Milhares de militantes do Partido Socialista Espanhol (PSOE) saíram às ruas da capital Madrid neste sábado (2704) para implorar ao primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que ele permaneça no cargo, após o premiê ter dito, na quarta-feira (25/04) que considerava renunciar em razão da abertura de uma investigação contra a sua esposa.
No poder desde 2018, o chefe de Governo, de 52 anos, surpreendeu os espanhóis na quarta-feira ao cogitar a sua demissão, após o anúncio por um tribunal de Madrid da abertura de uma investigação por tráfico de influência e corrupção direcionada a sua esposa. O procedimento na Justiça espanhola acontece na sequência de denúncia feita por uma associação próxima da extrema direita.
Desde então, Sánchez permanece em silêncio e cancelou todos os seus compromissos, deixando o país em suspense até o anúncio da sua decisão, na próxima segunda-feira (29/04).
Na quinta-feira, o Ministério Público pediu o encerramento da investigação, mas o juiz responsável pelo caso ainda não revelou as suas intenções.
Cerca de 12.500 pessoas, segundo a prefeitura de Madrid, se reuniram ao meio-dia para manifestar apoio ao primeiro-ministro, em frente à sede do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), onde lideranças da legenda se reuniam.
“Pedro, presidente”, “Pedro, não desista”, “A Espanha precisa de você”, lia-se nos cartazes carregados pela multidão.
“Espero que Sánchez diga na segunda-feira que vai ficar”, disse à AFP Sara Domínguez, uma consultora de 30 anos, que considera que o seu governo “tomou medidas muito boas para as mulheres, pessoas LGBT+ e minorias”.
Se ele sair e forem convocadas eleições antecipadas, corre-se o risco de que “a extrema direita governe” em aliança com a direita conservadora e que “isto nos atrapalhe em termos de direitos e liberdades”, observou José María Díez, um funcionário público de 44 anos de Valladolid, no norte do país.
Pedro Sánchez garante que a investigação aberta contra a sua esposa é a mais recente ilustração de uma campanha de desestabilização orquestrada por “uma coligação de interesses de direita e de extrema direita” que “não aceitam o veredito das urnas”.
Após ficar em segundo lugar nas eleições legislativas de 23 de julho, atrás do rival conservador Alberto Núñez Feijóo (Partido Popular, PP), o socialista conseguiu ser reconduzido, em novembro, para um novo mandato de quatro anos, graças ao apoio da esquerda radical, do Partido Basco e de partidos regionalistas.
Reunidos na sede do PSOE, os dirigentes do partido vieram cumprimentar a multidão e apelaram, também, ao primeiro-ministro para que ele não deixe o governo. Os ministros mais próximos de Pedro Sánchez garantem que ele não os consultou antes de avaliar a sua demissão.
“Pedro, fique, estamos com você, devemos avançar, devemos continuar a fazer avançar este país. A Espanha não pode retroceder”, declarou a número dois do governo, a ministra do Orçamento, María Jesus Montero.
De acordo com a imprensa espanhola, a investigação contra a esposa de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, diz respeito a ligações que ela estabeleceu com o grupo Globalia, patrocinador da fundação em que trabalhava quando a Air Europa, companhia aérea pertencente à Globalia, negociou com o governo Sánchez para obter ajuda pública.
Cenários possíveis
Até o momento, ninguém na Espanha se atreve a prever a decisão que o primeiro-ministro poderá tomar. Se decidir permanecer no cargo, Sánchez poderá optar por se submeter a um voto de confiança do Parlamento, a fim de mostrar à oposição que conta com o apoio da maioria dos deputados.
Caso ele renuncie, poderão ser convocadas eleições legislativas antecipadas neste verão espanhol, com ou sem Sánchez à frente do PSOE.
A oposição de direita está convencida de que o socialista não vai renunciar e denuncia uma estratégia de “vitimização” e de “espetáculo”. O anúncio do primeiro-ministro é “tático e eleitoral”, afirmou, neste sábado, o secretário-geral do PP, Cuca Gamarra, que considera que Sánchez pensa em “obter apoios dos quais hoje não se beneficia ao se vitimizar”.