na saúde é uma tarefa urgente, que o rumo político do presidente está certo e que o Partido Democrata cooperará com ele”, afirmou Lee Do Woon, chefe de Relações Públicas do gabinete presidencial.
No entanto, por ser um ponto de discórdia com o setor da saúde, Lee propôs que os partidos do governo e da oposição, juntamente com a comunidade médica, discutam a medida por meio de uma comissão especial na Assembleia Nacional.
O segundo e último ponto acertado entre os dois é a garantia de que continuarão se reunindo, eventualmente.
Já em relação ao restante das pautas, as duas autoridades apresentaram “muitas divergências”.
Lee pediu a Yoon que respeite “a vontade do povo que exige uma mudança na gestão nacional” e aceite o resultado das eleições parlamentares, ocorridas neste mês, que resultaram na derrota da sigla governista.
“Se você tentar subjugar a Assembleia Nacional e a oposição com seu poder executivo, não será fácil governar o país com sucesso”, alertou o deputado.
A tragédia de Itaewon, episódio que repercutiu internacionalmente, no qual ao menos 159 pessoas morreram “esmagadas e sufocadas” durante uma celebração de Halloween no distrito de Itaewon, em outubro de 2022, também foi um dos assuntos destacados pelo líder da oposição. Até o momento, não há informações oficiais fornecidas pelo governo sobre as causas do incidente, embora investigações revelem irregularidades e que a área não suportava a quantidade de pessoas no local.
“Acho que é a maior responsabilidade do Estado descobrir a verdade sobre a tragédia de Itaewon, na qual 159 pessoas morreram sem saber o motivo, responsabilizar os culpados e tomar medidas para evitar que o episódio se repita”, afirmou Lee.
Os escândalos envolvendo a primeira-dama Kim Keon Hee e o recebimento irregular de uma bolsa da grife Dior por meio de um pastor, foi indiretamente abordado pelo deputado, que pediu esclarecimentos sobre “as várias suspeitas dos membros da família” do presidente “que são um grande fardo para a administração nos assuntos de Estado”.
O deputado também pediu ao mandatário para que se comprometa a cumprir uma política social de meios de subsistência para a população, proposta pelo Partido Democrata, que a considera “emergencial”.
Vale ressaltar que o encontro bilateral ocorre após as derrotas de Yoon nas eleições parlamentares de abril, um processo que era considerado crucial para o presidente sul-coreano, que protagoniza as menores taxas de aprovação na história do país, como revelam as últimas pesquisas nacionais. Especialistas locais interpretam a reunião como uma estratégia de Yoon em tentar se aproximar à ala da oposição para poder barrar possíveis pedidos de impeachment, em meio a uma série de escândalos envolvendo o mandatário e sua família.