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No domingo em que será disputado o primeiro turno da eleição presidencial francesa, um fantasma ainda provoca confusão e assusta os coordenadores de campanha dos principais candidatos. Os institutos de pesquisa apontam que esta disputa poderá registrar um nível recorde de abstenção na história da 5ª República. Até um terço dos 42 milhões de eleitores inscritos pode preferir ficar em casa ou viajar a exercer seu direito ao voto que, na França, é facultativo.
Segundo a LH2, em levantamento realizado entre os dias 17 e 18, o nível de abstenção pode chegar a 28%, confirmando sondagem da TNS Sofres na semana anterior, que calculava a margem em 27%. A Ipsos registrou o número mais otimista: 17%, entre os dias 18 e 19. No mesmo período, a Ifop calculava 25% (três pontos a menos do que o medido sete dias antes).Entretanto, muitos institutos evitam colocar esse fenômeno nas listas de perguntas de suas pesquisas, devido à alta possibilidade de margem de erro.
Em entrevistas, os diretores de institutos de pesquisas acreditam que ela deve se situar acima de 22% e, na pior das hipóteses ultrapassar os 30%. Mas também advertem que, a medida em que o dia de votação se aproxima, o eleitor francês se mobiliza e a taxa de abstenção tende a diminuir.
Caso a alta abstenção se confirme, ela pode não apenas influenciar significativamente no resultado, como ocorreu em 2002, mas também evidenciar o descontentamento da população com a classe política. Uma evidência disso é que o percentual de abstenção pode ficar à frente dos dois candidatos favoritos a alcançarem o segundo turno: o atual presidente Nicolas Sarkozy (da União Por um Movimento Popular) e François Hollande (Partido Socialista) que, segundo os últimos levantamentos, estão tecnicamente empatados e atingem entre 25% a 28% das preferências.
Alertados pela possibilidade de um nível alto de abstenção, os candidatos repetem para seus eleitores durante os comícios e entrevistas a importância do comparecimento às urnas.
Nos últimos trinta anos, esse fenômeno tem representado uma proporção crescente no eleitorado. A exceção é a eleição presidencial, quando ocorre uma forte mobilização também por parte da opinião pública para incentivar as pessoas ao voto. No entanto, nos pleitos minoritários, os últimos cinco anos tem batido recordes sucessivos. Em 2007, foram 39,6% de ausentes no primeiro turno das legislativas; em 2008, 35,5% nas municipais; em 2009, 59,4%, nas européias; no ano seguinte, 53,6% nas regionais; por fim, em 2011, 56% nas departamentais.
Para Frédéric Dabi, diretor-geral adjunto do instituto Ifop, o índice de abstenção deverá ficar situado entre o atingido em 1995 (21,6%) e o de 2002 (28,4%). Entretanto, não prejudicará um candidato em especial. Essa expectativa é próxima à calculada por Sabrine Brun, diretora delegada do instituto LH2: entre 20% e 30%.
“Quando esse índice é alto, ele penaliza todos os partidos igualmente. Existe um raciocínio comumente aceito é que, quanto mais velho o eleitor, mais ele fica integrado à sociedade. Assim, vota com mais frequência. Tradicionalmente, esse dado tende a favorecer a direita, que possui mais eleitores nessa faixa etária. Mas isso se provou errado nas eleições regionais de 2010. A abstenção foi alta, muitos jovens e operários não compareceram. E a direita sofreu uma derrota histórica. Além disso, François Hollande tem uma alta aceitação entre os eleitores mais velhos”, disse Dabi em entrevista à rede TF1.
Outro aspecto tradicional relacionado ao fenômeno da abstenção na França é que ela sempre é mais forte no primeiro turno do que no segundo. A exceção foi 1969, quando não houve candidato de esquerda no segundo turno e o Partido Comunista Francês não recomendou voto a ninguém.
Patrick Bouisson, conselheiro especial da campanha de Sarkozy, acredita que essa “regra” poderá favorecer o atual presidente no segundo, já que muitos de seus potenciais eleitores se prestariam a comparecer às urnas para evitar uma derrota socialista. Nas pesquisas, Hollande venceria o segundo turno com, no mínimo, oito pontos de vantagem.
“O objetivo mais claro é eleger o presidente, é uma lógica de adesão ou emancipação. Isso explica a participação tradicionalmente maior no segundo turno. Mas é muito difícil prever quanto será essa taxa de abstenção, tudo depende da relação de forças eleitorais levantadas no primeiro. Se, por exemplo, Sarkozy fica à frente no primeiro por um ponto, isso pode até mesmo causar um movimento de desmobilização no eleitorado de direita, por considerar a disputa perdida. E o contrário ocorreria se ele ficar à frente por 4 ou 6 pontos. E considero um pouco ingênuo cravar que os eleitores (do centrista François) Bayrou e de Marine Le Pen (da extrema-direita) se manifestem em torno de uma única candidatura – a de Sarkozy”, afirma Dabi.
Efeitos do passado
As duas ocasiões em que a abstenção superou os 22% na França foram também as únicas vezes em que a centro-esquerda não atingiu o segundo turno. Em 1969, George Pompidou (direita) teve com adversário o centrista Alain Poher. A abstenção foi de 22,41%. O segundo foi ainda pior: 31,15% – um recorde.
Em 2002, a abstenção foi de 28,40%. Muitos eleitores pró-socialistas se abstiveram, resultado do desgaste de um governo de co-habitação entre o então premiê Lionel Jospin (PS) e o presidente Jacques Chirac, de direita – ambos candidatos. Somado ao fato da dissolução do voto para outras seis candidaturas mais situadas à esquerda, esse fenômeno fez com que Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, d extrema-direita surpreendesse o mundo e ultrapassasse Jospin por menos de 200 mil votos (16,8% contra 16,1%), que tinha boas chances de derrotar Jacques Chirac no segundo turno.
O episódio chocou e mobilizou o país que, nas duas semanas de vacância entre os dois turnos, realizou diversas manifestações em repúdio às ideias xenófobas do candidato e pregando um maior engajamento da população.
Chirac acabou reeleito com 82% contra 17% de Le Pen, e a abstenção no segundo turno foi de 20,3%. Em 2007, o primeiro turno registrou o menor índice de abstenção no primeiro turno em trinta anos: 16,2%.
Perfil
De acordo com pesquisa do Ifop, realizado entre os dias 12 e 13 deste mês e publicada no Journal du Dimanche, os simpatizantes do PS são os mais suscetíveis a se mobilizar (79%), seguidos de muito perto pelos da UMP (77%), assim com os da extrema-esquerda (72% para os militantes da Luta Operária, de Nathalie Artaud e do Novo Partido Anticapitalista, representado por Philipe Poutou).
Em seguida, vem os centristas do MoDem (67%), a extrma-direita com a Frente Nacional (64%), os verdes (63%) e, por fim, a Frente de Esquerda, de Jean-Luc Mélenchon (62%).
Entre os diferentes níveis sociais pesquisados, os operários se declararam os menos incentivados a comparecer (62%), ao contrário dos aposentados (81%). As mulheres (75%) parecem mais dispostas a votar do que os homens (66%), assim como as pessoas na faixa etária acima de 65 anos (80%) muito mais do que os jovens entre 18 e 24 (56%).
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