Graças à 21ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, foi abolida em 5 de dezembro de 1933 a chamada Lei Seca. Em vigor desde 16 de janeiro de 1920 por força da Emenda nº 18, ela estabelecia a proibição da produção, venda, transporte, importação e exportação de bebidas alcoólicas. Pouco depois inclusive a venda em bares e restaurantes foi banida.
Vigente durante treze anos, a emenda se tornou um enorme fracasso legislativo. Em vez de acabar com os problemas sociais atribuídos à bebida, a Lei Seca só os estimulou. A medida desmoralizou as autoridades e se tornou um incentivo à corrupção. Cidades como Chicago e Nova York viram a criminalidade explodir, enquanto a máfia enriquecia com o contrabando de álcool.
Em todo o país, movimentos contra o consumo de bebidas vinham surgindo desde o século 19. A campanha ganhou escala nacional resultando na aprovação da 18ª Emenda. Meses depois se aprovou o Ato de Proibição Nacional, também chamado de Ato de Volstead, uma homenagem a Andrew Volstead, deputado que liderou a iniciativa. Era considerada “intoxicante” qualquer bebida que tivesse mais de 0,5% de álcool (as cervejas mais fracas têm cerca de 2%).
Razões
Por que essa poderosa nação deu tanta importância aos malefícios da bebida? A resposta parece residir no protestantismo, fé predominante nos EUA e que fez emergir a ideia do “Destino Manifesto”: os americanos seriam o povo eleito por Deus para guiar o mundo.
Para manter a nação no caminho certo, a sobriedade deveria ser estabelecida por decreto. A eclosão da Primeira Guerra Mundial colocou, no entanto, o argumento decisivo na boca dos inimigos do álcool. Segundo eles, cereais, levedo, malte e açúcar, alimentos básicos, não poderiam ser desperdiçados na fabricação de bebidas alcóolicas em tempos de guerra. Cerveja e vinho seriam, além disso, produtos típicos da Alemanha inimiga. Seu consumo, portanto, um ato pouco patriótico.
Máfia
Apesar de ter o apoio de muitos setores da sociedade, a Lei Seca foi ignorada por milhões de norte-americanos. Não importava a classe social: quem quisesse beber dava um jeito. Muitos iam para o Canadá e voltavam com caminhonetes e lanchas cheias de bebida. Outros faziam no quintal o próprio uísque. Havia ainda quem se passasse por padre ou médico para obter litros de vinho sacramental ou de destilados medicinais.
Wickicommons
Apreensão de bebida em Elk Lake, Ontario, Canadá
Logo essa demanda começaria a ser atendida de forma organizada. Eram os gângsteres da máfia italiana ou da máfia irlandesa. Antes da Lei Seca, esses mafiosos viviam do jogo e da prostituição. Passaram então a dominar também os milionários negócios com bebidas, corrompendo policiais, elegendo políticos e matando seus concorrentes.
Em Nova York, o principal mafioso era o siciliano Joseph Bonanno, apontado como o inspirador de O Poderoso Chefão, baseado no livro de Mario Puzo e que se tornou um clássico do cinema. Já Dean O'Banion inundava o norte de Chicago com cerveja e uísque vindos do Canadá, enquanto Johnny Torrio contratava policiais para proteger seus interesses no sul da cidade.
Mas nenhum gângster foi tão lendário quanto Alphonse Capone. Filho de napolitanos, ele nasceu em 1899, em Nova York. Conheceu Johnny Torrio aos 14 anos e, com a Lei Seca, passou a auxiliá-lo no contrabando de bebidas em Chicago.
Quando o rival O'Banion resolveu enfrentá-los, foi morto em sua floricultura. Em 1925, Torrio se aposentou, deixando Chicago inteira para “Al” Capone, que expandiu seu ‘império’ para cidades como Saint Louis e Detroit.
Em 1931, graças às investigações conduzidas pelo agente fiscal Eliot Ness, líder dos “Intocáveis”, grupo de agentes que combatia a máfia. Capone passou cinco anos na penitenciária de Alcatraz, na Califórnia.
NULL
NULL
NULL