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ONG Invisible Children propôs em filme uma caçada ao líder do Exército de Resistência do Senhor, Joseph Kony
Os realizadores do filme KONY2012 forneceram informações ao governo de Uganda sobre oponentes do regime, segundo informação vazada pelo site Wikileaks. Com isso, muitos dos opositores foram presos, de acordo com despacho enviado pela embaixada norte-americana em Kampala.
A ONG Invisible Children, sediada em San Diego, atuou em conjunto com o governo ugandense desde 2008 em campanhas midiáticas para promover ações militares contra o ERS (Exército de Resistência do Senhor), liderado por Joseph Kony. O grupo também manteve informados o governo dos Estados Unidos e outras instituições lobistas sobre a guerra civil no país africano.
Segundo documento enviado em 2009, a Invisible Children forneceu a localização de Patrick Komekech, acusado de se passar por líder do ERS para extorquir dinheiro de oficiais e ONGs. Outro despacho, de 2007, relata um encontro do embaixador dos EUA em Uganda, Steven Browning, com Ben Keesey, CEO da Invisible Children.
Graças às informações fornecidas pela ONG, Komenech e outros 10 líderes do LRA foram presos e acabariam sendo executados pelo governo do presidente Yoweri Museveni sob a acusação de traição. Segundo o documento, Komenech estaria criando uma milícia para enfrentar Kony e também o governo central. Especialistas em Direito dizem que a Invisible Children pode ser responsabilizada pelas pessoas presas por conta da divulgação indevida de informações.
De acordo com o material diplomático, a reunião serviu para informar o governo dos EUA sobre as atividades da Invisible Children e relatar as condições políticas no norte de Uganda. Tanto o governo norte-americano quanto os dirigentes da ONG negam ter auxiliado o governo do país africano a perseguir seus opositores.
Estratégias
A estratégia da ONG Invisible Children incluía o apoio à ações militares contra o ERS. Segundo os críticos da Invisible Children, as ações de mídia culminaram com o lançamento do documentário KONY 2012 e da sequência Beyond Kony.
Uma dessas ações foi a operação “Lightning Thunder” (Raio e Trovão, em português), na qual Uganda, RDC (República Democrática do Congo) e forças do Sudão do Sul atacaram os rebeldes liderados por Kony. O estopim da “Lightning Thunder” foi a demora de Kony em aceitar um acordo com o governo de Museveni.
Reprodução
A ação foi um desastre militar: matou mais civis do que soldados do ERS e forçou a fuga das tropas de Kony para a República Centro-Africana. Segundo o vazamento do Wikileaks, as ações de mídia da Invisible Children serviriam para neutralizar a imagem negativa do governo de Musevini por conta das tentativas frustradas em enquadrar o LRA.
A operação contou com apoio logístico e da inteligência militar norte-americana, e recebeu um milhão de dólares dos cofres da administração Bush. Em outubro de 2011, o presidente Barack Obama assinaria documento autorizando ações oficiais do governo norte-americano em solo ugandense. O documento ficou conhecido como LRA Disarmament Bill.
Desconfiança
Com a ajuda da Invisible Children, o governo de Uganda forneceria informações sobre os opositores ao governo de Laurent Kabila, então presidente da RDC, segundo o despacho enviado pelo embaixador dos EUA em 25 de fevereiro de 2009. Segundo o acordo entre Uganda e RDC, a “Lightning Thunder” se estenderia indefinidamente e seria revista a cada três meses.
Kabila não estava seguro das ações do exército ugandense dentro do território congolês e em 2005, a Corte Internacional de Justiça considerou o governo de Uganda culpado de crimes de guerra: massacres, estupros em massa e pilhagem entre 1997 e 2003. Uganda foi condenada a indenizar a RDC em 10 bilhões de dólares.
Por anos, o governo de Uganda tem lutado contra o exército liderado por Joseph Kony. O ugandense é acusado de raptar mais de 60 mil crianças e forçá-las a lutar em sua milícia. O documentário KONY2012 foi visto por mais de 100 milhões de pessoas.
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